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Greca diz que disputará reeleição ‘se o povo quiser’

Com o ano se encerrando nas próximas semanas, Curitiba também vê chegar à metade o mandato do prefeito Rafael Greca (PMN). Eleito em 2016 com 462 mil votos (53,25% dos votos válidos), Greca ainda não garante que será candidato à reeleição. Mas para quem o escuta falar é evidente que ele não deverá abrir mão do cargo tão facilmente. “Eu adoro ser prefeito. Se o povo pedir e quiser, pensamos mais adiante”, diz. As informações são de Rodolfo Luis Kowalski no Bem Paraná.

Otimista, o prefeito aposta na boa relação com o futuro governador Ratinho Junior (“Estamos numa lua de mel em queijo dourado”) e na expressiva votação alcançada pelo presidente eleito Jair Bolsonaro na Capital paranaense para garantir que Curitiba terá o apoio necessário para se desenvolver. Ao mesmo tempo, trabalha para ampliar a capacidade de investimento do município, que diz ter “recuperado plenamente” após 2018.

A meta, afirma Greca, é que ao final de seu mandato, em 2020, a capacidade de investimento do município chegue a 20% (ou seja, que o município possa investir um de cada cinco reais que arrecada. Atualmente, esse percentual é de 6% – ou 0,30 centavos). Para tanto, descarta mais medidas de reajuste fiscal, apostando na retomada do crescimento econômico, o que alavancaria a arrecadação por meio de impostos, por exemplo.

Dessa forma, daqui para frente a prioridade da Prefeitura será inovação. “A (principal marca) de 2018 foi a plena recuperação da cidade. A de 2019 é o começo da inovação”, comenta Greca, que ainda aproveitou para dar uma “cutucada” no Coritiba, clube de seu coração. “O Coritiba, não conseguindo manter time, pode virar empresário de shows. É uma salvação”, disse logo após comentar a apresentação de Paul McCartney, que acontecerá no ano que vem, no Estádio Couto Pereira.

Bem Paraná – Tendo se passado quase metade do seu mandato, qual o balanço que o senhor faz até aqui da gestão à frente da Prefeitura de Curitiba?
Rafael Greca – Nós conseguimos recuperar Curitiba. Pegamos a cidade com R$ 2,3 bilhões de déficit e agora estamos com a casa arrumada, cada coisa está no seu lugar, pagamos mais de 600 credores pelo método do leilão holandês, economizamos R$ 10 milhões, devolvemos centenas de imóveis alugados e com isso fizemos grande economia, colocamos a Previdência Pública da cidade no orçamento do município, somos a única cidade do Brasil que fez isso, e estamos com o 13º pago, vamos pagar o aumento salarial e folha suplementar agora no dia 11 e pagaremos o último salário do ano no dia 21 de dezembro. Estamos fazendo concurso público para 26 carreiras, estamos contratando professores e estagiários, estamos com programas de obras de R$ 800 milhões nas áreas de macrodrenagem, infraestrutura urbana. Vamos começar um projeto de asfalto sobre ruas de saibro, que são as ruas mais periféricas que quando chove tem lama e quando faz calor tem pó. Vamos começar da malha existente para a periferia e a ideia é fechar a malha viária da cidade toda pavimentada em 2020. Temos ainda 243 quilômetros de rua de saibro. Minha ideia é fazer 100 quilômetros nesse ano que entra, e outros 143 no outro ano. Se não fecharmos totalmente a malha, vamos quase tê-la fechado. Todos os Faróis do Saber estão sendo transformados em Farol do Saber e Inovação, acrescentando à biblioteca e à lan house pública o espaço maker, com impressoras 3D, que permitem aos curitibinhas desenvolverem a arte da prototipia e provoca-os a serem engenheiros e técnicos de informação. Vamos abrir o primeiro FabLab público do Brasil na Rua da Cidadania do Cajuru, no começo do ano, e queremos fazer os FabLabs em todas as Ruas da Cidadania. A cidade está empolgada com a causa da inovação e ganhamos três grandes prêmios (na área) esse ano.

Bem Paraná – Temos visto no contexto federal, estadual e municipal o estrangulamento da capacidade de investimento dos municípios. No caso da União as despesas obrigatórias consomem mais de 90% do orçamento…
Rafael Greca – O Bolsonaro só tem uma saída: fazer a reforma da Previdência ou fazer a reforma da Previdência ou fazer a reforma da Previdência. Ele não tem outra bala na agulha, porque o Brasil se tornou inviável. Por exemplo, se eu não tivesse feito a reforma da Previdência de Curitiba, hoje estaria devendo R$ 3 bilhões ao IPMC e Curitiba inteira iria trabalhar só para os aposentados da Prefeitura, o que é uma demência e é a destruição do papel do Estado, que não existe só para pagar aposentado, mas para servir a todo o povo. A capacidade de investimento no tempo do meu antecessor, ele devolvia 2% de tudo que arrecadava para Curitiba. Neste ano já estou devolvendo de 6 a 7% e no ano que vem pretendo devolver 10% a 12% e no último ano pretendo devolver 20%. Quero ir aumentando o investimento na cidade em proporção, porque quem paga impostos tem que ser bem servido. Não é só o funcionário público que tem que ser bem servido.

BP – E para aumentar essa capacidade de investimento do município o senhor implementará mais medidas de ajuste fiscal?
Greca – Não, eu aposto na retomada do crescimento econômico. Veja, começamos com diminuição de aluguéis e ajuste fiscal. Reduzimos pessoalmente os aluguéis. Minha mulher, que não é funcionária pública, se ocupou de saber tudo que estava alugado e pedir desconto. Ela tinha prática porque renunciou ao aluguel de alguns imóveis que herdou do pai justamente para manter o inquilino. Então fizemos a mesma coisa para a Prefeitura e 70% do que estava alugado deixou de ser alugado. Somos a cidade com menor número de comissionados do Brasil, reduzimos as secretarias pela metade e tivemos um grande apoio da Câmara Municipal. Também temos de agradecer sempre tanto o governo federal, o presidente Temer foi muito positivo com Curitiba, e também não podemos deixar de agradecer ao governo do Paraná. Tanto o governador Beto Richa, como a governadora Cida Borghetti e como agora já sinalizou o futuro governador Ratinho Júnior, todos foram muitos positivos com Curitiba.

BP: Até tendo em vista a importância dessa relação com o governo federal e estadual, como está a expectativa da Prefeitura com relação aos governos Bolsonaro e Ratinho Junior?
Greca – Com o Ratinho já conversei várias vezes e estamos numa lua de mel num queijo dourado. Agora, o Bolsonaro ainda não conheço, mas conheço o chefe da Casa Civil, o Onyx Lorenzoni, que é meu amigo, já conversei com ele por telefone e foi meu colega, deputado federal, quando eu fui ministro do Fernando Henrique (Cardoso). Então tenho muito boa relação com ele. A ideia é que o presidente contemple Curitiba, porque foi o lugar onde ele teve a maior votação do país. Vamos esperar que ele tenha sucesso e pedir a Deus pelo bem do Brasil.

BP – A proximidade de Bolsonaro com políticos do Paraná, como Fernando Francischini, pode ser um facilitador nesse diálogo com o governo federal?
Greca – Tenho certeza que sim, mas ele tem também proximidade com o deputado Pedro Lupion, que é muito nosso amigo e que é da minha base. O Onyx Lorenzoni foi padrinho de casamento do Pedro Lupion.

BP – Por conta da cláusula de barreira o partido ao qual o senhor está filiado, o PMN, deve deixar de existir.
Greca – Pois é. É uma pena, porque o meu partido é Curitiba, mas o PMN não me incomodava. Agora vou ter de procurar um outro partido, mas é uma coisa para daqui 10 meses. Por enquanto não estou pensando nisso.

BP – Comenta-se que o senhor poderia se filiar ao DEM.
Greca – Pode ser (uma possibilidade). Todos os partidos são bem-vindos, vamos avaliar na época. Gosto muito da cena final do filme “O Vento Levou”. A casa pegou fogo e perguntam para protagonista, a Scarlett O’Hara: “O que você vai fazer agora?” E ela diz: “Penso amanhã.”

BP – E a reeleição, o senhor já garante que irá disputar?
Greca – Que nem a Scarlett O’Hara também: penso amanhã. Ainda não quero pensar nisso. Não vou ocupar minha cabeça enfaixando ela antes de me machucar. É tão bom ser prefeito… É uma beatitude, eu adoro ser prefeito. Estou em estado de beatitude, felicidade celestial.

BP – Mas se o senhor adora ser prefeito, a tendência é que tente prolongar o período no cargo…
Greca – Não há noite que eu não tenha alegria de ver os curitibanos ocupando as ruas e o tempo do Natal é muito bom para pensar em bobagem. Reeleição vem adiante. Se o povo pedir e o povo quiser, daí a gente pensa adiante.

BP – E como anda a saúde do senhor, após um susto logo no início da gestão?
Greca – Invejável, para desespero dos nossos inimigos.

Bem Paraná – Quais os principais desafios que o senhor espera encara daqui para frente?
Rafael Greca – Agora temos que criar um grande desenho metropolitano para Curitiba. Pedi ao Ippuc para que faça do seu ano novo, que aceite o desafio de pensar de maneira inteligente o futuro dessa grande cidade. Temos a ideia do Bairro Novo da Caximba, vamos tirar as casas de cima do rio. Aos poucos vamos fazendo. Estou desenhando para o novo governador uma agenda comum metropolitana, que vai ser compartilhada com ele até porque não tem cabimento ter um planejamento municipal e outro estadual para a Grande Curitiba. A Comec e o Ippuc têm de se fundir num único corpo pensante. Não tem cabimento ter uma via expressa até a porta da Igreja Matriz de São José dos Pinhais, com terminal de transporte em São José dos Pinhais, e ter manilhas trancando a canaleta no fim da Marechal Floriano e o ônibus, de maneira ridícula, o povo ter de descer do ônibus no terminal do Boqueirão para pegar um outro ônibus para ir para São José dos Pinhais. A grande cidade é uma só e é muito atrasado que não seja assim. Então nós vamos trabalhar nisso, com a criação de uma mesa de governança comum.

BP – A Prefeitura também encara uma briga jurídica com o Ministério Público do Trabalho por conta da terceirização de unidades de saúde.
Greca – Ganhamos ontem uma liminar do ministro presidente do TST tirando a razão do Ministério Público do Paraná no caso da UPA da CIC, que custa R$ 500 mil mais barata do que a UPA pública e com resultados extraordinários.

BP – A tendência, então, é que mais unidades de saúde sejam terceirizadas?
Greca – A medida da virtude é procurar o máximo de eficiência com o mínimo de gasto. Isso vai acontecer em proporção que a gente for conseguindo superar os parâmetros que nós herdamos. Se a Justiça do Trabalho reconhecer definitivamente o direito de Curitiba, assim como outras 500 cidades que podem ter serviços terceirizados de saúde, aí eu vou pensar no que fazer.

BP – E no caso das CMEIs?
Greca – Estamos abrindo 18 Centros Municipais de Educação Infantil no ano que entra e contratando 330 professores para fazer frente a isso. Abrimos também os 12 que estavam prontos, mas fechados. Abrimos experimentalmente, pequenas turmas, e agora vamos ampliar a capacidade. Então vamos ter 18 novos CMEIs, esses 12 que já estavam prontos e outros seis que estamos construindo. Vamos ter 49.150 vagas de educação infantil. Para a escola pública, a partir de 4 anos de idade, todas as crianças que vierem serão admitidas, independente da faixa de renda. Nos CMEIs, o critério de seleção não é político, é do Ministério Público junto com o Conselho Tutelar e o Núcleo de Educação. A criança que ganha precedência é a mais humilde.

BP – E há possibilidade de mais terceirizações nessa área?
Greca – Temos 73 creches terceirizadas. A rigor, sempre que abrir a possibilidade a gente está aberto a fazer convênios. O problema dessas creches terceirizadas é que nem em todas há capacidade (por conta do espaço físico) para atender muitas crianças. O que o povo tem de pôr na cabeça é que o interesse público não é nem esquerda nem de direita, mas de todos.

Bem Paraná – No primeiro ano de sua gestão o senhor não conseguiu dar um reajuste aos funcionários públicos.
Rafael Greca – Eu não pude dar porque não tinha dinheiro e eu respeito a responsabilidade fiscal. O funcionalismo honesto e honrado de Curitiba entendeu que já era uma glória naquele ano a gente estar pagando o 13º adiantado e estar pagando o salário em dia. Há nove estados no Brasil que não pagam 13º desde o ano passado e há outros tantos estados e cidades completamente falidos.

BP – E para esse ano, já está sendo discutido um novo reajuste? No ano passado o percentual foi de 3%.
Greca – Nunca. A discussão é sempre na última hora, do último minuto, do último mês antes de mandar a mensagem para a Câmara, porque tem de ver o quanto sobrou para ver o que dá para dar. Não adianta dar o que não dá para pagar.

BP – Final de fevereiro vence a data-base dos motoristas e cobradores de ônibus. Haverá reajuste da tarifa?
Greca – Isso a Urbs está conduzindo, nos termos do contrato vigente. Estamos trabalhando para reduzir custos e vamos tentar dar o menor aumento possível. Também estamos renovando toda a frota de ônibus e a bilhetagem automática deve acontecer melhorando a qualidade do sistema. Não posso amarrar o futuro de Curitiba numa gavetinha de dinheiro para agradar o presidente do sindicato dos motoristas e dois ou três vereadores. Eu vou fazer uma cidade ‘smart’, permitindo que a pessoa desça do expresso na Praça Carlos Gomes com seu cartãozinho cheio e suba no ônibus sem ter que ter um terminal atrás da catedral para ir para Santa Felicidade, por exemplo. Temos de fazer a nossa cidade avançar. Em Roma não tem cobrador também, você compra o cartão na tabacaria ou na banca de revista e valida dentro do ônibus.

BP – Mas isso implica também a necessidade de se ampliar os pontos de venda do cartão.
Greca – Minha ideia, com a bilhetagem automática, é universalizar a venda do cartão, inclusive por aplicativo de celular.

BP – A bilhetagem eletrônica foi uma iniciativa proposta pela Urbs ou pelas próprias empresas?
Greca – Foi proposta por mim. Porque o modelo vem do ano 2000, é posterior a minha saída da Prefeitura, é do tempo do Cassio (Taniguchi), quando ele era meu sucessor, porque no meu tempo não tinha essa tecnologia. Mas agora nós temos de recuperar o tempo perdido, já se passaram 20 anos e não podemos manter a cidade no passado. Quando a gavetinha de dinheiro mandava, o papa era Pio XII, que andava numa cadeirinha, carregado por 80 mordomos de casacas cheio de medalhas nobres. Hoje o Papa é Francisco, anda a pé e se serve no self-service do hotel onde ele mora no Vaticano. Então o mundo mudou e nós temos de pôr isso na cabeça.

BP – Qual foi a maior marca da sua gestão em 2018 e qual espera que seja a marca de 2019?
Greca – A de 2018 foi a plena recuperação da cidade. A de 2019 é o começo da inovação. Vou começar o aniversário de 326 anos da cidade com a Feira de Barcelona em Curitiba no dia 21 e 22 de março e vou terminar com o Paul McCartney no Alto da Glória. A transformação do Coritiba, que não está conseguindo ser time de futebol, em lugar de espetáculos musicais. Fundado pelo Floriano Essenfelder, que fazia pianos, o Coritiba, não conseguindo manter time, pode virar empresário de shows. É uma salvação.

link entrevista
https://www.bemparana.com.br/noticia/greca-diz-que-disputara-reeleicao-se-o-povo-quiser

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