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LUIZ HAJ MUSSI, POR CARLOS MOLINA E FÁBIO CAMPANA

O Boca Maldita selecionou dois registros essenciais para trazer a público um pouco do que representou para a história paranaense e brasileira Luiz Felipe Haj Mussi, um dos grandes da resistência aos anos de chumbo da Ditadura Militar, que partiu vítima de um infarte na noite de segunda-feira (21). Leia depoimentos, respectivamente, do professor Carlos Molina e do jornalista Fábio Campana, parceiros de festas e de lutas de Mussi.

"MUSSI PRESENTE! – Conheci o Luiz Felipe Haj Mussi em 1.981, ainda quando estavamos em plena ditadura e compartilhavamos o mesmo ideal na luta de resistência democrática.

Com José Richa ganhando a eleição para o governo tivemos nele enquanto secretário de Estado um importante aliado do Movimento Social Comunitário, pois sempre viu a luta pelo direito a moradia e outros não como um caso de polícia e sim o direito sagrado do povo.

Nunca irei esquecer de que quando estávamos em greve de fome pela libertação do Juvêncio Mazzarolo, que era o último preso político da ditadura, quando o coronel da PM recebendo ordens diretas da Quinta Região Militar, a quem a PM como Força Auxiliar do Exército estava subordinada, quis nos retirar a força do coreto da Boca Maldita, que era o local onde ocorria o protesto, e indo ao local o Mussi enfrentou o mesmo dizendo em alto e bom som:

"Haj Mussi – Os melhores de minha geração estão desaparecendo muito cedo. Agora se foi o Mussi. Luiz Felipe Haj Mussi. Apenas 64 anos e tanto conhecimento, tanta sabedoria, tanto ainda por fazer. Na terça ele se mostrava indignado, pronto para entrar com uma ação contra a indicação do advogado José Antonio Dias Toffolli para o STF, o escolhido pelo presidente Lula.

O indicado de Lula é dotado de “notável saber jurídico”? Toffolli exibe “reputação ilibada”? Perguntava o Mussi com a mesma combatividade de 45 anos atrás, quando saíamos às ruas para protestar contra o regime fardado. Foi naquele tempo que eu conheci o Mussi. Estudava Direito. Militávamos no movimento estudantil e tínhamos absoluta convicção de que a ditadura iria ruir pela força de nossos gritos, tão rápido quanto derrubamos o busto do reitor e o arrastamos pelas ruas.

Clique em LEIA MAIS para acessar a íntegra dos registros publicados originalmente no espaço para comentários do blog e no site do jornalista.

LUIZ HAJ MUSSI, POR CARLOS MOLINA E FÁBIO CAMPANA

LUIZ HAJ MUSSI, POR CARLOS MOLINA E FÁBIO CAMPANA

O Boca Maldita selecionou dois registros essenciais para trazer a público um pouco do que representou para a história paranaense e brasileira Luiz Felipe Haj Mussi, um dos grandes da resistência aos anos de chumbo da Ditadura Militar, que partiu vítima de um infarte na noite de segunda-feira (21). Leia depoimentos do professor Carlos Molina e do jornalista Fábio Campana, parceiro e festas e lutas de Mussi.

Os registros foram publicados originalmente no espaço para comentários do blog e no site do jornalista:

"MUSSI PRESENTE!

Conheci o Luiz Felipe Haj Mussi em 1.981, ainda quando estavamos em plena ditadura e compartilhavamos o mesmo ideal na luta de resistência democrática.

Com José Richa ganhando a eleição para o governo tivemos nele enquanto secretário de Estado um importante aliado do Movimento Social Comunitário, pois sempre viu a luta pelo direito a moradia e outros não como um caso de polícia e sim o direito sagrado do povo.

Nunca irei esquecer de que quando estávamos em greve de fome pela libertação do Juvêncio Mazzarolo, que era o último preso político da ditadura, quando o coronel da PM recebendo ordens diretas da Quinta Região Militar, a quem a PM como Força Auxiliar do Exército estava subordinada, quis nos retirar a força do coreto da Boca Maldita, que era o local onde ocorria o protesto, e indo ao local o Mussi enfrentou o mesmo dizendo em alto e bom som:

“Seu filho de uma puta se relar as mãos nos meninos e meninas você poderá até cumprir as ordens do Exército, mas irá ser compulsoriamente reformado, pois quem comanda a Segurança Pública no Estado sou eu!”

O coronel afinou!

Este era o democrático, honesto, sério, competente e destemido companheiro Mussi!

Em 86 participei de sua propositiva e honesta campanha para deputado, que, embora fosse anteriormente secretário da Segurança, por falta de recursos financeiros não foi bem sucedida. Demos um grande voto, mas o Paraná e o Brasil perderam a chance de ter um excepcional deputado.

As nossas vidas trilharam caminhos diferentes, mas todas as vezes em que casualmente nos encontrávamos me vinha boas as lembranças de um passado de luta e dele recebia um cumprimento afetuoso.

A última vez em que vi o Mussi foi no debate ocorrido no pátio da Reitoria da UFPR sobre a participação política da “geração 68, onde ao lado do Zequinha, do Vitório, entre outros, ele também deu o seu brilhante testemunho sobre a resistência democrática ao período de arbítrio ditatorial.

Como nada é eterno se vai o amigo, mas ficam as boas lembranças imortalizando a história de vida de quem foi um homem justo!

Meus mais profundos sentimentos!" (Carlos Molina)

"Haj Mussi

Os melhores de minha geração estão desaparecendo muito cedo. Agora se foi o Mussi. Luiz Felipe Haj Mussi. Apenas 64 anos e tanto conhecimento, tanta sabedoria, tanto ainda por fazer.

Na terça ele se mostrava indignado, pronto para entrar com uma ação contra a indicação do advogado José Antonio Dias Toffolli para o STF, o escolhido pelo presidente Lula.

O indicado de Lula é dotado de “notável saber jurídico”? Toffolli exibe “reputação ilibada”? Perguntava o Mussi com a mesma combatividade de 45 anos atrás, quando saíamos às ruas para protestar contra o regime fardado.

Foi naquele tempo que eu conheci o Mussi. Estudava Direito. Militávamos no movimento estudantil e tínhamos absoluta convicção de que a ditadura iria ruir pela força de nossos gritos, tão rápido quanto derrubamos o busto do reitor e o arrastamos pelas ruas.

Tudo estava impregnado de história. Existíamos para mudar o mundo. Fazíamos teatro para ampliar a consciência social sobre as mazelas que a falta de liberdade provoca. Eu, Mussi, João Elias e Alfredo Garcindo no palco, dirigidos por Walmor Marcelino, o paciente Marcelino a tentar nos transformar em atores brechtianos em infindáveis ensaios nos porões da Igreja de São Francisco de Paula.

Quando fui preso e levado para a ilha das Flores, no Rio, quem me achou foi o Mussi, desde então meu advogado e protetor. Arrancou-me daquele inferno. Devo-lhe, talvez, a vida.

A redemocratização tardou, mas veio. No Paraná, as oposições elegeram José Richa e o Haj Mussi, jovem, foi dirigir a Secretaria de Segurança Pública, até então dominada pelos milicos e pelo espírito do regime de exceção. Deu duro. Enquadrou coronéis, proibiu que andassem armados, exigiu respeito à população.

No governo seguinte, do Alvaro Dias, foi secretário Especial da Reforma Agrária por menos de cinco meses. Não era ouvido e o governo tinha um secretário de Agricultura, Osmar Dias, que dominava o setor e não admitia contestações, ancorado no irmão governador.

Mussi não tinha apego aos cargos. Saiu, foi advogar, passou pela Petrobras, acabou desembargador federal do Trabalho, novamente advogado e sempre na liça. Pronto para encarar o debate, para denunciar a falcatrua. Esse espírito o levou a presidência do Conselho Nacional de Ética do PPS.

Dia desses escreveu um belíssimo texto contra o nepotismo que pode ser lido no site do partido. E preparava a ação para expor as limitações do futuro ministro do STF, o Toffolli, que de saber jurídico ou passado ilibado não chegaria aos pés do Haj Mussi. O bravo Mussi. (Fábio Campana)