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O Brasil e o resgate da economia internacional

O Brasil e o resgate da economia internacional

Rafael de Lala

Ao tempo em que vence o primeiro desafio na frente interna, conseguindo obter do Senado a aprovação do seu pacote de socorro aos bancos endividados e aos mutuários de casa própria insolventes, o presidente Obama, dos Estados Unidos, se prepara para outro teste decisivo: a coordenação de iniciativas na esfera internacional para o resgate da economia. Será durante a reunião do Grupo dos 8 países  mais representativos (o G-8), neste fim de semana, que terá também a participação dos cinco membros imediatos, o G-5 – nele incluso o Brasil – convocada sob iniciativa da Itália.

Ambas as ações são fundamentais para o lançamento positivo da nova administração: no plano interno Obama precisa restaurar o mínimo de confiança para ultrapassar a baixa adesão da sociedade ao seu programa de estabilização. Na esfera internacional formou-se o consenso de que somente um esforço coordenado dos governos das principais nações conseguirá estancar a crise que se espalhou mundo afora.

A esta altura importa menos identificar as origens da crise (a nosso ver resultante de falhas no funcionamento do sistema econômico, mas também dos custos incorridos nas intervenções militares externas do governo Bush, que solaparam a capacidade competitiva do país), do que trabalhar nas soluções. Elas começam na identificação de uma restrição básica: da mesma forma que a globalização irradiou crescimento durante uma década, agora os Estados Unidos descobrem que, para superá-la, precisam dialogar com outros atores num “mundo pós-americano”.

O termo, cunhado pelo especialista em relações internacionais Fareed Zakaria, implica em reconhecer que se os Estados Unidos continuam a ser a principal potência econômica e militar, neste novo século não estão sozinhos e hegemônicos: se quiserem assegurar um mínimo de estabilidade política e restauração econômica precisam contracenar com novos parceiros. Assim, ao lado dos grupos e nações maduras, ainda ocupando o centro do palco – União Européia, Reino Unido, Japão – colocam-se a Rússia herdeira da potencia militar soviética e os emergentes de escala: China, Índia, Brasil, México e África do Sul; além de outros atores como a Coréia do Sul e os países árabes do Golfo, enriquecidos com a industrialização e o petróleo.

Após encarar o desafio imediato da restauração interna, o governo Obama deve, portanto, ceder à realidade de um mundo multipolar, buscando coordenação de políticas com os novos “global-players” do Grupo dos 20 (países centrais mais emergentes de escala) para obter alívio do caos econômico-financeiro precipitado em 2008. O novo secretário americano do Tesouro, Thimothy Geithner, reconheceu essa nova realidade de interesses compartilhados, a começar pela resistência às manifestações de protecionismo doméstico que ressurgem aqui e ali – máscara para esconder a desconfiança em um mercado regulado pela ordem internacional. 

O desafio colocado vai além da atuação do novo governo americano, interessando a todos os líderes de bom senso, que devem estar empenhados em recolher as lições da crise dos Anos 30. Naquela época, por influência de múltiplos fatores, os países preferiram lidar com o colapso dos mercados mundiais recolhendo-se cada um à sua carapaça isolada – o que só prolongou o dano e ensejou um sofrimento maior, a II Guerra Mundial.

Para o Brasil a conjuntura coloca também uma oportunidade e um desafio: no plano geral, apoiar a busca de soluções multilaterais via grupos de consulta como o G-8 ampliado e o G-20 (grupo que vai se reunir no começo de abril) e, internamente, manter políticas prudentes. Estas implicam tolerar o ciclo de retração, sem a pretensão de neutralizar seus efeitos mais amplos como tentou fazer recentemente a Rússia – apenas para descobrir que o limite é a fragilidade dos fatores de confiança externa. A recuperação poderá ser lenta, mas nosso país – reconhecem os observadores – é um dos mais preparados para suportar a travessia.