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O estrabismo e a miopia do governo federal

O estrabismo e a miopia do governo federal

por Beto Richa

Cresce a descrença no governo federal. Os motivos? Estrabismo e miopia.

A visão estrábica é um artifício usado para persuadir a sociedade brasileira de que tudo vai bem. Onde há um, o governo enxerga dois e tenta nos convencer de que essa ilusão de ótica é um fenômeno verdadeiro.

A miopia não carece de maiores explicações. É um problema crônico que afeta por completo os atuais detentores do poder federal. Trata-se de uma gestão na qual ninguém consegue enxergar muito longe, a não ser para tirar algum proveito individual.

Essa visão reduzida e distorcida tem causado sérios danos ao País. E não são poucos. Um exemplo: no mesmo sentido do descontentamento generalizado na condução do País, decrescem os investimentos de empreendedores nacionais ou internacionais no setor industrial brasileiro.

De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), durante o período da presidente Dilma a produção industrial, na maioria dos Estados, permaneceu estagnada, quando não caiu. O setor enfrenta má situação financeira e é pequena a perspectiva de crescimento no curto e no médio prazos.

A não ser por algumas intervenções pontuais, como a redução de impostos para ramos específicos, pouco se fez para apoiar este importante setor de nossa economia. O nível de emprego na indústria brasileira acumulou perdas por dois anos seguidos entre 2011 e 2013 e a produção fabril segue em baixa, reforçando a tese da desindustrialização do País levantada desde que o PT assumiu a presidência.

Apesar das distorções do governo, há oportunidades de atrair investimentos, pois empreendedores seguem acreditando no Brasil. Prova disso é o histórico processo de industrialização que vivemos no Paraná. Graças a uma política de incentivos inovadora, nosso Estado hoje recebe um dos maiores investimentos privados do País. É a nova fábrica da Klabin, projeto de R$ 8 bilhões.

A ele se somam outros R$ 22 bilhões que estão sendo aplicados por dezenas de empresas que acreditaram na condução de uma política séria de estimulo ao investimento produtivo. Dos R$ 30 bilhões atraídos ao Paraná em três anos, R$ 4 bilhões foram captados no mês passado, fruto de negociações com três grandes companhias.

O Grupo Petrópolis vai instalar uma cervejaria e uma maltaria no interior do Estado, além de assumir duas unidades de processamento de soja. O valor do investimento é de R$ 2,2 bilhões. A Volvo vai injetar R$ 1,2 bilhão na ampliação da fábrica paranaense e a Renault confirmou mais R$ 800 milhões no Complexo Airton Senna e a instalação de um centro logístico para a América Latina.

Este estágio de ampliação e diversificação do parque fabril paranaense cria 180 mil novas oportunidades de trabalho no Estado, a imensa maioria no interior. Esta é uma das nossas grandes conquistas, fruto de premissas como diálogo, respeito e segurança jurídica, que são a marca de nosso governo.

Além de alterações da política fiscal, atuamos em mais quatro frentes: internacionalização e comércio exterior, infraestrutura e logística, capacitação de mão-de-obra e desburocratização. Com isso, foi possível reinserir o Estado na agenda dos investidores, da qual o Paraná ficou absolutamente afastado por quase uma década.

O Paraná não é uma ilha e, claro, é contaminado pela falta de visão no âmbito federal. Mas temos mostrado diferenciais. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) mostra que a produção industrial paranaense cresceu 18,4% de janeiro para fevereiro deste ano, ante a alta de 0,4% para a média nacional.

São números que revelam que quando se cria um ambiente propício ao investimento produtivo a economia reage. No Brasil, a lição que deveríamos estar fazendo é deixar de penalizar quem empreende. Para isso, é preciso olhar para frente e retirar obstáculos que não nos permitem alçar voos mais altos que o de uma galinha.

Os problemas que inibem maiores investimentos no País são conhecidos. Entre eles se destacam a alta carga tributária, falta de infraestrutura e de qualificação dos trabalhadores e as estratosféricas taxas de juros.

O desalento é reforçado pela absoluta inércia do governo federal em tratar as demais reformas estruturantes. Se não transformarmos a realidade nacional, mesmo os Estados que têm bons indicadores, como é o nosso caso, sofrerão declínio. Este não é um vaticínio pessimista, é um alerta, pelo bem do Brasil.