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Preso em Curitiba e preocupado com o futuro do PT, Lula indica a descontrolada Gleisi como porta-voz

Preso em Curitiba e preocupado com o futuro do PT, Lula indica a descontrolada Gleisi como porta-voz

Ucho Haddad

Por mais que tente demonstrar tenacidade diante dos desdobramentos dos fatos recentes, Lula por certo já entrou na fase do desespero por conta da sua prisão, após esticado e melodramático enredo que chegou ao final na tarde do último sábado (7).

Essa intranquilidade de Lula, negada por seu advogado, fica evidente na decisão do petista-mor de escalar como sua porta-voz a “companheira” Gleisi Helena Hoffmann, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores e anda senadora pelo Paraná.

Horas antes de se entregar à Polícia Federal, o ex-presidente da República, condenado a doze anos e um mês de prisão no escopo da Operação Lava-Jato por corrupção e lavagem e dinheiro, reuniu vice-presidentes e demais dirigentes do PT, parlamentares e líderes de movimentos sociais para dar uma de suas últimas orientações políticas antes de ir para a prisão: enquanto estiver na cadeia, em Curitiba, quem fala por ele sobre assuntos do partido é Gleisi Helena.

A opção, não há dúvidas, é pela radicalização, visto que Gleisi Hoffmann vive em permanente surto discursivo e sempre faz a opção pelo caminho mais radical. O que nem sempre produz resultados positivos. Porém, ainda na esteira da Lava-Jato, a função de Gleisi, como porta-voz e presidente da legenda, pode durar pouco.

Ré no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção e lavagem de dinheiro, Gleisi Helena é séria candidata a fazer companhia a Lula nos cárceres da Polícia Federal em Curitiba ou no Complexo Médico-Penal de Pinhais, na região metropolitana da capital paranaense.

Dos políticos do PT com mandato vigente, a senadora é a primeira da fila para ser julgada e com chances concretas e maiúsculas de condenada e presa. A respectiva ação penal trata de pagamento de propina de R$ 1 milhão, oriunda do Petrolão, em um supermercado em Curitiba. O processo é o mais adiantado em termos de tramitação no STF.

A unção de Gleisi ao papel de parlatório ambulante tem viés estratégico para Lula. Com a canina fidelidade que dedica ao ex-presidente e sem potencial para fazer-lhe sombra (sem chances de se reeleger senadora, tentará uma vaga de deputada federal), ela representa uma tentativa de manter o partido sob o controle de Lula, ainda que este venha a passar longo período atrás das grades.

A preocupação maior de Lula é que, na sua ausência, as muitas correntes e grupos internos que disputam espaço no PT deflagrem uma guerra fratricida pelo poder. Fora isso, o ex-presidente, em seu pífio discurso que foi prefaciado por uma missa de encomenda, sequer pinçou um nome petista como candidato ao Palácio do Planalto. Ou seja, Lula sabe que o partido está por um fio em termos de unidade.