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Não basta estar na escola, é preciso garantir que todos aprendam

Claudia Costin

Na última semana, dois importantes relatórios foram divulgados, ambos abordando o que vem sendo chamado de crise global de aprendizagem: o World Development Report de 2018, do Banco Mundial, e o texto da consultoria McKinsey sobre fatores que influenciam o sucesso escolar na América Latina. Em ambos o Brasil não aparece bem na fita.

O relatório do Banco Mundial celebra o fato de que o acesso à educação vem se expandindo muito nos anos recentes. Ao mesmo tempo, porém, alerta que escolarização e aprendizagem não são sinônimos e que, dada a precariedade do ensino em boa parte dos países em desenvolvimento, perde-se uma oportunidade de desenvolvimento e comete-se uma grande injustiça com as crianças e jovens.

De alguma maneira, os sistemas escolares não se prepararam para acolher e educar uma miríade de alunos que finalmente tiveram acesso à educação. Mesmo depois de vários anos na escola, diz o relatório, milhões de crianças não sabem ler, escrever ou dominam uma aritmética elementar e, com isso, muitos alunos chegam à idade adulta sem as competências mais básicas para a vida.

O Brasil, um dos últimos colocados no Pisa, um teste internacional de educação, é certamente exemplo do que é mencionado no relatório. Em 1930, contávamos com apenas 21,5% das crianças na educação primária, quase empatados com a Coreia, hoje um dos melhores sistemas na avaliação organizada pela OCDE.

Nós, por outro lado, temos progressos muito pequenos em aprendizagem e ainda não conseguimos garantir que a maior parte dos nossos jovens tenha acesso ao ensino médio. Para os que têm, uma triste realidade: o Ideb, índice que mede a qualidade da etapa, está estagnado em 3,7 (numa escala de 0 a 10).

O relatório da McKinsey acaba fornecendo um receituário para enfrentar o problema, com base em meticulosa análise dos dados fornecidos por questionários preenchidos por ocasião da aplicação do exame. Nele, aparecem como possibilidades de intervenção adequada o investimento na motivação do aluno, melhorias nas práticas do professor em sala de aula, seja por meio de aprimoramentos na formação inicial ou na formação em serviço, melhor uso da tecnologia, especialmente para apoiar a atuação dos mestres e ampliação da jornada escolar, ou, na impossibilidade de fazê-lo, no melhor uso do tempo pedagógico, focando a instrução.

Segundo pesquisa de Barbara Bruns e Javier Luque, o Brasil não apenas tem uma carga horária bem menor que a dos países com bons sistemas educacionais como gasta mal o pouco tempo de aula. Sem resolver essas questões, continuaremos patinando em educação e —dizem os dois relatórios— em desenvolvimento.

Claudia Costin é professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração.

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