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Setembro foi no mundo inteiro o mês mais quente registrado desde 1880

por Casemiro Linarth, no Jornal Meio Ambiente

O mês de setembro foi, no mundo inteiro, o mais quente registrado desde 1880. O National Climatic Data Center (NCDC) publicou, em 16 de outubro, seus dados de observações relativos aos nove primeiros meses do ano, indicando que a temperatura média de setembro de 2012 ficou 0,67 graus centígrados acima da média dos meses de setembro levantados no século XX (15 graus centígrados).

Segundo o NCDC, em 133 anos de registro, o mês que passou foi o mais quente observado até agora, igualando-se ao de 2005. O NCDC é o centro de coleta de dados meteorológicos mais importante do mundo, situado na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Possui mais de 150 anos de dados arquivados e recebe cada dia mais de 224 gigabytes de novas informações.

Esse recorde faz parte da tendência de aquecimento provocado pelos gases de efeito estufa relacionados à ação do homem sobre a natureza. A atividade do sol, embora esteja aumentando, continua moderada: no ciclo atual, o sol deve chegar ao seu máximo em 2013-2014, mas ainda assim essa atividade deve ser menor que o pico anterior, atingido no ano 2000. O mês de setembro também foi marcado pelo início do fenômeno natural El Niño, que volta a cada três a sete anos e se caracteriza por um aquecimento no Oceano Pacífico na linha do equador, mas ele foi muito fraco no mês de setembro.

Anomalia de calor
Uma das explicações para o recorde de setembro foi, segundo o instituto dos Estados Unidos, o derretimento excepcional do campo de gelo do Polo Norte. Durante o verão, esse campo de gelo perdeu em superfície como nunca ocorreu antes, desde o início das observações por satélite da área, em 1978. Em meados de setembro, ele cobria apenas 3,4 milhões de quilômetros quadrados, menos da metade da média levantada no mesmo período entre 1979 e 2000.

O gelo do mar reflete até 90% da energia solar, enquanto o oceano absorve cerca de 80% dessa energia e contribui para fazer as temperaturas atmosféricas subirem. A forte anomalia de calor que atingiu o Polo Norte em setembro teve, assim, um efeito sobre a média global.

No entanto, esse recorde ocorre num ano que não será marcado por um recorde de temperatura global. Juntando os nove primeiros meses do ano, 2012 atinge apenas o oitavo lugar. Na realidade, de janeiro a março, condições que normalmente não são frias ocorreram numa grande parte da Eurásia, chegando a menos de 50 graus centígrados na Rússia, e puxaram a média mundial para baixo.

Os três primeiros meses do ano apontaram apenas para o vigésimo primeiro lugar dos três primeiros meses mais quentes medidos desde 1880. Nas terras emersas do Hemisfério Norte, o mês de janeiro foi inclusive especialmente muito frio, ocupando o trigésimo sexto lugar dos meses de janeiro mais quentes.

Desastres naturais
Ciclones, tornados, inundações, secas, tempestades de neve. A região do mundo mais afetada pela intensidade das catástrofes climáticas não é a Ásia nem a África. É a América do Norte que sofre a explosão mais forte de desastres naturais há 30 anos, segundo um estudo da empresa de seguros alemã Munich Re publicado em 17 de outubro.

Entre 1980 e 2011, as catástrofes climáticas custaram a vida de 30 mil pessoas e causaram mais de um trilhão de dólares de prejuízos no continente norte-americano, avalia a seguradora. Desse total, os seguros tiveram 510 bilhões de dólares de perdas.

O valor total dos ativos destruídos pelos desastres naturais é logicamente mais elevado na rica América do que nos países chamados em desenvolvimento do Sudeste Asiático, uma das regiões de maior risco. Mas a quantidade de acontecimentos extremos cresce de forma desigual nos Estados Unidos e no Canadá.

“Em nenhuma outra parte do mundo a alta do número de catástrofes naturais é mais evidente do que na América do Norte”, segundo os técnicos da empresa de seguros. O número de catástrofes causadas pelo clima aumentou quase cinco vezes na América do Norte nos últimos trinta anos, enquanto foi multiplicado por 4 na Ásia, por 2,5 na África, por 2 na Europa e por 1,5 na América do Sul.

Seca recorde
De modo mais geral, as tempestades são as catástrofes mais caras para o continente americano: representam 76% das perdas totais desde 1980. Como 89% dos prejuízos estavam no seguro, esse risco foi particularmente bem coberto. A calamidade que causou o maior número de mortes e a mais cara continua sendo o furacão Katrina, em 2005: 1.833 mortos e 125 bilhões de dólares de perdas na região de Nova Orleães, no Estado de Luisiana.

Já a supertempestade Sandy, de 29 de outubro, teve um custo calculado inicialmente em mais de 42 bilhões de dólares para Nova York, ocasionando mais prejuízos que o furacão Katrina, segundo o governador de Nova York, Andrew Cuomo. Apesar de o número de mortos do Katrina ter sido muito maior que os cerca de 110 mortos durante o furacão Sandy, os danos às propriedades e aos negócios foram maiores.

O total da conta em Nova York e na vizinha Nova Jersey é de 62,61 bilhões de dólares, número que deve aumentar com a inclusão de fundos extras para a prevenção, segundo Cuomo. O furacão Sandy inundou o metrô, arruinou milhares de casas na região de Nova York e interrompeu a eletricidade em vários pontos da cidade durante dias, além de causar escassez de combustível.

As inundações custam em média um bilhão de dólares ao continente cada ano. As outras catástrofes – ondas de calor, seca, incêndio de florestas – representam 15% do custo total das catástrofes provocadas pelo clima. Os Estados Unidos, que enfrentaram em 2012 o calor mais forte da sua história, sofrem atualmente com uma seca recorde de efeitos dramáticos.

“Segundo todas as probabilidades vamos ver nestes dados uma primeira prova do impacto das mudanças climáticas sobre nossos números nos Estados Unidos”, avalia o responsável pela unidade de pesquisa sobre os riscos geográficos da Munich Re, Peter Hoppe.

Atacar as causas
Um documento produzido pelo DARA and Climate Vulnerable Forum, uma parceria de vinte países firmada em 2009, mostra um retrato sombrio dos prejuízos econômicos causados pelas mudanças climáticas. O relatório destaca a existência “de um mal sem precedente para a sociedade humana e o desenvolvimento econômico atual que vai frear cada vez mais o crescimento, segundo uma atualização e uma revisão das estimativas anteriores das perdas associadas às mudanças climáticas”.

No entanto, observa o documento, atacar as causas das mudanças climáticas permitiria produzir “benefícios econômicos importantes para o planeta, tanto para as grandes economias como para os países mais pobres”.

O estudo também apresenta estimativas segundo as quais as economias que mais emitem carbono são responsáveis por cinco milhões de mortes cada ano, causadas principalmente pela poluição do ar. “O fracasso das ações contra as mudanças climáticas já custa para a economia mundial 1,6% do seu PIB, ou 1,2 trilhão de dólares por ano de prosperidade”.

Pouco preparado
“As perdas para os países mais pobres já são enormes e atingirão em média 11% do PIB em 2030”, informa a organização.

“As principais economias mundiais também serão afetadas: em menos de 20 anos, a China suportará a maior parte das perdas, de mais de 1,2 bilhão de dólares. A economia dos Estados Unidos terá o seu crescimento freado em 2% do PIB e a Índia em mais de 5%. As perdas econômicas tornam pequenos os custos para minimizar as mudanças climáticas. As reduções das emissões contrairiam o crescimento do PIB em apenas 0,5% nos próximos dez anos. Em contrapartida, a ajuda de que os países mais vulneráveis precisam é estimada em 150 milhões de dólares por ano”, avalia o DARA.

O Brasil está pouco preparado para as mudanças climáticas. Mesmo possuindo água e comida em abundância, uma economia sólida e sendo politicamente estável, o país está deixando a sua população em situação perigosa em caso de eventos climáticos extremos. Isso por causa de sua infraestrutura fraca, da falta de investimentos públicos e privados e do crescimento desordenado das cidades.

Segundo o Gain Index 2012, ranking criado pelo Instituto de Adaptação Global (GAIN, em inglês) que classificou 176 países conforme a sua resistência aos impactos das mudanças climáticas, o Brasil aparece em 58º lugar, ficando em 47º em vulnerabilidade e somente em 71º em prevenção.