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Zé Dirceu poupa Aécio Neves em depoimento

jose-dirceuEm depoimento na última terça-feira (18) à Polícia Federal, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, do PT, condenado na Lava Jato e no mensalão, poupou o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves. Dirceu falava sobre o ex-diretor de Furnas Dimas Toledo, apontado por alguns dos delatores da Odebrecht como o “operador do PSDB” para o pagamento de propinas relativas às obras das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira. As informações são de Mateus Coutinho na Época. Dirceu disse que nunca foi procurado por Aécio para que Dimas fosse mantido no cargo de diretor de Furnas durante a mudança do governo FHC para o governo de Lula, em 2003. O ex-ministro foi o principal responsável pela composição dos cargos das estatais na transição para o governo petista e disse que era do conhecimento de todos que o diretor da estatal de energia era ligado ao PSDB e a Aécio, mas também possuía capacidade técnica para permanecer no cargo. Dirceu depôs à Polícia Federal no inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal para investigar a suspeita de que Aécio se beneficiou de um esquema de corrupção em Furnas. Como não fez acordo de delação premiada, Dirceu não estava submetido às regras mais rígidas no depoimento.

Aécio é investigado em cinco inquéritos no Supremo Tribunal Federal decorrentes da Lava Jato. As principais suspeitas contra o senador nasceram dos depoimentos de alguns dos 77 executivos da Odebrecht, que mantiveram relação com ele. Em sua colaboração, o ex-presidente Marcelo Odebrecht apontou que a empreiteira pagou propina a Aécio, ex-governador e senador por Minas Gerais, devido à influência dele no setor energético por meio das estatais mineiras Furnas e Cemig. “A Cemig e essa diretoria de Furnas eram apadrinhadas pelo PSDB, e o operador informal [para o partido] era o Dimas [Toledo]. Nesse momento, foram feitas contribuições relevantes ao PSDB. (…) Não sei precisar quantas dessas contribuições do PSDB foram para o Aécio, ou para os candidatos, quanto isso foi para caixa dois. Como é coisa antiga, não sei precisar. (…) Sei que eram montantes relevantes, da ordem de pelo menos R$ 50 milhões, porque Henrique [Valladares, diretor da área de energia] me comentou uma época e até estimulei ele”, afirmou Marcelo.

Antes da Odebrecht, menções a Aécio foram feitas por dois outros delatores. O ex-senador Delcídio Amaral (ex-PSDB e ex-PT), que presidiu a CPI Mista dos Correios, afirmou em seus depoimentos que “sem dúvida” o tucano recebeu propina em Furnas. Outro delator, o lobista Fernando Moura, amigo e auxiliar de Zé Dirceu, disse que, em 2003, Dimas Toledo garantiu que um terço da propina arrecadada na estatal iria para o PT nacional, um terço para o PT de São Paulo e um terço para Aécio.

Desde que as suspeitas surgiram, o tucano nega com veemência qualquer envolvimento em irregularidades. Em nota, a assessoria do senador Aécio Neves afirma que Marcelo Odebrecht nunca disse em seus depoimentos que Aécio recebeu propina. “Ao contrário disso, em sua delação ele afirmou que jamais houve qualquer tipo de contrapartida nas doações feitas ao senador. ‘Ele (Aécio) nunca teve uma conversa para mim de pedir nada vinculado a nada”, disse Marcelo Odebrecht. E também: “ele nunca cobrou nada'”, diz a nota. “Não existe sequer um elemento ou mesmo indício de atuação do senador Aécio Neves em favor da empresa. As investigações vão demonstrar a verdade”.