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OS CAMINHOS DA RECESSÃO

Luis Nassif  mostra "os caminhos da recessão". "A recessão tornou-se global. Na verdade, o que houve esta semana foi apenas a comprovação estatística do que já se sabia. Os dados mostraram o segundo trimestre do chamado “crescimento negativo” (eufemismo para queda) da economia japonesa, alemã, britânica, americana". Leia a íntegra da análise aqui.

OS CAMINHOS DA RECESSÃO

Os caminhos da recessão

por Luis Nassif

A recessão tornou-se global. Na verdade, o que houve esta semana foi apenas a comprovação estatística do que já se sabia. Os dados mostraram o segundo trimestre do chamado “crescimento negativo” (eufemismo para queda) da economia japonesa, alemã, britânica, americana.

A maneira como a recessão se transmite para outras economias é através de dois canais. O primeiro, o canal do comércio. Uma grande economia entra em recessão. Cai o consumo interno e, com ele, as importações – isto é, as vendas de outros países.

O segundo canal é o do crédito. Com menos dinheiro disponível, são afetados o financiamento das exportações e também o crédito interno das economias mais abertas.

No caso brasileiro, a economia será afetada da seguinte maneira:

1. Com menos crédito, haverá menos consumo. Menos consumo resultará em menor produção. Menor produção levará a menor emprego. Menor emprego a menor consumo.

2. Parte da queda de consumo interno será compensada pela desvalorização do real. As importações ficarão mais caras e haverá alguma substituição por produção interna. Ou seja, a queda das importações deverá ser maior do que a queda do consumo, amenizando um pouco a queda da produção interna.

3. Do lado das exportações, a desvalorização cambial aumentará a competitividade das exportações brasileiras. Mas haverá uma redução substancial na renda agrícola – por conta da redução das cotações e do consumo internacionais; e pelos efeitos da interrupção do crédito. E levará algum tempo para que haja uma reação das exportações de manufaturados, justamente pela crise mundial e pelo tempo que leva para recuperar mercados perdidos no período de apreciação do real.

Na outra ponta, as forças anti-cíclicas (anti-recessão) se concentrarão nos seguintes pontos:

1. Manutenção dos gastos públicos, tanto nos investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) quanto na política de transferências – Bolsa Família e Previdência Social. O setor privado investe e produz quando há garantia de mercado. O PAC garante investimentos em equipamentos e as políticas sociais consumo de bens não-duráveis.

2. Tentativa de recomposição de parte do crédito que evaporou.

Em cima desses pontos, há questões macro-econômicas relevantes, a serem tratadas. A principal delas é a volta dos déficits no balanço de pagamentos.

As transações correntes (tudo o que entra e sai em dólares fora do mercado financeiro) eram positivas. Ficaram gradativamente negativas, mas o rombo era compensado pelas expectativas de entrada de investimentos externos.

Agora, as projeções do mercado (através da pesquisa Focus) indicam gradativamente um aumento no déficit do balanço de pagamentos. Ou seja, o déficit nas transações correntes não serão compensados pelos investimentos externos.

Esse ponto explica, em parte, as pressões sobre o dólar, mesmo depois que as empresas que tinham especulado com derivativos deixaram de pressionar o mercado. Ainda não se sabe o resultado final na balança. Há condições objetivas da crise brasileira ser menor que a dos países centrais.