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Itaipu devolve jaguatirica ao Parque Nacional do Iguaçu

O produtor rural Roberto Ghiotto estranhou quando dois dos cachorros da casa, Mano e Guri, latiam para um animal no meio da plantação de soja. Ao chegar mais perto, ele encontrou uma jovem jaguatirica (Leopardus pardalis) tentando se esconder das patadas e das mordidas dos cães. Era 18 de dezembro do ano passado e Roberto não pensou duas vezes: acuou os cachorros e protegeu o animal.

Pouco mais de dois meses depois, nesta terça-feira (3), Dia Mundial da Vida Selvagem, o próprio Roberto teve o prazer de libertar a jaguatirica e devolvê-la à natureza. “É uma emoção muito grande, um animal que eu nunca tinha visto aparecer assim na minha propriedade”, disse ele, logo após a soltura, em um braço do Parque Nacional do Iguaçu, no município de Serranópolis, no Oeste do Paraná. “É um bichinho muito bonito, a gente tem que ajudar a cuidar.”

Da captura da jaguatirica à soltura, houve um trabalho integrado que começou na boa intenção do produtor Roberto, e envolveu órgãos como a Força Verde, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Projeto Onças do Iguaçu e o setor ambiental da Itaipu Binacional.

“Esta soltura é a demonstração de que os agricultores da região sabem valorizar a nossa vida silvestre”, afirmou o diretor de Coordenação da Itaipu, Luiz Felipe Carbonell, que participou do início do procedimento da soltura, ainda no Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), em Foz do Iguaçu. “A importância de nosso refugio e de nosso hospital é exatamente que a vida selvagem retorne à faixa de proteção, refazendo o sistema de forma natural”, concluiu.

Da captura à soltura
Era dezembro do ano passado, quando o Roberto começou a desconfiar que os cães de sua propriedade estavam matando algumas galinhas. “Eu encontrei [o cão] próximo de uma galinha e dei uma coça para aprender”, confessou. “É cachorro novo, se não ensina logo, vai sempre dar problema.” Qual foi a sua surpresa, e sentimento de culpa, quando descobriu a verdadeira responsável pelo sumiço das aves.

Quando viu a jaguatirica, a primeira coisa que fez foi afugentar os cães. Depois, pediu para sua irmã Rosani buscar um balaio de metal, que ele usa para carregar milho, e prendeu o animal. “Eu prendi o balaio no chão, ela estava toda assustada, o cachorro tinha mordido na paleta”, conta. A outra irmã, Roseli, ligou para a Força Verde, enquanto Roberto dava um jeito de segurar o bicho: colocou uma madeira embaixo do balaio, fechou tudo com uma lona, amarrou, levantou no ombro e levou para um galpão para deixar a jaguatirica mais calma.

“Quando a gente recebeu o chamado, ficamos desconfiados porque dificilmente um agricultor consegue capturar um bicho desses”, recorda Thiago Reginato, responsável técnico para engajamento do Projeto Onças do Iguaçu. Foi ele que pegou a caminhonete e seguiu até Serranópolis para atender ao chamado. “A jaguatirica já estava protegida, com alguns ferimentos, mas estava tranquila. Aí a levamos até o Refúgio Biológico da Itaipu.”

“Chamou a atenção a atitude do produtor”, continua Thiago, “não é comum ver esta atitude de procurar as autoridades competentes para dar uma atenção médica ao animal. É muito emocionante. A gente precisa de mais ‘Robertos’ para ter um mundo melhor”.

No hospital veterinário do Refúgio Biológico, a jaguatirica recebeu os primeiros cuidados. “Ela estava bastante machucada, com alguns cortes no pescoço e na região do ombro e do quadril. Aí a gente a anestesiou, fez alguns curativos e pontos, além da limpeza das feridas”, explica o médico veterinário Pedro Telles, do setor de Áreas Protegidas, da Itaipu.

Depois de tratada a anemia e curadas as feridas, a jaguatirica estava preparada para ser solta. Ela chegou com 5,5 kg e saiu do RBV com 7 kg. “Agora ela continua o caminho que não deveria ter sido interrompido.”

Deixe o bicho no mato
Para a coordenadora executiva do Projeto Onças do Iguaçu, Yara Barros, a captura da jaguatirica da forma como foi feita é uma exceção. “O Roberto fez tudo certinho, capturou e chamou quem sabia mexer com o animal. Mas nem sempre é isso que acontece”, diz Yara. Segundo ela, as pessoas acabam encontrando um animal silvestre e capturando, o que não é recomendável.

“Temos uma campanha nacional chamada ‘Deixe o bicho no mato’. Normalmente, o animal não está precisando de ajuda, só está esperando a mãe voltar da caça, por exemplo. Tirá-lo do mato só vai sobrecarregar os zoológicos e tirar a chance do animal de ter uma vida na natureza.”

Por isso, a soltura da jaguatirica do seu Roberto, no dia tão especial, é motivo de comemoração. “É o dia que o mundo está parando para prestar a atenção na necessidade de conservar o ambiente e as espécies. A gente devolver um animal neste dia é de um simbolismo muito forte e de esperança de que podemos mudar a mentalidade das pessoas”, conclui.