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O gosto amargo da recessão

Gilmar Mendes Lourenço. Foto Roberto Corradini-SECS
Foto Roberto Corradini

Gilmar Mendes Lourenço

A recessão, instalada na economia brasileira desde o segundo trimestre de 2014, vem fazendo despencar a produção das fábricas, as vendas do comércio, as receitas dos serviços e a massa de rendimentos do fator trabalho, composta por queda do emprego e dos salários reais, em intensidade jamais vista na história da nação.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação subiu de 7,9% da população economicamente ativa (PEA), entre janeiro e março de 2015, para 10,9% da PEA, no mesmo intervalo de 2016, o que equivale a 11,1 milhões de pessoas sem emprego a procura de trabalho.

A reversão do cenário depende de um arsenal macroeconômico que propicie a sinalização de recuperação das finanças

O fechamento líquido de vagas atingiu as cinco grandes regiões brasileiras, revelando maior dramaticidade no Nordeste, onde passou de 9,6% para 12,8% da PEA, no intervalo em tela, e Sudeste (de 9,0% para 11,4% da PEA), reflexo da flagrante exaustão do ciclo de consumo, puxado por inclusão social, ensejada primordialmente por transferências oficiais de renda, e da fragilização do setor industrial, respectivamente.

Também assumiu relevância a ascensão do desemprego no Norte (de 8,7% para 10,5% da PEA), em razão da redução da produção da Zona Franca de Manaus, motivada pelo enfraquecimento da demanda interna por bens de consumo duráveis, movida a crédito abundante e caro e expansão dos salários reais acima dos ganhos de eficiência do sistema, e da mineração, explicada pelo encolhimento do mercado externo, principalmente com a desaceleração da economia da China.

Na Zona Franca, as vendas industriais decresceram -37% no primeiro trimestre de 2016, contra idêntico intervalo de 2015, e, no final de março de 2016, a quantidade de mão de obra empregada correspondia a 80% da apurada em dezembro de 2015, regredindo aos níveis verificados no começo da década de 2000.

Mesmo os espaços geográficos ainda fortemente dominados pela dinâmica dos ramos mais articulados ao agronegócio, que vem sendo favorecido pela combinação entre produção recorde de grãos e depreciação do real, acusaram tendência de apreciável deterioração do mercado laboral. A desocupação saltou de 5,1% para 7,3% da PEA, no Sul e, de 7,3% para 9,7% da PEA, no Centro Oeste.

De fato, o desemprego se espalha em ritmo preocupante por todo o País, em consequência da combinação entre persistentes falhas de política econômica e maximização dos desequilíbrios políticos e institucionais, entraves crônicos para os quais não se vislumbram soluções ou alternativas de saídas negociadas, em curto e médio prazo.

A reversão do cenário caótico depende, de um lado, da aplicação de um arsenal macroeconômico que propicie a sinalização de recuperação da solvência das finanças governamentais, e, de outro, da priorização e estímulos a segmentos portadores de condições de garantir respostas rápidas na direção da retomada do crescimento econômico.

Sem menosprezar o papel fundamental da formulação e execução de uma abrangente e consistente política industrial, mereceriam especial atenção, de imediato, cadeias do agronegócio e da infraestrutura, esta última com repercussões diretas na construção civil, reduto de contratação de trabalhadores de menor qualificação e rendimentos, justamente os mais atingidos pela prolongada e profunda recessão.

Gilmar Mendes Lourenço, economista, é professor da FAE Business School.

Foto: Divulgação

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