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Vem aí um novo turista, com mais medo e mais exigente

Joaquim Silva e Luna

Turismo pós-Covid-19. Surge um novo turista. Ele já está preparando as malas. Não aguenta mais isolamento social, mas não quer multidão. Foz do Iguaçu e região foram talhadas para esse novo turista contemplativo da natureza, intimista, que quer passear pelo mundo e dentro de si mesmo. Mas temos que fazer a nossa parte nos cuidados com a saúde desse novo e mais exigente turista.

Vale lembrar que o ano de 2019 não foi muito bom para o turismo em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial do Turismo, o enfraquecimento da economia, as incertezas geopolíticas e o Brexit – a saída do Reino Unido da União Europeia – provocaram uma queda de 4% nos desembarques em países de todos os continentes. Mesmo assim, nada menos que 1,5 bilhão de turistas circularam planeta afora.

Agora, a gente sabe que este 1,5 bilhão de pessoas está em suas próprias cidades. São viajantes amarrados à quarentena, que já não suportam mais ouvir falar em doença, em cuidados, em prevenção. Ao mesmo tempo, são informados de que a pandemia não acabou, que ceifa vidas tanto nos países ricos quanto nos pobres. Há muita gente querendo pôr o pé na estrada, para conhecer ou revisitar lugares pelos quais se encantou. Mas terão que esperar.

Enquanto isso, o setor de turismo se ressente. Só na segunda quinzena de março, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, o setor, no Brasil, perdeu quase R$ 12 bilhões, uma queda de 85% no faturamento, em comparação com o mesmo período do ano passado. Antes da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, o turismo empregava, no Brasil, cerca de 7 milhões de pessoas. Em 2019, respondeu por 8% do Produto Interno Bruto brasileiro.

A Organização Mundial do Turismo calcula que este setor, que em alguns países e cidades (como Foz do Iguaçu) é vital para a economia, vai demorar entre cinco e sete anos para recuperar as perdas do período de paralisação. Muitas empresas não vão sobreviver. As falências serão inevitáveis daqui para frente. As empresas aéreas, os hotéis, os restaurantes, os atrativos turísticos e tantas outras atividades que dependem dos visitantes estão simplesmente raspando o fundo do tacho para quitar despesas, que estas praticamente não diminuem.

Mas o setor não vai morrer. O homem, desde que surgiu no mundo, gosta de viajar, de explorar, de conhecer novos povos e culturas, de visitar atrativos de todo tipo, de cair no mar, de se divertir das formas mais diferentes. Mas é preciso levar em conta o duríssimo golpe aplicado pelo novo coronavírus, que deve fazer surgir um novo turista, que já não tenderá a fazer o chamado overtourism, aquele que provoca congestionamento e superlotação dos locais mais procurados, a tal ponto que os moradores de cidades como Veneza, na Itália, já não queriam mais ser visitados, apesar do dinheiro que o turismo trazia.

O novo turista vai fugir de locais congestionados. Mais que isso, ele optará por segurança em todos os sentidos, evitando cidades onde a violência domina, por um lado, e também aquelas que não oferecem condições sanitárias adequadas. Presume-se que este novo turista vai preferir ambientes naturais, locais abertos, mas que ao mesmo tempo ofereçam a ele a garantia de que não contrairá doenças, que não correrá riscos desnecessários.

O novo turista mal vê a hora de tomar um avião. Mas vai deixar a ansiedade de lado antes de escolher o seu destino. Uma cidade como Foz do Iguaçu, depois de superar a pandemia de Covid-19, terá que repensar como vai se “vender” dentro deste novo mercado turístico. Atrações e atrativos não lhe faltam, mas terá, desde agora, de pensar e de pôr em prática atividades sustentáveis, que sejam facilmente comprovadas e que os moradores respeitem e adotem.

Foz de Iguaçu não pode viver uma nova epidemia de dengue, por pura falta de educação e descaso de parte de sua gente, que lança lixo nos terrenos baldios, nas calçadas e ruas, que depois servirão de abrigo para o Aedes aegypti se produzir e provocar mortes. Neste ainda não concluído ano epidemiológico da dengue (de julho de 2019 a agosto deste ano), foram quase 10 mil casos da doença, em Foz, com cinco mortes. Viajante que sabe disso provavelmente não virá para cá. Porque a dengue também não escolhe quem vai vitimar.

É por isso que, antes de começar o novo ano epidemiológico, os setores públicos e a iniciativa privada devem se unir para acabar de vez com o mosquito e, com isso, eliminar a dengue das doenças crônicas desta cidade, para que nunca mais volte na forma de epidemia. As lições que estamos aprendendo no combate ao novo coronavírus devem agora ser úteis para ações contra todo tipo de doenças que podem ser, de alguma forma, evitadas.

Nossas maravilhas, feitas por Deus, como as Cataratas do Iguaçu, ou pelo homem, a gigantesca usina de Itaipu, até a volta deste novo turista, devem estar preparadas para receber não apenas com a melhor das simpatias, mas também com a garantia de que o visitante se sinta seguro. Isso se estende, é claro, aos outros atrativos de Foz do Iguaçu e a toda a cadeia de turismo da cidade. Receber bem e oferecer segurança, o diferencial que pode conquistar visitantes e permitir que o turismo se recupere mais rápido do que se imagina.

General Joaquim Silva e Luna é diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional.

Gazeta do Povo/Foto: Marcos Corrêa