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Senadores e especialistas debatem a eficácia das pesquisas eleitorais e o monitoramento do Congresso

A tecnologia oferece ferramentas que facilitam o monitoramento das atividades parlamentares no Congresso Nacional e traçam um retrato eleitoral. No entanto, nem sempre as pesquisas são realizadas por meio de dados científicos, trazendo resultados que podem não corresponder à realidade. O webinar Arena de Ideias, promovido pela In Press Oficina, debateu a influência desses instrumentos e do acompanhamento da mídia no cenário político.

Participaram do encontro virtual os senadores Paulo Paim (PT/RS) e Oriovisto Guimarães (Podemos/PR); o jornalista Sylvio Costa, fundador do site Congresso em Foco, e a sócia-diretora da In Press Oficina e especialista em gestão de crise, Patrícia Marins. A moderação foi da diretora de Relacionamento com o Poder Público da In Press Oficina, Fernanda Lambach.

Para Sylvio Costa, é importante diferenciar as pesquisas realizadas por empresas sérias e idôneas de instituições que não têm o mesmo compromisso com a utilização de métodos científicos.
“Tem que distinguir duas coisas, pois há pesquisas e pesquisas. Tem instituições de grande credibilidade que, eventualmente, comentem alguns erros. Infelizmente, há empresas que não têm o mesmo critério, qualificação e ética”, analisa. “Tem que observar, primeiro: quem faz a pesquisa? Segundo: qual metodologia está usando? Terceiro: uma análise de cenário”, acrescenta.

O jornalista explica que o monitoramento das atividades legislativa mudou com o passar dos anos. Ele destaca que, antes da internet, a função era restrita a alguns jornalistas e veículos que tinham mais proximidade com os parlamentares. Mas o avanço da tecnologia ampliou esse leque.

“Tradicionalmente, a ferramenta para monitorar o Congresso é o jornalismo. A internet não só aumentou muito o número de veículos, pessoas e organizações que produzem conteúdo próprio, inclusive conteúdos de monitoramento legislativo, como também abriu novas possibilidades tecnológicas e de coleta de dados legislativo”, afirma Costa.

O senador Oriovisto Guimarães avalia que, de modo geral, as pesquisas são um retrato que ajudam a entender o momento específico. Ele ressalta, porém, que algumas situações imprevisíveis podem mudar o panorama apontado.
“Um filme é feito de milhares de fotografias que vão se somando. A pesquisa é uma das daquelas fotografias. A gente quer saber a tendência, o final da história, e não se pode fazer isso só com essa ferramenta. As novas ideias nenhuma pesquisa consegue prever. Quer podia prever uma pandemia? A vida nos surpreende”, diz.

Paulo Paim, por sua vez, acredita que a pesquisa é importante para auxiliar o político a “se situar” e saber o que a população está pensando. Entretanto, ele lembrou que as redes sociais exercem uma grande influência nas eleições e atividades parlamentares, por isso tudo pode mudar rapidamente. Em tempos de pandemia, Paim acredita que o ambiente digital será ainda mais decisivo nas eleições municipais que ocorrerão no final do ano.

“Toda pesquisa é importante, ela mede o momento da história. Mas é inegável que as redes sociais hoje cumprem um papel decisivo em qualquer campanha, ainda mais nas municipais que vão acontecer durante a pandemia. Acredito que a mobilização popular, principalmente via redes sociais, pode reverter muita coisa”, analisa.

Para Patrícia Marins, as pesquisas e monitoramento das atividades legislativas não podem ser analisadas de maneira isolada e devem fazer parte de um contexto amplo. Ou seja, é preciso avaliar o resultado em conjunto com outras variáveis. “Pesquisa não pode ser dissociada de outras ferramentas, que ajudam a ter uma leitura de contexto e da sociedade como um todo. A sociedade hoje é basicamente midiática, de redes sociais, e que muitas vezes não se revela totalmente”, ressalta.

Sylvio Costa cita o exemplo do Painel do Poder como uma das principais ferramentas que indicam tendências e o humor de deputados e senadores influentes sobre diversos assuntos das pautas política e econômica.

“Uma das ações que a gente tem desenvolvido nesse campo é o Painel de Poder. Como o nome sugere, é uma pesquisa no formato de painel. O Congresso em Foco criou um painel de 100 deputados e senadores que consideramos os mais influentes no Congresso Nacional. Regularmente, a gente ouve pelo menos 70% dos participantes e pode colher percepções sobre o governo, sobre as políticas públicas, conjuntura e chances de aprovação de matérias do Legislativo importantes”, explica.

Congresso é a caixa de ressonância da sociedade

O papel do Congresso Nacional na sociedade foi outro assunto em pauta. Patrícia avalia que o Legislativo é um retrato do país.
“O Congresso é a caixa de ressonância da sociedade brasileira. Se eu quero entender mudanças de comportamento, regionalizações, eu tenho que entender de Congresso Nacional. Acompanhar o Congresso é um passo fundamental para se inserir no processo democrático”, afirma Patrícia.

Por outro lado, o senador Paulo Paim lembra que nem todas as parcelas da população são representadas pelo Congresso.
“O Congresso reflete a concentração de renda que tem nesse país. Não reflete as ruas. Os negros e pardos são 54% da sociedade, quantos têm lá? Mulheres, quantas têm no Congresso? Duas dúzias? É uma quantidade muito pequena. Não temos no Congresso representações que venham dos setores mais vulneráveis”, destaca.

Para Oriovisto Guimarães, o parlamentar ou o presidente da República são líderes que representam todas as parcelas da sociedade e devem guiar o país.
“Acho que em toda a sociedade, o Congresso e o cargo de presidente da República são elementos da sociedade que podem ocupar a liderança, que podem mostrar o caminho. O triste é quando esses líderes levam a sociedade para o caminho errado. O líder não precisa vir necessariamente da classe C, da classe A, da classe B. Ele pode vir de qualquer lugar, desde seja honesto e não engane a sociedade”, diz.
“Eu defendo a prisão em segunda instância porque nós temos a Lei da Ficha Limpa e temos centenas de pessoas processadas dentro do Congresso. A hora que tiver o fim do foro privilegiado seria uma limpeza”.