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Modelo em xeque

Facebook se distancia de insustentável posição que manteve por anos e cria riscos para a rede

Editorial, Folha de S. Paulo

O tombo sofrido pelas ações do Facebook na semana passada deu uma boa medida dos problemas que estão corroendo seu modelo de negócio e das dificuldades que encontra para corrigi-los.

A companhia viu um quinto do seu valor de mercado evaporar em poucas horas, registrando uma perda de US$ 119 bilhões (equivalente a R$ 447 bilhões), na maior desvalorização registrada por uma empresa americana num único dia.

As ações foram castigadas porque os investidores se assustaram com os resultados financeiros referentes ao segundo trimestre. O ritmo de crescimento das receitas com publicidade caiu, o número de novos usuários inscritos decepcionou e tudo indica que a rede social parou de ganhar adeptos nos Estados Unidos e na Europa.

A frustração também parece refletir a preocupação crescente com as medidas tomadas pelo Facebook para aperfeiçoar suas políticas de proteção dos dados dos usuários.

As falhas da empresa nessa seara têm sido expostas com maior intensidade desde a descoberta de que ela permitiu a captura de dados de milhões de pessoas por uma firma de consultoria política, a Cambridge Analytica.

Pressionada a rever suas práticas, a rede social anunciou controles mais rigorosos para preservação da privacidade e providências para conter a disseminação de notícias falsas e conteúdo ofensivo na plataforma, incluindo a contratação de dezenas de milhares de profissionais para monitorar o que se publica.

Ao assumir responsabilidade pelo que circula no seu site, o Facebook se distancia da posição insustentável que manteve por muitos anos, quando agia como se não tivesse nada a ver com o que os usuários fazem com sua tecnologia.

Entretanto a mudança cria riscos para seu lucrativo modelo de negócio, afastando pessoas da rede e aumentando os custos da estrutura necessária para garantir sua segurança —como ficou claro para os investidores.

Congressistas americanos têm cogitado submeter empresas como o Facebook a leis e regulamentos mais rigorosos, mas até agora não foram além da ameaça, com medo de desestimular a inovação na internet.

Parece evidente, porém, que os gigantes da tecnologia só se movem quando alguém empurra. Normas adotadas pela União Europeia em maio, por exemplo, forçaram maior transparência no tratamento das informações coletadas dos usuários.

Se a correção de rota do Facebook faz parte de uma estratégia para mostrar que é capaz de vigiar a si mesmo, nada impede que mude de ideia amanhã se concluir que o zelo é prejudicial a seus lucros.

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