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Serraglio: ‘Não admito ouvir que o mensalão não existiu’

Relator da CPI dos Correios fala das dificuldades que enfrentou à época das investigações – e da pressão para que a comissão terminasse em pizza.

De Carolina Farina, VEJA on line:

Quando foi escolhido para a relatoria da CPI dos Correios, em 2005, o deputado Osmar Serraglio (PMDB) estava em seu segundo mandato – e jamais havia participado de uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso. Inexperiente e integrante da base, o parlamentar parecia ter o perfil ideal para conduzir as investigações a lugar nenhum: justamente onde o governo queria que terminassem. Mas não foi o que se viu.

Os trabalhos da CPI resultaram não apenas na cassação de figuras de proa do PT envolvidas no mensalão, como José Dirceu, como também serviram de base para a denúncia entregue pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal, em 2006.

Seis anos após o término dos trabalhos, o deputado guarda vivas na memória as artimanhas que precisou driblar para que a investigação não terminasse em pizza. E seu calmo semblante endurece à simples menção sobre as negativas da existência do mensalão: “As provas estão todas lá. Não inventamos nada”, afirma.

Confira a seguir a entrevista concedida pelo parlamentar ao site de VEJA, em seu gabinete em Brasília.

Quais foram as principais dificuldades?

Um dos maiores entraves à investigação era a dificuldade que tínhamos quando solicitávamos material a setores alvo da investigação, como o Banco do Brasil. Muitas vezes as informações solicitadas não chegavam a nós, ou vinham truncadas. Certa feita entramos em conflito com o BB, durante a apuração do esquema da Visanet, e ameaçamos ir a público informar que nosso trabalho estava sendo dificultado pela instituição. Mais tarde, o próprio banco acabou abrindo uma auditoria e comprovou as fraudes que já havíamos apurado. Outros problemas eram os depoimentos de acusados de envolvimento no esquema, que só respondiam àquilo que queriam.

Havia também entraves políticos ao trabalho?

Sim. Um dos principais era a aprovação dos requerimentos necessários para as investigações. Muitas vezes, quebras de sigilo e depoimentos a de certas pessoas eram simplesmente negados. Precisávamos negociar cada requerimento com base e oposição. Portanto, os trabalhos não eram abertos e independentes como prevê a força de uma CPI. Mas os problemas começaram, de fato, quando perceberam que a comissão não seria chapa-branca. A partir daí foi criada a CPI do Mensalão, que nos deixou sem competência legal para investigar o esquema.

Passamos a apurar somente a origem do dinheiro – e não mais sua destinação. Percebemos que a intenção era fazer com que nossa investigação não chegasse a lugar algum.