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Somos inimigos – por Renato Follador

Alagoas é um minúsculo estado da Federação. Tem um litoral lindo, mas não tem indústrias e vive da cana e do turismo. É uma das piores economias do país. O Paraná é grande em área territorial, fortemente industrializado, poderosa agricultura exportadora e é a quinta economia do país.

Alagoas já teve ministros do Supremo Tribunal Federal (como Mendonça Uchoa), presidente do Congresso Nacional (Renan Calheiros), presidente de importante partido político (Teotônio Vilela, do PSDB) e até presidente da República (Fernando Collor de Mello). O Paraná nunca teve ninguém em posições de tal relevância em toda a sua história. Seria por que aqui não temos gente capaz?

Não – exatamente o contrário, pois somos exemplo em inúmeros setores, como urbanismo, agricultura, energia – temos a maior hidrelétrica do mundo – e medicina (somos referência em transplante de medula, cirurgias cardíacas e neurocirurgia); nossa previdência é copiada país afora; temos a maior empresa brasileira de hardware, a Positivo Informática; e, no ensino, temos as universidades estaduais.

Por que, então, somos medíocres representativamente na política nacional? E olhe que isso é fundamental em um país que adotou o sistema político federativo e tem um sistema tributário que canaliza a maioria dos recursos de impostos para a União para depois redistribuí-los a estados e municípios, processo no qual quem tem mais poder recebe mais.

Somos medíocres porque em nenhum outro lugar do país há tanta inveja do sucesso dos conterrâneos. E aqui prevalece a visão provinciana de que o que vem de fora é melhor, de que o diálogo só é bom quando para referendar posições de quem o provocou. Aqui não há grandeza de espírito de respeitar o momento da estrela em ascensão e de se unir em torno de causas comuns dos interesses maiores do estado. Alguns senadores paranaenses que, ao longo das últimas décadas, bloquearam empréstimos federais e internacionais ao seu próprio estado que o digam!

O nosso problema é de falta: falta de visão estratégica, falta de solidariedade e falta de grandeza de espírito.

Trabalhei com Ney Braga e sei das dificuldades que ele tinha para reunir os paranaenses em torno de uma causa que promovesse um dos nossos. Só ocupamos espaço, mas de menor importância que os citados, na ditadura.

Nosso problema é que aqui no Paraná não sabemos ser adversários, mas inimigos; e para toda a vida. Talvez a colonização europeia do estado, de povos que guerrearam entre si a vida inteira, explique um pouco isso, mesmo nenhuma guerra justificando em qualquer época a paz dela resultante.

Vem eleição aí. Não basta escolher o melhor se em torno dele, depois, não se unirem os derrotados. E, infelizmente, não há no horizonte a figura desse estadista, que consiga que não todos, mas muitos dos antigos adversários o apoiem sem a oferta de benesses ou poder.

Sempre seremos menores enquanto nossas ambições e ódios pessoais forem maiores que nosso bom senso e humildade.

(*) Renato Follador foi jogador profissional de futebol e é especialista em Previdência. Artigo publicado no jornal Gazeta do Povo