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Rádio Cultura completa 63 anos de história

 

Nesta segunda-feira, 22, a rádio Cultura está de aniversário. Fundada em 1956, a rádio que é parte da história de Foz do Iguaçu completa 63 anos de idade. É a rádio mais antiga do interior do Paraná e uma das mais antigas do estado.

Operando no AM 820, a rádio Cultura já teve transmissões via FM e Ondas Curtas, com transmissão intercontinental.

Hoje, além do rádio, também pode ser sintonizada pela internet por meio do site radioculturafoz.com.br e aplicativo no celular.

Atualmente a rádio Cultura faz parte da Rede Costa Oeste de Comunicação, compondo a rede com outras quatro emissoras, rádio Independência de Medianeira, Costa Oeste de Guaíra, Costa Oeste de Santa Helena e Costa Oeste de São Miguel do Iguaçu. A emissora é administrada pelos empresários Mauro Luis Hanzen e Moacir Hanzen.

Ao longo dos anos, a Rádio Cultura consolidou-se como espaço democrático, aberto para todos os vieses políticos, partidários, ideológicos e religiosos. Com uma programação voltada para o jornalismo, a rádio Cultura debate a cidade todos os dias.

Os microfones da Cultura registraram grandes acontecimentos que marcaram, não só a história de Foz, mas também nacional. No dia 27 de março de 1965, a rádio cobriu a inauguração da Ponte Internacional da Amizade, que transformou a história do relacionamento Brasil/Paraguai. Foi a única emissora à fazer a cobertura diretamente de cima da Ponte.

Mais tarde a rádio Cultura acompanhou a construção e a inauguração da maior hidrelétrica do mundo, a Itaipu Binacional, inclusive sendo a emissora oficial de informações sobre a obra.

Grandes acontecimentos políticos nacionais passaram pelos microfones da Cultura, como no dia 6 de setembro de 1979, quando Leonel Brizola voltou do exílio entrando no Brasil por Foz do Iguaçu. A rádio Cultura estava no aeroporto e ouviu o político que é um dos maiores ícones da política brasileira.

Ainda sobre anúncios de grandes obras em Foz do Iguaçu, recentemente, em 2018, a então governadora do estado, Cida Borghetti, anunciou na rádio Cultura a Construção do Viaduto na entrada de Foz, na interseção da Avenida Costa e Silva com a BR 277.

Vários presidentes já concederam entrevista exclusiva à Rádio Cultura, entre eles é possível citar, Figueiredo, Dilma Roussef e Luis Inácio Lula da Silva. Governadores e Senadores são presença constante nos estúdios da rádio.

Na política iguaçuense, a rádio Cultura abre espaço para todos os partidos e políticos, com uma cobertura isenta e imparcial. A prefeitura de Foz tem espaço na programação jornalística da rádio e mantém programa aos fins de semana há vários anos. As sessões da câmara de vereadores recebem cobertura jornalística, com espaço para todos os vereadores se manifestarem.

No cenário religioso, a rádio Cultura é a emissora oficial da Igreja Católica e transmite diariamente a oração da Ave Maria às 18h, e a missa aos domingos, além de retransmitir o programa Experiência de Deus, do Padre Reginaldo Manzotti.

O programa mais antigo da rádio Cultura e um dos mais antigos do Brasil sendo transmitidos por tempo ininterruptos, é o programa A Hora Espírita. O programa produzido pela comunidade espírita de Foz do Iguaçu está no ar desde a fundação da rádio em 1956.

No cenário esportivo a rádio Cultura também marcou história, com grandes coberturas do futebol brasileiro, paranaense e iguaçuense. Em 1999 cobriu a Copa América conquistada pelo Brasil no Paraguai. A Cultura liderou uma rede com mais de 100 rádios em todo o Brasil. O primeiro gol de Ronaldinho Gaúcho marcado pela Seleção Brasileira, que entrou pra história, foi narrado na Cultura pelo narrador André Luis, o Garotinho:

Além disso, já cobriu Copa do Mundo, Eliminatórias, Campeonato Brasileiro, Campeonato Paranaense, entre outros. Por muitos anos foi a emissora oficial do campeonato amador de Foz do Iguaçu.

Grandes nomes do rádio paranaense passaram pela rádio Cultura, abaixo você ouve um trecho de um dos mais icônicos locutores que marcou época na rádio, o Compadre Santana (Antonio Soares e Santana). No áudio ele passa uma série de avisos que demonstram a abrangência e a importância que a Cultura tinha para a região.

A professora e jornalista Denise Paro escreveu a história da fundação da Rádio Cultura no artigo A Rádio Cultura AM de Foz do Iguaçu em Tempos de Ditadura, confira:

Nos anos 50, período de fundação da Rádio Cultura, Foz do Iguaçu recebia o impacto migratório de colonos vindos do próprio Paraná e, principalmente, dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo. Essa corrente contribuiu para acelerar a ocupação da região e mudar a realidade do modelo econômico anterior, dominado pela exploração da erva-mate e madeira, sobretudo por empresários argentinos que estabeleceram as chamadas obrages – empreendimentos criados para a exploração da erva-mate e madeira – em toda região Oeste (PARO, 2016).

Expandia-se um modelo de exploração baseado em pequenas e médias propriedades, entre cinco a 10 alqueires. Ao mesmo tempo, as relações econômicas entre Brasil e Paraguai começavam a mostrar potencial, levando o Brasil a pensar em construir a primeira ligação com o Paraguai, a Ponte da Amizade.

Em meio a essa realidade, um grupo empresários da cidade, João Lobato Machado, Fernando Campiã, Vitório Basso, entre outros, comandados pelo coronel Acylino de Castro, fundam em 1953 o jornal A Notícia. Três anos depois, surge a Rádio Cultura. A 4 iniciativa partiu de alguns empresários, políticos, advogados e farmacêuticos que também fundaram o jornal: Romário Vidal, Vitório Basso, Augusto Araújo, Damião Neto e João Lobato Machado. Na época, o peso dos acionistas era muito importante.

O jornal publicava a programação da Rádio Cultura e era escrito praticamente pela mesma equipe. O editorialista do periódico, João Lobato Machado, passou a emitir comentários e opiniões na emissora assim que o jornal encerrou as atividades, no início de 1959, por falta de viabilidade financeira.

A programação da rádio iniciava às 7 horas com um quadro chamado “Bom Dia Fronteira”; às 7h30 entrava no ar o “Jornal da Manhã”, existente até hoje. O que aparece de inusitado no período é a inexistência de programação entre as 15h e as 18h, porque não havia geração de energia elétrica na cidade, conta Rocha, hoje comentarista da Rádio Cultura e ex-diretor. Rocha está na emissora há mais de 40 anos.

A cidade era abastecida pela antiga usina São João, que operou dentro do Parque Nacional do Iguaçu entre 1942 e 1957. Um conjunto de motores a diesel era desligado neste horário porque a população, naquela época, praticava a siesta, hábito cultivado hoje pelos argentinos. O fornecimento de energia era intermitente.

Pequeno, o transmissor da rádio de 500 watts era limitado e tinha um alcance de aproximadamente 40 quilômetros a partir de Foz do Iguaçu, distância a que hoje se encontra a cidade de Santa Terezinha de Itaipu. Na época, a Argentina já contava com a Rádio Nacional, e Ciudad del Este, no período chamada de Flor de Liz, tinha outra emissora com alcance 10 vezes maior em relação à Rádio Cultura. Sabendo disso, a direção da Rádio, em 1970, já na ditadura, pediu para aumentar a potência e obteve o aval positivo do governo federal, responsável pelas concessões públicas.

Assim, a emissora conseguiu uma potência de 10 mil watts. O nacionalismo foi um dos argumentos usados para convencer o governo a aumentar a potência, porque já havia uma predisposição em estabelecer emissoras na fronteira para fortalecer a soberania por meio da língua e da música. “A justificativa era essa, que nós estávamos em uma fronteira onde paraguaios e argentinos tinham emissoras potentes com interferência direta na cidade e nas cidades vizinhas, e a gente perdia até em costumes e usos”, diz Rocha.  Foi nessa época também que a frequência de emissora passou a ser 820 MHz, como está até hoje.

Além de jornalismo, a programação trazia entretenimento, como expõe Rocha:

A rádio tinha jornalismo, radioteatro, novela, esporte. Ela buscava na cidade pessoas com jeito para fazer o trabalho. Havia um escrivão de polícia que era um locutor fantástico, tinha um noticiarista que era diretor da Câmara, o capitão Cyrino da Marinha era apresentador de programa de auditório. A esposa do Dr. Silvio Cury interpretava novela, radionovela produzida em Foz.

Ainda na primeira sede, em um espaço dentro do Hotel Cassino, hoje atual Senac de Foz do Iguaçu, a emissora contava com um auditório com bancos de madeira de onde eram feitos os programas à noite e aos domingos, pela manhã e tarde. Durante os programas de auditório, havia sorteio de brindes arrecadados pelos próprios apresentadores. Valia tudo, desde linguiça oferecida por um açougue até pacote de bala e camisetas, conta Rocha. Outro programa de entretenimento levava o nome de “Atendendo Você”. As pessoas ofereciam músicas a outras, mas pagavam por isso.