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Zeca Dirceu diz que o pai vai dar a volta por cima após condenado pelo mensalão

por Adriana Mendes, da Agência O Globo, via Yahoo Notícias

O deputado Zeca Dirceu (PT-PR), filho mais velho do ex-ministro José Dirceu, afirma que o pai vai “dar a volta por cima”, apesar da expectativa de prisão pela condenação por formação de quadrilha e corrupção ativa. Embora tenha provocado baixas na cúpula petista, o deputado avalia que o julgamento do mensalão não será um divisor de águas dentro do partido, e cita que o PT recebeu 17 milhões de votos no primeiro turno das eleições municipais deste ano.

– Vamos ter vergonha de quê? – diz.
Deputado federal de primeiro mandato e ex-prefeito de Cruzeiro do Oeste ( 2005-2010), no Paraná, Zeca Dirceu tem o pai como inspiração. O Judiciário, segundo ele, sofreu influência da mídia, que criou um “clamor pela condenação” dos réus. O parlamentar reclama também que houve “dois pesos e duas medidas”. Em entrevista ao GLOBO, critica o julgamento em período eleitoral. Diz que nas grandes cidades, no segundo turno, quem exagerou na dose usando o mensalão como tema para ataques viu que “o tiro saiu pela culatra”. Ele também nega que tenha sido barrado na campanha de aliados em Curitiba. Lá, Ratinho Jr. (PSC) passou a acusar Gustavo Fruet (PDT) de se “aliar aos mensaleiros”

Leia a íntegra da entrevista:

Qual é a sua posição quanto ao resultado do julgamento do mensalão?
ZECA DIRCEU – Primeiro, eu conheço meu pai como ninguém. E conheço como pai e também como liderança política. Acompanhei a vida política dele, muitas vezes em momentos íntimos, em reuniões desde que eu tinha cinco, seis anos. Eu tenho total convencimento da inocência dele e que foi feita com ele uma grande injustiça. Ele foi julgado muito mais pelo que ele representava, pelo que ele representa até hoje. Eu me sinto hoje talvez como a minha avó se sentiu há 30 anos atrás quando meu pai foi preso, foi torturado e foi expulso do país pela ditadura militar. É difícil de entender, mas eu tenho, talvez, a mesma certeza que ela tinha lá atrás, que no futuro isso seria resolvido, isso seria novamente reorganizado de maneira justa e que ele vai dar a volta por cima, não tenho dúvida nenhuma disso.

Como é a relação do Zeca deputado e o Zé Dirceu pai ?
Primeiro, uma relação de pai e filho. Eu amo muito meu pai. E ele sempre me deixou muito à vontade, eu tenho a política no meu sangue. Cresci, vivi dentro do PT, dentro da política desde que eu nasci. Até por ele ter ido para São Paulo, ele ter feito questão de estar comigo permanentemente. A minha mãe faz relatos, foi ela quem conviveu mais comigo, de que eu com seis, sete anos – ela tem uma indústria de confecção – eu já pegava um cone de linha, subia numa mesa de corte, as costureiras enfileiradas em máquinas e fazia discursos imitando políticos daquela época. Então, é uma coisa de sangue. Ele não é uma pessoa que fica constantemente me orientando, me sugerindo. Agora, sempre que eu precisei dele, sempre que pedi a ele, ele me apoiou. Nós tivemos vários momentos de posições bem distintas de opções, inclusive dentro do PT. Ele nunca procurou me moldar.

Que momentos, por exemplo?
– Teve uma eleição no Paraná, interna do PT, que ele apoiou um candidato e eu apoiei outro. Naquela época era o André Vargas e o Padre Roque. Depois, conhecendo o Padre Roque como eu conheci, eu vi que ele estava certo. Mas, no momento, eu achei que estava correto. E ele me deixou muito à vontade.

O senhor é mais conhecido por ser filho de José Dirceu.
– Aqui, né. Lá em Cruzeiro do Oeste, ele ( Dirceu) é o pai do Zeca

Isso pesa?
– É uma responsabilidade, com certeza. Mesmo assim, eu procuro seguir a minha vida. Tomar minhas atitudes, minhas decisões. Não é algo que me comprima, que me bloqueia, que me obrigue ou impeça de fazer certas coisas. Mas eu sei que é uma responsabilidade. E, pra mim, é uma inspiração a história dele de vida. Tudo que ele construiu, tudo que ele já passou, tudo que está passando acaba sendo pra mim um espelho, um retrovisor, uma inspiração. Ao mesmo tempo tudo isso junto. É muito importante.

O PT antes e depois do julgamento do mensalão. O que muda?
– O PT não vai viver essa divisão de momentos. O PT continua sendo o mesmo partido que foi, com a mesma militância, com a mesma exposição. Todo mundo tendo consciência do que aconteceu. Todo mundo tendo orgulho da luta que cada um fez. Da disputa que cada um cada um travou . Engana-se quem acha que o PT se divide antes do mensalão e pós mensalão, como alguns pregaram que haveria o PT antes do Lula e depois do Lula. Antes da Dilma e depois da Dilma. O PT é uma coisa só: moldada e formada lá na década de 80, que vai seguir seu caminho, vai seguir a sua luta crescendo e avançando. Apesar dos trancos e barrancos, das chuvas e trovoadas que não são pequenas.

A condenação da cúpula petista não macula o PT?
– Não. A população está preocupada com outra coisa. A pauta da população é essa. A gente vive um mundo aqui que não é o mundo de quem trabalha e produz no país. Uma pauta, com todo respeito, de uma parte da imprensa e dos partidos de oposição. Não macula e não diminui nada. E não é uma opinião minha, a gente fala isso olhando os fatos. O PT foi o partido mais votado no país com 17 milhões de votos. Vem em uma crescente ininterrupta desde que foi fundado. Se isso fosse uma pauta da população, de 2005 pra cá, o PT teria entrado em decadência, teria vivido uma turbulência, daria prejuízo de imagem ao partido e de resultado eleitoral. Os resultados eleitorais até agora são evidentes. Vamos ter vergonha de quê? E um julgamento é julgamento. Pode daqui a cinco anos, daqui a dois anos se mostrar equivocado, se mostrar injusto. Pode daqui a um mês acontecer isso. Quantas pessoas foram julgadas e depois se percebeu que a Justiça tinha errado. Ou a Justiça nunca erra? A Justiça erra.

Em nota, após ser condenado, seu pai disse que foi julgado por ser ex-ministro de Lula. O senhor concorda?
– Ele foi julgado e acho que, em todo esse processo, o PT foi julgado pelo que cada um é. Pelo tamanho que cada um ganhou, pela influência que cada um exerceu, pelas mudanças que isso provocou no pais e que muitos não aceitam. O Brasil tem uma classe social, tem um seguimento da imprensa, agora se provou que tem no Judiciário ou o Judiciário influenciado por isso, que não aceita o que aconteceu no país desde que o Lula ganhou a eleição ou desde que o PT surgiu. E alguns não se contentam nem com o que aconteceu no país desde quando houve a luta contra a ditadura e quando o país foi democratizado. A prova disso foi aqueles militares irem lá na frente da saída da reunião que meu pai estava, em São Paulo, para querer instigar ele. Nem com isso se conformam ainda. E a população tem clareza disso.

Militantes petistas criticam o STF. Qual é essa visão do Judiciário ?
– Eu tenho dúvida se é uma visão do Judiciário ou se o Judiciário foi muito influenciado por um momento que se criou de imagem, de opinião, muito mais de imprensa do que o cidadão comum, o cidadão que trabalha que produz e que faz o país crescer. Eu conheço agricultores, eu conheço pequenos empresários, cidadão comum que não tem essa obsessão que a mídia criou de que há um grande clamor por uma condenação. Se os ministros foram ou não foram influenciados não tem como saber a cabeça deles.

Qual é a expectativa da família quanto a dosimetria da pena ?
– Eu estou muito pessimista. Acho que há um processo de massacre, de trucidar realmente cada uma das figuras. Não tem nenhuma expectativa otimista não.

Seu pai está preparado para ser preso?
– Meu pai está preparado para tudo na vida. Ele já foi preso, já foi torturado, já teve que sair do país, de viver aqui clandestino. Ele tem muita fé, muita determinação e tem com ele muita gente junto. Não está sozinho. São milhões e milhões de brasileiros, de petistas, de simpatizantes que sabem da inocência dele. O futuro a gente vai saber daqui uns dias, falta pouco, porque demorou muito, deveria ter sido mais rápido.

O senhor ficou um tempo sem falar sobre o mensalão e a família também.
– Foi orientação do advogado. Você não pode ficar opinando sobre um julgamento que não aconteceu ainda, poderia atrapalhar ou influenciar. De 2005 a 2010 (período na prefeitura) foi uma estratégia muito mais para poder ter liberdade de trabalho, para poder viver em paz, do que por medo de falar ou receio. Sei a vida que meu pai teve, a maneira que nossa família vive, minhas irmãs, minha avó, os irmãos dele, ninguém tá rico, ninguém tá milionário, ninguém vive às favas de dinheiro. Como a gente sabe que um conjunto muito grande de políticos no Brasil vive assim. Ninguém questiona, ninguém processa, ninguém investiga e ninguém condena. Um das coisas que vai ficar cada vez mais evidente para população neste julgamento é que houve dois pesos e duas medidas. Primeiro, porque a população tem clareza e conhece o que aconteceu com o PSDB, a onde surgiu a relação do Marcos Valério com os políticos, o dinheiro, os financiamento de campanha. Por que só o José Dirceu ? Por que só o PT? Claro que é pelo que cada um significa e não pelo que cada um fez . Estou muito confiante que é assim que pensa a maioria dos brasileiros.

O julgamento em período eleitoral…
É um absurdo, né? Uma prova que não foi uma coisa normal, uma coisa razoável como aconteceu. Por que motivos? Eu não quero, de maneira alguma aqui, prejulgar o Judiciário. Até porque é um primeiro fato que todo mundo tá observando. É muito cedo para fazer um prejulgamento Não tinha razão nenhuma para ser assim.

O mensalão influenciou as eleições municipais?
– Muito pouco. Acho até que influenciou de forma positiva porque alguns candidatos perderam o foco do que era de interesse do eleitor, do cidadão: a saúde, a educação, a segurança. Só falaram desse tema (o mensalão) de uma maneira agressiva. O eleitor percebeu que havia maldade, que havia uma intenção equivocada neste gesto, que acabaram até involuntariamente votando em candidatos do Partido dos Trabalhadores e até de outros aliados nosso que disputavam a eleição nessas circunstância .

O senhor participou das campanhas eleitorais?
– Participei ativamente. Fui em mais de 200 cidades, devo ter apoiado mais de 300 candidatos entre vereadores, prefeitos e vice. Eu sou caipira do interior, moro em uma cidade de 20 mil habitantes. Participei em campanhas de médias e pequenas cidades. Nas pequenas cidades (o mensalão) tem influência zero, nas médias cidades tem uma pequena influência. Nas grandes cidades, acho tentaram criar uma grande influências que acabou o tiro saindo pela culatra. Tá provado agora, no segundo turno, que todo mundo que exagerou nesta tecla só do mensalão, se deu mau. Neste ponto agora, nos últimos momentos, até ajudou os candidatos do PT porque o adversário perdeu o foco, não falava de mais nada da vida das pessoas e das cidades .

Em Curitiba, o candidato Ratinho Jr. disse que estão escondendo o senhor da campanha de Gustavo Fruet , que é aliado do PT.
Eu gosto muito do Ratinho Jr, admiro ele como pessoa. Acho que errou ou alguém no nome dele e cometeu um erro de estratégia gigantesco. Eu conversei com ele rapidinho nesses últimos dias, vi ali arrependimento.

Mas existe alguma orientação para não participar da campanha em Curitiba?
Não. Eu recebo convite para todos os eventos, para todas as reuniões . Tenho participado mais onde eu tenho mais afinidade, por uma questão natural das coisas. O deputado que tem voz, que tem vez em Curitiba é o Vanhoni (Angelo -PT). É natural que ele participe mais em Curitiba.

Não ficou magoado com as declarações?
Acho que faz parte do jogo. Achei bacana o gesto dele (do Ratinho) de pedir desculpas. Um gesto que não resolve os erros que foram cometidos, mas é um gesto . E acho que o PT tem lá junto com Gustavo Fruit uma condição de ocupar um espaço político único na cidade. Se a vitoria se confirmar no domingo, que vai credenciar o PT para governar o Paraná que um projeto do partido há muitos anos. A Gleisi (Hoffmann, ministra da Casa Civil) agora é nossa estrela em ascensão na política do estado. Ela fica em uma situação muito confortável.

Essa semana o senhor vai fazer campanha ainda?
Eu tenho feito. Eu vim pra cá, fazer alguma coisa aqui. Devo voltar para o Paraná na quinta-feira e sigo o curso normal. Não tenho tenho disputas na minha base, que são cidades pequenas, que já liquidaram no primeiro turno. Mas se precisar estou às ordens.

Já está adaptado ao trabalho na Câmara?
– Eu estou bem entrosado, bem situado, mas aqui é uma adaptação constante. Mas o Executivo é muito mais fascinante. Eu acho aqui tudo é muito lento, tudo muito complexo. É tudo muito conversado, muito tempo perdido em debates intermináveis, em reuniões. Eu sou muito de fazer. Minha vida dentro do PT, junto com meu pai, é um ambiente que não era novidade pra mim, então não me frustei . A expectativa que eu tinha era essa mesma que estou vendo.