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Mulheres recebem apenas 8% dos repasses dos partidos

Apesar da ala feminina representar 19,7% das candidaturas à Câmara, elas ficam com bem menos recursos

por Ricardo Mendonça e Silvio Navarro, na Folha de S.Paulo

A maioria dos partidos políticos brasileiros discrimina suas candidatas na distribuição interna de dinheiro para campanha eleitoral. Um levantamento feito pela Folha sobre o comportamento das siglas na última eleição para a Câmara dos Deputados mostra que, além de minoritárias dentro das chapas, as mulheres recebem, proporcionalmente, bem menos recursos que os homens.

O levantamento foi realizado a partir dos R$ 102,4 milhões distribuídos em 2010 pelos diretórios nacionais dos 14 maiores partidos do país. É o dinheiro que as siglas recebem como doação e repassam às campanhas de acordo com critérios próprios.

Entre os 14 maiores partidos, as mulheres representavam 19,7% das candidaturas à Câmara, mas ficaram com apenas 8% dos recursos.

Uma lei determina que 30% das vagas em eleições proporcionais (deputado e vereador) sejam reservadas para mulheres. Essa cota, porém, raramente é atingida. A alegação comum é que os 30% na inscrição não são atingidos porque os partidos não encontram interessadas.

Ao ser apresentado aos números que comprovam o subfinanciamento das campanhas femininas, o procurador regional eleitoral de São Paulo, André de Carvalho Ramos, chegou a defender que a cota dos 30% de vagas seja aplicada também para a distribuição interna de dinheiro.

Entre os partidos computados, PRB e PPS não deram R$ 1 a candidatas em 2010.

No PT, as 71 candidatas a deputada federal representavam 20,9% do total de candidaturas. Mas elas receberam apenas 7,6% dos recursos do diretório nacional.

O deputado estadual Edinho Silva, presidente do diretório do PT-SP, reconhece o deficit: “O partido não é uma ilha isolada do resto da sociedade. Dizer que não há preconceito e discriminação contra as mulheres dentro do PT seria uma hipocrisia”.

O PSDB foi ainda pior. Com praticamente a mesma proporção de candidatas, 20,4%, dedicou apenas 1,7% do dinheiro para elas. Para o presidente nacional do partido, o deputado federal Sérgio Guerra (PE), “esse quadro só mudaria com mais mobilização e pressão das mulheres”.

A única sigla que, proporcionalmente, deu mais dinheiro para as mulheres do que para os homens foi o PC do B. Nas inscrições, porém, o partido também ficou abaixo da cota dos 30%.