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Juventude evadida

Editorial, Folha de S. Paulo

Com tudo o que já se diagnosticou e debateu sobre evasão escolar, o país ainda faz muito pouco para manter os seus jovens no ensino médio, nível mínimo de escolaridade para que obtenham formação, emprego e renda dignos. Basta contemplar os números de reportagem publicada na terça-feira (17)por esta Folha.

Dos 10,3 milhões de moças e rapazes brasileiros de 15 a 17 anos, 1,5 milhão nem mesmo se encontrava matriculado em 2015 (último dado disponível). Outro 1,9 milhão abandonou a escola ou foi reprovado (1,2 milhão), desperdiçando seus esforços e os dos professores, além dos R$ 7 bilhões investidos na manutenção dessas vagas.

Entre não matriculados e evadidos, o Brasil tem 22% de jovens nessa faixa etária ausentes dos bancos escolares. Mantido o ritmo de inclusão dos últimos anos, seriam necessários uns dois séculos para universalizar o acesso.

Apenas 58,5% dos jovens de 19 anos tinham concluído o ensino médio, como deveriam, em 2015. Houve algum progresso, verdade, pois em 2010 eram 51,6% os diplomados. Mas não o suficiente.

Pode-se até imaginar o pior. Após a crise econômica e em meio à lenta recuperação do emprego, não será surpresa se mais jovens deixarem os estudos para ingressar no mercado de trabalho, de modo a reforçar a renda familiar.

A reforma do ensino médio recentemente aprovada, que busca torná-lo mais flexível e aproximá-lo dos interesses dos adolescentes, vai na direção acertada. Entretanto seus efeitos vão demorar, e resta ainda complementá-la com a adoção da base curricular comum para esse estágio do ensino.

Além disso, o problema está longe de se limitar às aulas. São várias as causas da evasão: externas à escola (pobreza, violência, gravidez adolescente), internas (qualidade do ensino, ambiente escolar) e inerentes ao próprio jovem (baixas resiliência e motivação).

Para combater a evasão de modo menos lento, urge recorrer a um arsenal mais robusto. Há que pensar em medidas variadas e complementares, contemplando modalidades de transferência de renda e melhorias na infraestrutura da escola, do transporte escolar ao acompanhamento individual de alunos em dificuldade.

O Brasil precisa investir muito mais —tempo, atenção e recursos— na sua juventude. Em primeiro lugar, porque é uma obrigação para com a sociedade; depois, porque precisa de sua capacitação para dar o salto de produtividade sem o qual o desenvolvimento do país continuará marcando passo.

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