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Transmissão comunitária do novo coronavírus alcança todo o país, diz governo

Regras mais rigorosas de atendimento em postos de saúde e de isolamento agora valem para todo o território nacional.

A pandemia da Covid-19 levou o governo a declarar em Brasília, nesta sexta-feira (20), que o país inteiro vive estado de transmissão sustentada da doença, quando não se sabe a origem da contaminação. As informações são do Jornal Nacional.

Foi um dia de reuniões e entrevistas em sequência, que revelam claramente o aumento da preocupação das autoridades com as consequências do novo coronavírus, uma preocupação que não se viu apenas nas áreas da saúde e economia, mas também na política, com decisões de repercussão imediata no Brasil e com reflexos nas relações do país no exterior.

O dia começou em Brasília com o presidente Jair Bolsonaro tendo que lidar com uma crise diplomática.

Na saída do Palácio da Alvorada, o presidente disse que está disposto a ligar para o presidente da China, Xi Jinping, mas acha que não há crise.

“Não há nenhum problema com a China. Se tiver que ligar para o presidente chinês eu ligo sem problema nenhum. Qual é a acusação? Qual o motivo desse problema?”

O incidente diplomático foi provocado pelo filho dele, o deputado Eduardo Bolsonaro, que culpou a China pela Covid-19 e o governo chinês ainda espera um pedido de desculpa.

Mais quatro assessores diretos do presidente testaram positivo para a Covid-19: o ajudante de ordens, major Mauro Cesar Barbosa; o diretor-adjunto do Departamento de Segurança, coronel Gustavo Suarez da Silva; o assessor especial, Filipe Martins; e o chefe do Cerimonial, embaixador Carlos França. Agora são 22 o número de contaminados que estiveram com o presidente na viagem aos Estados Unidos.

Por isso mesmo o acesso ao Planalto ficou mais restrito. No início da tarde, o presidente convocou uma reunião com os 20 maiores empresários do país e a conversa foi por videoconferência. Durou quase duas horas. Quem participou na sala do presidente, teve que usar máscaras.

Bolsonaro abriu a reunião propondo a cooperação de todos para enfrentamento da pandemia.

O presidente fez um discurso pacificador. Disse que os parlamentares abriram mão de R$ 8 bilhões em emendas que vão para o setor de saúde e pediu o apoio dos empresários.

“O momento é de união de todos nós: classe política, governadores, prefeitos, demais autoridades e, em especial, o setor produtivo. Os empresários não podem parar porque precisamos produzir muita coisa. Não é apenas um centro de produção. Um simples remédio envolve vários outros setores para que ele seja feito, embalado, acondicionado e transportado.

A nossa economia também não pode parar no tocante à produção de alimentos. Esta área é muito grande”.

O presidente ouviu a preocupação dos empresários e disse que o governo já adotou 22 medidas que atendem ao setor produtivo e outras sete ainda estão em estudo.

Mas a entrevista convocada depois dessa reunião foi presencial e os ministros tiraram as máscaras na hora de falar. Bolsonaro voltou a falar da China, mas dentro do contexto do novo coronavírus.

“Quanto ao presidente da China, tenho um canal aberto com ele. Tenho simpatia. Não existe qualquer crise do governo brasileiro com o chinês. Se a situação se fizer necessária, podemos entrar em contato com ele na semana que vem, mas para tratar do coronavírus. Repito, no governo brasileiro não tem qualquer problema com o governo chinês. Pelo contrário. Temos interesse comercial”.

Tanto na videoconferência com os empresários quanto na conversa com os jornalistas, o presidente intensificou as críticas aos governadores que tomaram a iniciativa de interromper o tráfego interestadual. O Planalto entende que essa questão é de competência do governo federal e determinou a regulamentação sobre esse tipo de restrição.

“Teve um estado que só faltou declarar independência. Não pode cada governador tomar a decisão que ele achar melhor. Isso está sendo coordenado. O gabinete para essa coordenação já existe. No mais, sempre estive aberto aos governadores. A política não pode estar colocada acima de uma questão emergencial igual a essa”.

O presidente foi questionado sobre seu estado de saúde e disse que fará o terceiro teste se houver recomendação médica.

Um repórter perguntou:

“Por que o senhor, em nome da transparência não divulga o resultado dos exames? O senhor pretende, fazer isso?”

Bolsonaro respondeu:

“Eu sou uma pessoa especial pela função que ocupo. Mas fiz dois exames, a minha família fez também. E deu negativo. Se o médico da Presidência ou até o ministro da Saúde achar que eu devo fazer um novo, sem problema nenhum. Vária pessoas do meu lado tiveram resultado positivo. Obrigado pela sua preocupação. É sinal de que você tem amor e carinho por mim. Fico muito feliz”.

O repórter insistiu:

“Por isso que gostaria de perguntar se o senhor vai divulgar. O resultado”,

Quem respondeu foi o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta:

“Os exames do paciente são do paciente. Os exames que você faz são da sua intimidade. A gente não faz divulgação do exame nem seu, nem meu. O presidente tem um médico assistente, é o médico da Presidência. Ele tem como missão zelar pela saúde do presidente. A ele é dado o timing e a maneira de monitorar. Se ele entender que o presidente precisa fazer um teste e se der positivo, o que faz? Comunica. Comunica porque vai ter que fazer isolamento, ficar em casa. Não é nenhum fim do mundo, isso”.

No fim da entrevista, Bolsonaro se referiu desta maneira aos riscos da Covid-19.

“Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar”.