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O plano de reeleição de Bolsonaro e o fator Lula

Rodrigo Augusto Prando

A recente pesquisa do Instituto Ipec, em que pese a distância temporal das próximas eleições, não são nada animadoras para o Presidente Jair Bolsonaro e os bolsonaristas. Na investigação de intenção de votos, temos o seguinte cenário: Lula com 49%, Bolsonaro com 23%, Ciro Gomes com 7%, Doria com 5% e Mandetta com 3%.

Lula lidera em todos os segmentos do eleitorado e no recorte geográfico tem, no Nordeste, 63% das preferências, abrindo 48 pontos de vantagem sobre Bolsonaro e, no Sudeste, tem 47%, enquanto Bolsonaro 24%. Os já conhecidos ataques de Bolsonaro à imprensa, especialmente às mulheres, foi, na semana passada, como um momento de “surto” do presidente. Se, por um lado, há o Presidente da Câmara, Arthur Lira, desacreditando os trabalhos da CPI do Senado afirmando que não levaria a instalação de um processo de impeachment; doutro lado, há o fator Lula que terrifica Bolsonaro, embora ele goste de menosprezar o petista e seus eleitores. Nesta aludida pesquisa, Lula não só ganha de Bolsonaro, como, inclusive, poderia ganhar no primeiro turno. A aposta do Planalto é que, em 2022, a economia esteja melhor e os brasileiros vacinados queiram virar a página da pandemia. Sinceramente, não sei se ambos os fatos serão capazes de afastar de Bolsonaro suas decisões políticas no que tange à pandemia, os milhares de mortos, o comportamento negacionista e a luta deliberada contra as vacinas.

A CPI avança e, no momento, colhe depoimento de deputado que afirma conhecer indícios de corrupção na compra da vacina Covaxin, trazendo para o bojo do governo um escândalo de corrupção, pois a corrupção dos “outros”, da “velha política” e dos petistas foi elemento importante para Bolsonaro ganhar espaço em 2018. Outro aspecto ainda recente, foi a demissão de Ricardo Salles, também sob suspeitas e investigado. A conjugação de dois eventos de corrupção no núcleo duro do poder bolsonarista pode prejudicar assaz o discurso político e eleitoral vindouro. Já o ex-presidente Lula está fazendo aquilo que mais gosta: articulando, discutindo e viajando pelo país. As decisões do STF que tornaram Sérgio Moro suspeito para julgar e que devolveram os direitos políticos à Lula darão ao petista um amplo leque de possibilidades retóricas e de alianças políticas. É bem mais provável que Lula tenha diálogo e apoio no Centro do que Bolsonaro que, até hoje, fez de tudo para manter apenas conexões com sua base mais fiel e resiliente. Lula chama e busca falar para todos; Bolsonaro chama e fala para os seus. Com projeções que levam, com base nos números hoje, uma provável derrota de Bolsonaro, as ideias de voto impresso e colocar as urnas eletrônicas sob suspeita tomam dimensão estratégica objetivando a obnubilar as eleições e, no limite, colocar em xeque a própria legitimidade do processo eleitoral e da democracia brasileira. Bolsonaro assevera, desde 2018, ter provas de que a eleição foi fraudada e que ele teria vencido no primeiro turno, contudo, tais provas nunca foram apresentadas.

Numa posição desconfortável estão Ciro, Doria e Mandetta, pois apresentam apenas um dígito de intenção de votos e não constituem, ainda, musculatura eleitoral para fazer frente aos dois grandes adversários. Em termos de construção de imagens, os candidatos no chamado Centro (ora à direita ora à esquerda) afirmarão que Bolsonaro e Lula são idênticos, ou seja, estariam alicerçados em projetos populistas de poder.

Veremos se isso prosperará. Lula, alquebrado pelo Mensalão, conseguiu ser reeleito; Bolsonaro, enfraquecido agora, tem recursos para ações até 2022.

Rodrigo Augusto Prando é Professor e Pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.