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Não é somente durante a Rio+20 que precisamos de ambição, por João Arruda

Na semana passada, terminou no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Nosso país emprestou uma cidade inteira para o mundo, uma cidade transformada em território das Nações Unidas. O Brasil teve pelo menos dois papéis importantes nessa Conferência: porque foi anfitrião e principalmente porque ocupamos uma posição muito relevante no contexto da economia verde, ou de qualquer outro desenvolvimento.

E no caso dessa Conferência, embora ela trate de desenvolvimento prioritariamente ligado ao ambiente, ela, por si só, já é uma representação de como os países desenvolveram um diálogo minimamente aceitável ao longo dos anos, o que foi essencial para a sobrevivência de nossas culturas e tecnologias. Porque não estão em jogo somente nossos recursos naturais e nosso afeto pelo consumo, mas todos os nossos progressos humanos.

Mas apesar disso, o texto final da Conferência recebeu uma porção de críticas da parte de diversos setores da sociedade civil organizada. A principal dessas críticas é que faltou ambição. Que o resultado desses anos de preparação poderia ter sido melhor. E isso não deixa de ser verdade, quando todos estão com pressa de solucionar problemas que atrasam a melhora na vida de cada pessoa do mundo.

Depois da Rio+20, por exemplo, não houve um acordo pleno entre os países sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Nesse caso, a questão é justamente a pressa: a disputa é por prazos, uma questão de agenda de compromissos. De algum modo, uns querem correr, quanto outros querem passear, mas estão todos no mesmo parque. Já as definições sobre financiamentos, ah, quando se mexe no bolso dos ricos e dos pobres as relações podem ficar tensas e foi necessário adiar para 2014.

Também na semana passada, a presidente Dilma declarou que “o documento da Rio+20 é um grande avanço e uma vitória”, porque não teria havido nenhuma outra reunião ambiental com um documento prévio acordado entre as partes. De algum modo, o resultado pode não ter chegado ao melhor possível, mas abre caminho para um novo comportamento de nossos líderes mundiais. Aqui no Brasil, em palavras bem explícitas, “é conversando que a gente se entende”.

Minha consideração sobre o texto final, é que talvez um debate constante, e não concentrado em Conferências como a Rio+20, seja uma solução. Quer dizer, um debate que não morre em um encontro de cúpula a cada 20 anos, mas que reverbera em todas as nossas instituições.

O desenvolvimento sustentável não é uma responsabilidade exclusiva dos governos, mas também do mercado financeiro, das indústrias, das universidades, porque todas essas instituições detém inteligência e know-how para a solução da maioria de nossos problemas. O que cabe ao poder público é a tarefa de delegar responsabilidades, instituir e destituir poderes, gerenciar uma campanha de cooperação não-militar.

Somos um mundo avançado e precisamos nos enxergar assim. Se em algum momento deixamos de nos comportar como avançados, com as guerras e as ditaduras, por exemplo, é preciso consertar o caminho, porque esta é a nossa glória, a de refazer qualquer caminho, a qualquer tempo.

Se conseguirmos deixar ignorâncias e superficialidades, é possível que o mundo consiga se defender do que não temos controle, do que não depende de nós. Porque ainda que toda nossa tecnologia, desde a máquina a vapor até a mais moderna máquina, se todas elas tivessem sido impecáveis, limpas, ainda teríamos terremotos, maremotos e outros tropeços que são primeiramente responsabilidade da Terra, responsabilidade dessa estufa que é o nosso planeta.

Mas, se por um lado, é inevitável que essas coisas nos sobrevenha, por outro é absolutamente possível à vida seja preservada. E, isso, depende de todos nós.

(*) João Arruda é deputado federal pelo PMDB do Paraná, membro titular da Comissão de Desenvolvimento Urbano (CDU) e presidente da Frente Parlamentar da Atividade Física para o Desenvolvimento Humano.