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Gleisi e Ideli estão em funções erradas, diz líder do PMDB

Na entrevista a Natuza Nery, da Folha de S. Paulo deste domingo, 19, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, diz o seguinte: “Talvez sejam pessoas (Gleisi e Ideli) certas na função errada. Não há interlocução. Queremos participar das formulações. Fazer como o Lula fazia. Hoje, se for contra o projeto do governo, você é do mal”.

Leia a seguir a íntegra da entrevista.

Ele fez o governo passar noites em claro durante a votação da MP dos Portos, foi alvo de impropérios reservados nas hostes governistas e acabou sendo parcialmente atendido em manobra para garantir a aprovação do texto.

Mas o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) rejeita a condição de nêmesis de Dilma Rousseff, em referência à deusa grega da vingança. E mais: “Não sou Geni”, diz, lembrando também a prostituta da música de Chico Buarque.

Alerta: “Sou líder da bancada. Terão de conviver [comigo]. Ou será crise atrás de crise.”

Folha – O sr. foi derrotado?
Eduardo Cunha –
Não. Só acho que não temos que ficar carimbando o que eles mandam do Palácio. Não estavam acostumados a esse combate. Quero o direito de discutir sem me sentir constrangido.

O sr. virou a “Geni” de Dilma?
Não sou Geni. Querem me transformar nisso para esconder falhas.

Por que falta um Antonio Palocci [ex-ministro da Casa Civil, citado por Cunha durante a crise] no governo?
Ele era um homem do Legislativo, com capacidade de interlocução, conhecimento técnico e com poder.

Falta isso a Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais)?

Talvez sejam pessoas certas na função errada. Não há interlocução. Queremos participar das formulações. Fazer como o Lula fazia. Hoje, se for contra o projeto do governo, você é do mal.

Defende mudança?
Quem sou eu para definir ministro! Mas no PT não estão afinados. Falei ao líder do PT na Câmara, José Guimarães: ou PT e PMDB se acertam, ou vai ser sempre um problema.

O líder do governo perdeu autoridade?
Arlindo Chinaglia é eficiente, mas talvez não tenha autoridade.

Há uma guerra?
Virou questão pessoal contra mim. Não se pode tratar o líder do maior partido da base assim. Se discordar, viro inimigo? Quando a mídia denuncia, o governo pede para evitar CPI. Quando defende, ela é maravilhosa.

A mídia ficou com o governo?
Não, disse que o governo usou o apoio que a mídia tem ao tema, que eu apoio.

Mas o sr. é acusado pelo Planalto de procrastinar.
Não vou responder acusação a prédio.

A ministra Ideli não é prédio.
A atuação desse ministério talvez seja uma das grandes falhas, mas não sei se ela teve delegação [para negociar]. Ela ficava muda nas reuniões. Tem ranço contra mim. Mas não vou deixar de ser líder. Se não quiserem conviver, será crise atrás de crise.

Ameaça?
Não trabalho nesse campo. Com articulação, a gente resolvia a MP antes. E teve a atuação do cidadão que prefiro não pronunciar o nome…

*[Deputado] Garotinho?*
Fala baixo, é palavrão! Menino de recados da Ideli.

Vê chance de articulação melhor até a eleição?
A dificuldade será maior.

Quem é melhor no diálogo, Gleisi ou Ideli?
[Silêncio. Rosto vermelho].

O sr. já disse que o governo defendeu interesses de grupos.
Não disse que o governo patrocinou. Disse que o projeto acabou beneficiando.

E o sr., trabalhou pelo grupo Libra (operador portuário)?
Não defendi e não defendo interesse de grupo nenhum.

Algum operador portuário já financiou campanha sua?
Não que saiba. Recebi doação da Odebrecht [beneficiada pela MP do governo].

O governo está tratando o sr. como oposição?
Sim.

Mas tem cargos no governo.
Não. Se achar um cargo meu, pode demitir hoje.

O que acontecerá com os portos públicos com a lei?
É o fim do porto público.

Há sequelas entre PT e PMDB?
Quem tem de evitar sequelas é o governo.

No governo o chamam de “gênio do mal”
O elogio é agradável, mas não sou gênio, sou esforçado. Agora, do mal, com certeza eu não sou.