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Modelo do “balcão de negócios” precisa ser destruído, diz Alvaro

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Ivan Santos, Bem Paraná

Caso seja reeleito, Alvaro Dias (PSDB) pode chegar a mais de três décadas no Senado, interrompidas apenas pelos quatro anos em que esteve à frente do governo do Estado, entre 1986 e 1990. Reconhecido como um dos principais líderes da oposição aos governos Lula e Dilma Rousseff no Congresso, ele aponta que é justamente a perspectiva de uma vitória da oposição que lhe animou a buscar o quarto mandato como senador.

E mesmo nessa condição, o tucano não se furta a fazer uma autocrítica, apontando que os partidos oposicionistas acabaram replicando nos governos estaduais e municipais que comandam o mesmo modelo de “balcão de negócios” e aparelhamento do Estado que ele denuncia em Brasília.

Por isso, Alvaro considera que a reforma política é um dos principais desafios a serem enfrentados pela oposição, caso chegue novamente ao poder federal.Na sétima e penúltima entrevista do Bem Paraná com os candidatos ao Senado, Alvaro explica porque acredita que Aécio Neves (PSDB) pode liderar esse processo, e responde às críticas dos adversários na eleição paranaense.

Bem Paraná – O senhor está no terceiro mandato como senador. O que o motiva a buscar o quarto?
Álvaro Dias – É a resposta da sociedade às minhas posições em Brasília. Confesso que seu eu fosse hoje um representante do governo, eu não seria candidato. O que me motivou a admitir um novo mandato é exatamente o apoio popular que recebo em função não apenas do Paraná, mas de todo o Brasil. Porque as redes sociais, hoje, nos permitem essa interação nacional e até internacional. E é essa motivação que me convenceu de que eu tinha o dever de postular um novo mandato. Para continuar essa tarefa de combate à corrupção e a esse modelo perverso implantado no Brasil, cuja permanência impedirá que o País alcance índices de desenvolvimento compatíveis com a sua grandeza. Eu acho que a principal missão hoje de um político decente é combater esse modelo. É o modelo que eu chamo do loteamento, do balcão de negócios. Modelo que estabelece uma relação de promiscuidade do Executivo com o Legislativo e os partidos políticos e os políticos de forma geral. Esse modelo que esgota a capacidade financeira do poder público de investir em áreas essenciais como saúde, segurança pública, educação e etc. Essa é uma missão que se impõe agora.

BP – Mas esse modelo também não é praticado pela oposição nos governos estaduais e municipais que ela comanda?
Álvaro – Isso é mais perverso ainda. Porque esse modelo idealizado e implantado em Brasília se tornou suprapartidário e foi transplantado para estados e municípios, com raríssimas exceções. O mal que esse modelo proporciona ao País é incalculável. É impossível avaliar a dimensão do mal que esse modelo vem proporcionando ao Brasil. É a razão direta da descrença generalizada em relação as instituições públicas. E mais: é a matriz de governos corruptos e incompetentes. A usina de escândalos. O Supremo Tribunal Federal condenou o mensalão, colocou na cadeia mensaleiros, a Papuda se tornou a subsede do Palácio do Planalto, mas o modelo não foi extinto. O modelo está de pé. Ele tem que ser distruído.

Bem Paraná – Como garantir que o PSDB, eleito para o governo federal, não mantenha o mesmo modelo político atual em nome da governabilidade?
Álvaro – A governabilidade não precisa, não pode e não deve rimar com promiscuidade. Eu não me conformo quando vejo as pessoas afirmando que é impossível governar o País sem um balcão de negócios. Eu espero que o Aécio (Neves) na Presidência destrua esse balcão de negócios. Eu tenho fé de que ele fará isso. O compromisso que eu posso assumir é de que eu estarei ao lado dele para ele cumprir esse compromisso. A campanha é oportuna exatamente para que esses compromissos sejam assumidos. Eu espero que o debate da campanha presidencial seja um grande debate, dos grandes temas. Que se esqueça das picuinhas eleitoreiras. Esse País está amarrado a estruturas retrógradas,
ultrapassadas, que impedem o seu desenvolvimento. As grandes reformas devem ser a plataforma dos candidatos a presidência. A reforma desse modelo é a essência das demais: reforma política, federativa, tributária, administrativa, do sistema de segurança pública. Enfim, as reformas não aconteceram nestes anos, foram prometidas, foram ignoradas. Sequer ficaram no papel, porque nem no papel foram colocadas.

BP – O senhor era lembrado como um potencial candidato ao governo, mas não teve espaço para isso no PSDB. Porque não buscou uma candidatura por outro partido?
Álvaro – Eu recordo que convites existiram para mudança de partido e até de estado. Convites para disputar o governo de Brasília, do Rio de Janeiro. E convites para disputar a Presidência da República também, além de disputar o governo do Paraná. Mas a mudança partidária constrange. Ela cheira a oportunismo em determinados momentos e isso provocou uma inibição natural. Mas eu confesso que também não encontrei local adequado para mudança. Os partidos são, infelizmente, siglas para registro de candidaturas. E quando eu optei pelo PSDB, optei por um programa. Talvez tenha sido sonhador. Porque os partidos se constituíram todos, sem exceção, em siglas para registro de candidaturas. E
algumas lideranças que atuam com independência se tornam reféns dos partidos. É o meu caso. Eu sou refém do meu partido. Obviamente me adaptei a essa circunstância para dar a minha contribuição, continuar na atividade. A circunstância é que determina a escolha. E essa foi a escolha: continuar no PSDB prestando serviços e contribuir para melhorar a política e o País.

BP – Há pouco mais de um ano – antes das manifestações – o governo Dilma tinha índices recordes de popularidade. O que aconteceu para que houvesse uma mudança tão drástica?
Álvaro – Um dia eu fui mal interpretado quando disse que a oposição tinha que desconstruir a imagem do governo para poder crescer. Como se eu desejasse que o governo se conduzisse mal. A má conduta do governo não é um desejo meu, é uma constatação. Eu interpreto o que ocorre no País. É um péssimo governo, desastrado, de corrupção, escândalos, que consagrou a incompetência administrativa nesses anos. Eu disse que a má notícia é que desconstruía a imagem do governo. As manifestações que refletiram o acúmulo de erros do governo, de escândalos de corrupção, e que significaram o extravasar do sentimento popular, produziram a notícia negativa. A mídia não teve alternativa a não ser
veicular o noticiário negativo envolvendo o governo. E isso provocou o desgaste. Os escândalos da Petrobras, por exemplo, e todos os outros. O julgamento, a prisão dos mensaleiros, com os principais líderes do governo presos. Isso tudo alimentou a indignação popular que era crescente e explodiu nas arquibancadas dos estádios durante a Copa do Mundo. É a fotografia da indignação que se tornou visível para todos os olhos dos brasileiros.

BP – Essa indignação também atingiu governos de partidos de oposição. O senhor acha que eles souberam interpretar isso?
Álvaro – Eu creio que quando a população tem os elementos para a análise das informações mais corretas ela consegue distinguir um dos outros. É evidente que governos estaduais também sofrem as consequências da insatisfação. Mas o cidadão sabe distinguir responsabilidades, e percebe que a responsabilidade maior é do governo da União. O desastre mora em Brasília. É exatamente o governo da União que proporciona a governos estaduais dificuldades maiores. A incompetência nacional compromete a eficiência estadual em várias situações. O Paraná é exemplo disso. Nós estamos verificando que o governador Beto Richa (PSDB) teve que lutar contra uma discriminação política. Chegando ao inusitado de ir ao STF várias vezes e até pedir a prisão de um servidor público federal para poder obter recursos que pertencem por direito ao Estado do Paraná. Então essa é uma situação que é bem identificada pelo eleitor, por mais humilde que ele possa ser.

Bem Paraná – Os analistas apontam que a oposição não teria conseguido capitalizar esse descontentamento popular, que não se reflete nos índices de intenção de voto de seus candidatos. O que o senhor acha?
Álvaro – Nós temos que fazer a autocrítica. Porque a oposição como tal não alcançou as expectativas do povo. O povo queria uma oposição mais contundente, mais veemente, com maior volume. Mas aquele modelo que eu desenhei do balcão de negócios, do loteamento, esvaziou numericamente a oposição. Nós temos hoje a menor oposição da história numericamente. E temos um regime policialesco que amedronta. São poucos os que ousam, mesmo em partidos de oposição, fazer oposição para valer. É preciso ter coragem para se opor a um regime policialesco. É a razão da insatisfação do povo com a oposição. Os nossos instrumentos são limitados. Hoje não temos número nem mesmo para instalar uma CPI oposicionista no Congresso. Quando se instala é porque houve colaboração de dissidentes do governo que em determinado momento se sentiram insatisfeitos. E decidiram se vingar do governo se aliando à oposição. Circunstancialmente, pois logo migram para a sombra do poder. É isso que tem sido rotina.

Bem Paraná – Seus adversários na eleição apontam repetidamente que por ser um senador de oposição, “do contra”, o senhor não atua em questões específicas de interesse do Estado. Como responde a isso?
Álvaro Dia – Isso me dá a maior alegria porque me proporciona a oportunidade de prestar contas e dizer, sem nenhuma arrogância, com humildade até, lançar um desafio para que eles apresentem quem do governo proporcionou ao Paraná mais recursos do que eu nesses anos. E vou citar só dois projetos. O que altera o salário-educação. De 2004 a 2011, no levantamento da AMB, que representa os prefeitos de todo o Brasil, para o Paraná esse projeto representou um acréscimo de R$ 1,5 bilhão para os municípios do Estado. Um outro projeto que instituiu a taxa de iluminação pública para os municípios. Alguém pagava a taxa, o povo. Ocorre que não caía no caixa dos municípios e sim das empresas
de energia. Foi uma emenda à Constituição. Significou para os municípios, também segundo a AMB, mais de R$ 1,5 bilhão de 2004 a 2011. Para os municípios do Brasil, R$ 27 bilhões. Vou citar mais um projeto só. No final de 2010, eu era líder do PSDB no Senado. E a partir de janeiro de 2011, o Paraná teria que começar a desembolsar R$ 1,7 bilhão por causa do fim da Lei Kandir. Eu fiz uma articulação no Senado com o líder do governo que tinha o interesse em aprovar uma Medida Provisória. Pela primeira vez na história – como MP tranca a pauta – o líder do governo aceitou votar antes essa matéria prorrogando por 20 anos os efeitos da Lei Kandir. Quem do governo nesse período trouxe algo
semelhante. Não vou falar das emendas parlamentares. Todo mundo sabe que as minhas emendas são integralmente usadas para os hospitais, entidades assistenciais, o Pequeno Príncipe, o Pequeno Cotolengo. Nem um centavo de comissão para quem quer que seja. São R$ 15 milhões por ano. Portanto desafio alguém do governo, qualquer ministro do atual governo paranaense, parlamentar situacionista, do PT ou qualquer outro.

Bem Paraná – O senhor manifestou divergências fortes com a forma como o PSDB do Paraná foi conduzido, inclusive nas eleições de 2012 em Curitiba. Essas divergências foram superadas ou apenas deixadas de lado por conta da disputa eleitoral?
Álvaro – No PSDB nacional também. As divergências existem, elas são necessárias inclusive. Um partido não pode ser clube de amigos. O que eu combato no PSDB nacional é exatamente quando ele se transforma em um clube de amigos. Por exemplo, não realizando as primárias para a escolha de candidatos majoritários. Eu não posso mudar. Eu quero que o partido mude. Não é só o nosso partido, são todos. É evidente que eu fiz críticas também ao Paraná. Fiz. Não tenho porque renegar as críticas que fiz. Mas eu sinto o desejo de mudança, de avanço. E nós temos um projeto de nação comum. Eu quero ser um colaborador da próxima administração do Beto Richa. Um operário construtor da ponte entre o Palácio do Planalto e o Palácio do Iguaçu, e do Palácio Iguaçu aos municípios, para proporcionar o governador melhores condições de governar o Estado. É a melhor escolha hoje a candidatura do Beto. Detalhes, divergências menores, de conceito, que são nacionais, não são pontuais, não estão localizadas apenas no Paraná, é no Brasil, isso não pode comprometer a minha relação com o candidato do meu partido, que é o governador e é a melhor opção nesse momento para o Estado.

BP – Muitas pessoas demonstram descontentamento com o governo do PT, da Dilma, mas não se sentem entusiasmadas pelo que a oposição apresenta. Porque o senhor acha que isso acontece?
Álvaro – Eu não posso discordar das pessoas que não estão satisfeitas também com a oposição. Nós temos que fazer a autocrítica. Nós poderíamos ser mais convincentes. Temos que fazer a mea culpa. Mas posso assegurar que a oposição está muito à frente do atual governo. O governo está há doze anos. É um desastre. Então nós temos que alimentar alguma esperança de que a mudança vai produzir avanços. E eu tenho fé. O Aécio é um candidato competente, foi grande governador, é um grande articulador político. Tem grande habilidade. Eu espero que ele tenha a contribuição das pessoas de bem do Brasil para mudar esse modelo. Esse governo não muda. Então é preciso mudar com alguém e sem dúvida esse alguém é o Aécio, que está preparado para a mudança.

BP – A reforma política seria o principal desafio da oposição?
Álvaro – As grandes reformas. A começar pela reforma política porque ela certamente possibilitaria que as demais ocorressem com maior eficiência e qualidade. O regime brasileiro é presidencialista de muita força. A mão pesada do Executivo comanda a pauta. Reforma de profundidade só ocorre quando há interesse da presidência da República. Só um presidente moderno, mudancista, com coragem, pode promover as grandes reformas.