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Medidas de transição: Mandetta propõe o isolamento por três meses dos grupos de risco

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, confirma a primeira morte por Covid-19 em São Paulo, durante entrevista à imprensa

O Ministério da Saúde apresentou neste sábado aos estados e municípios um “Plano de Ação da Quarentena” para os meses de abril, maio e junho, visando a reduzir a disseminação da Covid-19. Informações de Renata Mariz, do O Globo.

O plano é uma tentativa da pasta de unificar as ações de distanciamento social que já se multiplicam pelo país, e prevê diversas medidas que foram repetidamente criticadas pelo presidente Jair Bolsonaro, como o fechamento de escolas até o fim de abril —com possibilidade de extensão por mais 30 dias— , a proibição de qualquer evento de aglomeração (shows, cultos, futebol, cinema etc.) e a redução da capacidade de bares e restaurantes em 50%.

O Brasil chegou ontem a 3.904 casos confirmados —mais da metade deles no Sudeste— e 114 mortes (taxa de mortalidade de 2,9%). São Paulo segue como estado mais afetado, com 84 mortes e 1.406 casos confirmados. Em seguida vem o Rio de Janeiro, com 13 mortes e 558 casos.

Após se reunir com Bolsonaro pela manhã, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deu uma entrevista coletiva à tarde, na qual reforçou a importância de diminuir a circulação de pessoas para combater o novo coronavírus e criticou carreatas que aconteceram nos últimos dias pedindo a reabertura do comércio —motivadas justamente pelo discurso do presidente nesse sentido. A Justiça deu decisões ontem proibindo a realização desses atos.

— Daqui a duas, três semanas, os mesmos que falam “vamos fazer carreata de apoio” vão ser os mesmos que vão estar em casa. Não é hora agora. Aqueles que falam que não vai ser nada, que vai ser só um pequeno estresse, que isso passa logo e acaba, espero e rezo todo dia para que estejam corretos nas suas avaliações — disse Mandetta.

De acordo com o ministro, a reunião com o presidente e titulares de outras pastas serviu para que fosse construída uma “unidade” de atuação. Ele defendeu que as medidas restritivas sejam reavaliadas com frequência e descartou um isolamento mais rígido em todo o território nacional. Reconheceu, no entanto, que a estratégia pode ser adotada em regiões específicas.

— Não existe quarentena vertical, horizontal, não existe nada. Existe a necessidade de arbitrar, num determinado tempo, qual a necessidade de retenção que a sociedade pode fazer. O lockdown, que é a parada absoluta, pode vir a ser necessário em algum momento, em alguma cidade. O que não existe é lockdown em todo o território nacional ao mesmo tempo e desarticulado.

Início na semana de 6/4
O documento enviado aos secretários estaduais e municipais de Saúde ainda é preliminar, segundo o ministro. O texto prevê que as chamadas “medidas de transição” sejam anunciadas na semana que se inicia em 6 de abril.

A quarentena sugerida pelo ministério propõe o isolamento por três meses dos grupos de risco —maiores de 60 anos e, independentemente da idade, portadores de doenças crônicas, como cardíacos e diabéticos —“com suporte financeiro governamental”.

As ações sugeridas pela pasta são menos rígidas do que as já adotadas pelos governos de São Paulo e Rio de Janeiro, os dois estados com maior número de casos da Covid-19 no país.

Elas fazem parte de um esforço do Planalto de alinhar, o máximo possível, o discurso em torno das medidas de isolamento social. Seria uma orientação geral para a contenção da doença que não paralise a economia, na linha do que Bolsonaro vem pedindo a Mandetta.

Em sua entrevista coletiva, o ministro foi enfático ao destacar os benefícios do distanciamento social para que o país tenha tempo de preparar seu sistema de saúde para o esperado aumento explosivo do número de casos a partir do próximo mês —segundo a Saúde, apenas a partir de agosto deve começar a haver redução na quantidade diária de novos contágios.

Mandetta citou como um exemplo prático de benefício da redução do movimento nas ruas a queda no número de acidentes de trânsito, especialmente envolvendo motos, o que contribuiu para a não ocupação de leitos hospitalares.

— Quando a gente determina a paralisação, imediatamente percebe que diminuem os acidentes e sobram os leitos que eram ocupados por eles. Há informações em alguns lugares de queda de 30%, 40% e até 50% da taxa de ocupação. É mais uma razão para a gente diminuir bastante a atividade de circulação de pessoas, um efeito secundário benéfico. Além do efeito de diminuir a transmissão (do coronavírus). Mais uma razão para ficarmos em casa, parados, até que consigamos colocar os equipamentos (de saúde) nas mãos dos que precisam.

Alberto Beltrame, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, confirma o recebimento do documento e diz que ele já está em discussão há algum tempo com os gestores locais. Ele não vê mudanças na posição do Ministério da Saúde e apoia a definição de regras porque acredita que ajudará “quem ainda não o fez, bem como o apoio a todos os estados que já anteciparam medidas”.

— A evolução da pandemia no Brasil, em seus possíveis cenários, tem sido discutida sempre entre estados e Ministério. Este documento é um dos cenários em discussão há tempo. Apoiamos integralmente a equipe do Ministério da Saúde — afirmou Beltrame.