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Uma campanha de R$ 500 milhões e o risco para nossa democracia

Uma campanha de R$ 500 milhões e o risco para nossa democracia

Rogério Galindo, Caixa Zero, Gazeta do Povo

Eduardo Campos foi o primeiro presidenciável (dentre os que devem ter campanha mais cara) a entregar sua documentação à Justiça Eleitoral. E mandou ver nos custos da campanha: registrou um teto de R$ 150 milhões (que inclui as despesas num possível segundo turno). Imagina-se que Aécio Neves e Dilma Rousseff vão na mesma balada ou que pretendam gastar ainda mais.

Portanto, descontada a hipótese (nunca realmente descartável) de caixa dois por parte de alguém, temos que a campanha presidencial poderá passar fácil de R$ 500 milhões arrecadados. Meio bilhão de reais. E não é difícil imaginar de onde virá esse dinheiro. Quase tudo, segundo o histórico recente, sairá dos caixas de empresas privadas, com especial destaque para empreiteiras de obras públicas, bancos e grandes indústrias.

O Supremo Tribunal Federal cogita proibir tudo isso, mas ficou para 2018. Por enquanto, a pergunta que fica é se não estamos diante de um risco para a democracia. Sabe-se que esse dinheiro todo tem capacidade de mudar uma eleição: com mais viagens pelo país, melhores advogados e marqueteiros e, principalmente, um programa de tevê bem feito, ganha-se uma eleição. Ganha-se a Presidência. Com base em dinheiro, veja bem.

Michael Walzer, um importante filósofo norte-americano, diz que o conceito de “tirania” tem a ver com a possibilidade de alguém conseguir se dar bem em uma coisa pelo fato de ser bom em outra coisa não relacionada àquela. Por exemplo: alguém ganhar o emprego (mundo do trabalho) por ser bonito (o que não deveria ter relação com o trabalho). Aqui, temos outro exemplo: alguém chegar ao poder político por meio do poder econômico. Ter poder de mando por ter capital financeiro.

É isso que se quer evitar quando se fala em financiamento exclusivamente público de campanha, embora alguns contumazes míopes insistam em dizer que se trata de algo para beneficiar o atual governo ou seu partido. (Em 1963, dizia-se que dar voto a todos os cidadãos, incluindo os analfabetos, era manobra do PTB pró-Jango. O resultado foram mais duas décadas e meia de direitos cassados para parte da população.)

Mas se o financiamento viesse dos cofres públicos não sairia muito caro? Bem, os R$ 500 milhões representariam R$ 3 para cada brasileiro. Menos do que se paga em uma carteira de cigarro. E evitaríamos que empresas privadas de grande porte decidissem o destino de nossa democracia por nós. Não parece caro. Caro é arriscar perdermos o controle sobre nossas eleições em nome de um sistema que já mostrou alimentar a corrupção no país.

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