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Produtores temem invasão

Conflito agrário

Produtores temem invasão

Brasileiros proprietários de terra no Paraguai se protegem contra onda de invasão de sem-terra

Denise Paro

Foz do Iguaçu – Produtores rurais brasileiros e paraguaios estão se armando no campo e endurecendo o discurso contra o presidente eleito Fernando Lugo. Eles exigem que o ex-bispo se pronuncie com mais firmeza contra as invasões de terra para evitar a explosão de um conflito social no país. Também cobram a aplicação da lei por parte da Justiça.

Ontem, plantadores de soja se reuniram com o presidente da Corte Suprema de Justiça do Paraguai, Victor Nunez, em Assunção. Pediram providência diante da ocupação de pelo menos 5 mil hectares de terra em todo país.

Atenta a situação, a presidente da Associação de Produtores de Soja do Paraguai, a paraguaia Cláudia Russer, acredita que é preciso tomar medidas urgentes. “Somos contra essa atitude dos sem-terra e acreditamos que tanto o atual presidente quanto o eleito precisam contribuir para pacificar a situação e não permitir a violência”, diz. Ela também cobra um posicionamento mais rígido de Lugo, pois, segundo ela, o discurso do religioso passa a impressão de ser favorável aos sem-terra paraguaios.

O clima de tensão no Paraguai começa a ultrapassar as fronteiras e a respingar no Brasil. Apesar de não ter se pronunciado oficialmente, o governo Luis Inácio Lula da Silva estaria disposto a se reunir na próxima semana com autoridades paraguaias na tentativa de conter os sem-terra que já invadiram mais de 15 propriedades nos estados de San Pedro, Misiones, Itapuá e Alto Paraná, boa parte pertencente a brasileiros.

Enquanto as atitudes para frear os campesinos não passam do discurso verbal, a onda de invasões chega perto da fronteira com o estado do Paraná, onde vive pelo menos 70% dos imigrantes brasileiros no país vizinho. Na Colônia Iguazú, a 55 quilômetros de Foz do Iguaçu, duas propriedades de brasileiros foram invadidas semana passada, e outra, que fica na mesma área, está sendo ameaçada.

A fazenda ameaçada, de 6 mil alqueires, pertence ao brasileiro Aparecido Donizeti da Silva. Para se proteger, ele mantém durante 24 horas seguranças armados em uma guarita, junto a um portão de 30 metros, construídos em 2001 justamente para evitar invasões, sempre constantes no Paraguai.

Na semana passada, campesinos do movimento Che Ruguymi, de Ciudad del Este, estiveram na propriedade alegando que Silva possuiu um excedente de terra de 1.750 alqueires sem documentação. O brasileiro, que adquiriu a área em 1973, contesta e acusa os sem-terra de estarem dispostos a invadir uma reserva verde da propriedade para tirar madeira.

Em visita na manhã de ontem na Colônia Iguazú, Paraguai, uma comunidade situada a cerca de 55 quilômetros da fronteira com Foz do Iguaçu, o Ministro da Agricultura do Paraguai, Alfredo Molinas, disse que os camponeses estão chamando atenção para mostrar que são uma frente com força suficiente para negociar com o governo Lugo.