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Problemas de saúde mental aumentam com pandemia

Crises de ansiedade, depressão, estresse, fobias, transtornos, entre outras doenças, se agravaram na pandemia, afirmaram os especialistas da área na décima reunião da Frente Parlamentar do Coronavírus. O isolamento social e o receio na procura do atendimento médico agudizam os quadros dos problemas mentais em função da da covid-19.  “A saúde mental sempre foi um grande problema da saúde pública que se agravou ainda mais com a pandemia”, ressalta o deputado Michele Caputo (PSDB), coordenador da frente.

O médico Osvaldo Tchaikovski Junior, diretor do Hospital Adauto Botelho, unidade pública especializada em psiquiatria e o psicólogo Fernando Garcia participaram videoconferência com os deputados. “Uma pesquisa da OMS aponta que só 2% dos orçamentos públicos de saúde são usados na saúde mental. A área é um problema muito grande pelo pouco financiamento que tem”, disse Michele Caputo.

“A pandemia e o isolamento social recorre o aumento de problemas psicológicos na população principalmente quem já tinha fatores preexistentes, isso entrelaça com condições sociais que acaba sendo desestruturadas e potencializando um agravamento à saúde mental”, disse Tchaikovski Junior em relação da gravidade da situação.

Aumento 

O médico cita como exemplos desse impactos, o aumento dos casos de violência doméstica, do divórcio e do consumo de álcool. “Podemos falar em pandemia de divórcio com aumento de 30% quando comparado ao trimestre anterior a pandemia. Alguns escritórios de advocacia especializados em questões familiares relatam que busca por divórcio aumentou de 100% a 170% quando comparado ao mesmo trimestre ano passado”, explicou

Além desses fatores, Tchaikovski Junior cita a perda de entes queridos, muitas vezes sem a possibilidade de despedida e velório em decorrência do risco de contaminação por covid-19, como prejudicial ao luto de forma mais saudável. “O medo de não poder fazer a cerimônia, não poder fazer os procedimentos necessários para que se encerre o ciclo, de poder sentir que a pessoa se foi, parece que ficou um vazio e sentimento de fracasso reflete na saúde das pessoas”.

Tchaikovski ainda cita os problemas socioeconômicos agravados pela pandemia. “Nossas taxas de desemprego nunca tiveram tão altas, segundo os dados do IBGE de agosto, 13%, além das pessoas que já nem estão mais procurando emprego por causa da pandemia”, afirmou, lembrando também que 7,8 milhões de postos de trabalho e 5,8 milhões de postos informais deixaram de existir por conta do Coronavírus.

Setembro Amarelo 

Quais são os reflexos disso na saúde mental? “O aumento da depressão, o aumento gigantesco da ansiedade, do uso de álcool e outras drogas, até porque muitos grupos como o alcoólicos anônimos e comunidades terapêuticas vinculadas às igrejas deixaram de existir presencialmente”, respondeu o médico, que deu de exemplo dos dados levantados por grupos de autoajuda do Canadá revelou que consumo de álcool aumentou em 20% durante a pandemia.

“Houve o aumento de estresse, preocupação excessiva, pensamentos intrusivos que são aqueles pensamentos negativos, a irritabilidade que piora as situações e as tentativas de suicídio”, completou

Este mês, lembrou o médico, é realizado o Setembro Amarelo, com ações voltadas para a saúde mental e prevenção do suicídio. “Os índices de suicídios estão aumentando no Brasil, para cada um suicídio aconteceram outras 20 tentativas. Temos levantamentos históricos como a crise econômica na Grécia, nos quatro primeiros meses teve aumento de 40%, na grande crise de 29, os índices de suicídios foram ascendentes por 4 anos. Não podemos deixar esse assunto de lado, aprendemos com a história que devemos desenvolver políticas de apoio as pessoas[“.

Linha de frente 

Já o psicólogo Fernando Garcia afirmou estar preocupado com os efeitos da pandemia na saúde mental dos profissionais de saúde, que estão na linha de frente no combate à covid-19. Segundo os dados da OMS citados pelo psicólogo, na China onde começou a pandemia, 50% dos profissionais de saúde tiveram crises de ansiedade, 45% depressão e 47% insônia.

“O desdobramento que se dá depois da pandemia é altíssimo, é como se a gente tivesse tentando trocar a roda do carro com o carro rodando e isso complica muito a situação. Nunca enfrentamos uma situação pandêmica desse nível, não tem solução pronta para isso, o que podemos fazer é tentativa, acerto e erro”, afirmou.

O deputado Michele Caputo agradeceu os especialistas e disse que a frente parlamentar trabalha nos encaminhamentos necessários ao poder público, frutos dos debates realizados nas reuniões. “É muito importante a gente se sensibilizar em relação a saúde mental, os convidados demonstraram brilhantemente que os efeitos da pandemia podem durar muitos anos após o fim dela. Por isso precisamos manter o trabalho da frente perspectivando também a pós-covid”.