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Onze crises marcaram os últimos treze anos em Londrina

Gazeta do Povo

Nos últimos 13 anos, Lon­­­dri­­na vivenciou 11 crises políticas. No período, cinco prefeitos estiveram no comando do município – três deles por vencerem eleições e dois cumprindo mandatos como interinos.

Os três prefeitos eleitos: Antonio Belinati (PP), que administrou de 1997 a 2000, Nedson Micheleti (PT), que administrou de 2001 a 2008, e Barbosa Neto (PDT), eleito em março de 2009, num inusitado “terceiro turno”, são réus em ações propostas pelo Ministério Público, acusados de desvio de recursos públicos.

Dirigentes do primeiro escalão municipal chegaram a ser presos, suspeitos de envolvimento em casos de corrupção (dois secretários, quatro ex-secretários e um diretor da Sercomtel já estiveram atrás das grades). A cadeia também abrigou o próprio Belinati. Em 2001, ele foi detido em duas oportunidades, ficando preso por 10 dias no total.
Saiba maisOs 7 fatores de Londrina.As crises, porém, não são exclusividade do Poder Executivo de Londrina. Qua­­tro vereadores da cidade foram presos e 15 foram denunciados por improbidade administrativa em diversas situações. Vários processos estão em andamento.

Outra peculiaridade da política local é que os últimos 13 anos foram marcados por processos de cassação a prefeitos e vereadores. Belinati foi cassado em 22 de junho de 2000 e Barbosa Neto começa a enfrentar uma Comissão Processante (CP), que tem até 4 de agosto para encerrar seus trabalhos. Dois vereadores também passaram por processos de cassação: Orlando Bonilha, cassado em 2008, e Rodrigo Gouvêa (PTC), absolvido em 2010.

O início das crises é o caso Ama/Comurb, ocorrido no terceiro mandato de Belinati como prefeito da cidade. O escândalo culminou em ações judiciais questionando 112 licitações supostamente fraudulentas, que teriam resultado em um desfalque de R$ 14,4 milhões em valores da época.

Cidade vive na expectativa de novas denúncias

Além da soma de fatores que fazem Londrina viver em permanente crise política, um clima de expectativa por novas denúncias e pela punição dos culpados toma a cidade. Para Bruno Galatti, Sub-procurador-geral de Justiça para assuntos de Planejamento, um promotor não se sente sozinho em Londrina. “O que em outros lugares é visto como apenas mais um desvio, em Londrina o sentimento é de indignação”, diz. Ele acredita que há motivos para ter esperança de que a sequência de crises seja capaz de, um dia, levar à gestão correta dos recursos públicos.

Já para o presidente da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Londrina, Elizandro Pellin, o fato de existirem dezenas de ações judiciais e tantas outras prisões temporárias ou preventivas, mas poucas sentenças, resulta numa imagem ruim para a cidade. “Londrina fica maculada, mas não há condenações ainda”, comenta. Ele avalia que é preciso “diminuir o espetáculo, fazendo investigações mais silenciosas e mais profundas, que tragam resultados mais objetivos”.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Luiz Geraldo Mazza, colunista político da rádio CBN e do jornal Folha de Londrina, destaca que a pressão exercida por sobrenomes fortes, de tradição familiar, que leva a um certo protecionismo, é menor em Londrina do que em Curitiba, por exemplo. Outro aspecto que ele enfatiza é que no Norte do Paraná a mobilização social é mais presente. “Denúncias de irregularidades pesam sobre a Câmara de Curitiba e aparecem só quatro pessoas lá na frente para protestar”, compara.

Para Ermar Toniolo, que integra o Observatório Social – organização que fiscaliza gastos públicos – questões culturais pesam na pressão popular. “Ao contrário de outras cidades de formação mais tradicionais, os colonizadores locais estão mais acostumados ao associativismo e o cooperativismo”, pondera.

O coordenador estadual do Grupo de Atuação Espe­­­cial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Leonir Batisti, comenta que enquanto na capital aparecem mais casos de improbidade administrativa, que acabam sendo julgados na esfera cível, em Londrina são recorrentes as situações que caracterizam crimes, como suspeitas de pagamento de suborno e propina. E essas situações resultam em prisões, o que gera muito mais

Histórico

Confira os principais escândalos que comprometeram o cenário político de Londrina:

• 1999 Ama/Comurb
A investigação de um contrato de roçagem revelou um esquema de licitações supostamente fraudulentas na Comurb. O MP protocolou diversas ações pedindo a devolução de R$ 14,4 milhões.
• 2005 Caixa 2
Uma ex-assessora de Nedson Michelti (PT) acusou a existência de caixa dois na campanha petista. O caso acabou arquivado.
• 2006 Greve do funcionalismo
O funcionalismo municipal fez uma greve de 100 dias. Os grevistas fecharam o prédio da prefeitura, forçando prefeito e secretários a despacharem em outros prédios públicos.
• 2008 Propina
O então vereador Henrique Barros foi preso em flagrante com dinheiro que, segundo o Ministério Público, seria proveniente de propina cobrada para aprovar um projeto de interesse de um empresário. As investigações respingaram em outros parlamentares. Seis chegaram a ser afastados. O presidente da Câmara, Orlando Bonilha, teve o mandato cassado.
• 2009 Terceiro turno
Dois dias depois de ser eleito, Antonio Belinati (PP) teve o registro da candidatura cassado. A Justiça Eleitoral convocou um terceiro turno entre os segundo e terceiro colocados no pleito.
Merenda escolar
O contrato de merenda escolar foi alvo de auditoria que apontou superfaturamento de R$ 681 mil..
Salário e propina
Vereadores foram acusados de receber parte do salários dos assessores e pedir propina. O vereadore Rodrigo Gouvêa ficou 23 dias preso e foi absolvido num processo de cassação. O vereador Joel Garcia (PP) ficou 54 dias preso, acusado de manipular testemunhas.
• 2010 Operação Antissepsia
Investigações apontaram direcionamento na contratação de ONGs e pagamento de propina feito por elas a agentes públicos.
• 2011 Guarda municipal
O treinamento da guarda municipal foi investigado pelos vereadores. O relatório produzido, isentando Barbosa Neto das irregularidades encontradas, foi rejeitado pelo plenário.
• 2012 Caso Centronic
Barbosa Neto teria mantido dois vigias contratados pela Centronic e pagos pela prefeitura na emissora de rádio da sua família.
Compra de votos
Uma suposta tentativa de suborno para evitar investigação de denúncias contra Barbosa Neto levou pessoas ligadas a ele para a cadeia.

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