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Roberto Requião: uma alternativa para a esquerda

Roberto Requião: uma alternativa para a esquerda

por Luiz Antonio Magalhães 

A oposição de esquerda ao governo Lula se organizou, em 2006, em torno da ex-senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), uma dissidente do partido do presidente que foi expulsa do PT depois de desobedecer sistematicamente às determinações da direção da agremiação em diversas votações no Congresso, especialmente a da reforma da Previdência.

Heloísa Helena provavelmente será candidata de novo em 2010 e uma parte substancial da esquerda vai marchar ao lado dela, apesar das contradições que marcam a personalidade da ex-senadora, uma liderança capaz de desafiar o seu próprio partido e defender posições próprias, ainda que contrariando decisões tomadas por seus correligionários, como se viu recentemente na questão do aborto. Também é quase certo que uma segunda candidatura presidencial de Helena não apresente o mesmo encanto da primeira, quando a aguerrida alagoana foi a grande novidade da disputa.

Para quem pensa a política estrategicamente, do ponto de vista da esquerda, há um outro nome disponível na praça, em torno do qual seria possível construir uma candidatura presidencial forte e com chances talvez não de vencer o pleito, mas de levar ao público uma mensagem política de inconformidade com os rumos do país, especialmente no que diz respeito à condução da política econômica. Muita gente torce o nariz para ele, mas a verdade é que o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), é hoje o único contraponto ao modo de governar petista e tucano em atividade no Brasil.

Evidentemente, Roberto Requião não é nem de longe um socialista. Dentro das limitações de um governo estadual, no entanto, ele tem conseguido polarizar com as forças conservadoras em questões importantes. Com uma postura corajosa, Requião tem enfrentado alguns tabus neoliberais e de certa forma está se saindo muito bem. Comprou briga com os produtores de transgênicos, com os concessionários de pedágio e até com o poderoso banco Itaú. Não é pouca coisa.

E para quem acha que brigar é fácil, difícil é construir, vale lembrar que Requião tem sido um interlocutor freqüente do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com quem já fechou algumas parcerias, inclusive em torno da TV do Mercosul. Pergunte a qualquer liderança do MST sobre o tratamento que o governador do Paraná dispensa aos sem-terra e a resposta será outro alento: melhor do que em todos os demais estados do país.

A postura de Requião já começou a incomodar o establishment, tanto é que uma absurda decisão judicial proibiu o governador de apresentar seus pontos de vista na TV Educativa (e na rádio) do Paraná, reeditando no país a censura prévia.

Tudo somado, Requião tem muito mais a apresentar do que a senadora Heloísa Helena e poderia perfeitamente, neste cenário, ser o candidato das esquerdas, dentro de uma concepção de política que privilegiasse não a plataforma socialista (o que, é bom que se diga, Helena também não consegue sustentar), mas avanços no sentido de um governo mais autônomo e arrojado, talvez semelhante ao antigo nacional-desenvolvimentismo, que evidentemente não pode ser transplantado para a realidade atual.

É evidente, porém, que as alas mais conservadoras do PMDB não aceitariam com facilidade uma candidatura de Roberto Requião. Para que ele se viabilize, é preciso apoio fora do PMDB, de maneira que o próprio governador sinta confiança para colocar seu bloco na rua. Uma pré-candidatura de Requião talvez já seja suficiente para quebrar o falso debate que a campanha de 2006 no fundo apresentou, quando Alckmin dizia ser melhor gerente do que Lula e Heloísa afirmava ser a única virgem no bordel. Requião não está neste jogo, tem uma história de 8 anos à frente do governo do Paraná para apresentar aos brasileiros e provar que é, sim, possível governar de um jeito um pouco diferente. Se no final ele conseguir a legenda para disputar o pleito, melhor ainda, o debate se prolonga e fica mais animado.

A direita já tem o seu candidato: o governador José Serra (PSDB), que faz um governo sofrível e sem nenhuma novidade em São Paulo. Pelo que contam fontes tucanas, o Palácio do Bandeirantes se tornou um bunker da candidatura presidencial do governador paulista, que só pensa naquilo – a cadeira de Lula, bem entendido.

O consórcio petista não sabe ainda com quem concorrerá na eleição e provavelmente terá mais de um cavalo na disputa, se Lula não puder mesmo tentar o terceiro mandato – talvez Dilma Rousseff e Ciro Gomes, por exemplo. De toda maneira, serão cavalos que contarão com apoio a máquina governamental e, certamente, rios de dinheiro privado.

Assim, se a esquerda quiser ter alguma relevância na eleição de 2010, deve considerar a partir de agora se não valeria a pena fomentar a candidatura de Roberto Requião à presidência da República. Concorrer apenas com Heloísa Helena pode significar um repeteco do discurso de caráter udenista da eleição de 2006, que se revelou, ao fim e ao cabo, um grande fiasco.

Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).