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Paraguaios acusam Língua de Trapo de xenofobia, ofensa e difamação

Anna Virginia Balloussier
UOL

Já faz três décadas que os paulistas da Língua de Trapo cantam sobre o uísque “12 anos feito em um mês” e o tênis “made in Hong Kong”. Até agora, a música “Tudo para o Paraguai” escapara à berlinda. “Ninguém havia se manifestado contra ou a favor”, diz o vocalista Laert Sarrumor, 53, cofundador da banda que se define como “anárquica e avacalhada”.

Nos últimos dias, contudo, ele passou a receber comentários agressivos via internet. “De ‘hijo da puta’ pra baixo.” A culpa é de um vídeo gravado por uma amiga, posto no YouTube em setembro de 2010. Acusado por paraguaios de incitar a xenofobia, o trecho reproduz um show na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo) em que três integrantes da Língua caçoam do país fronteiriço.

Assista ao vídeo neste link: http://youtu.be/qVG86XhEOsY

A canção retrata o Paraguai como uma Disneylândia da pirataria e do contrabando. São versos como “os carros que aqui são roubados, lá são encontrados”, ou “ponte da Amizade, onde tudo pode: pó de cocaína , pó de guaraná”.

Segundo Sarrumor, a ira dos vizinhos se multiplicou anteontem, após o vídeo ser noticiado no site do “ABC”, um dos maiores jornais locais. A publicação descreve como o trio ” começa a dizer ‘Paraguai’, imitando o tom das polcas de nosso país”.

O encarregado de negócios do Paraguai no Brasil, Didier Olmedo, diz que a liberdade de expressão não é desculpa para “ofensa e difamação”. “Não sei se você viu a letra… Muito ofensiva! Estão falando de flagelos universais, como pirataria. E ela não é exclusiva do Paraguai.”

Olmedo lembra de leis brasileiras, como a 7716/89, que pune crimes de discriminação por “procedência nacional”. Para Sarrumor, “humor é assim mesmo, pega estereotipo para fazer brincadeira”.

“A gente tira sarro de português, pastor evangélico, nordestino, argentino… As pessoas entendem que é humor e tiram de letra”, afirma.

SIMPSONS – Em 2002, um capítulo de “Os Simpsons” mexeu com os brios brasileiros. A grita se deu porque, em visita ao Rio, a família amarelada encontrava um pacotão de clichês: filas em ritmo de conga, violência urbana a cada esquina e Xoxchitla, a apresentadora infantil hiperssexualizada.

Na época, o então presidente FHC disse se tratar de “visões distorcidas” do Brasil.