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G20: MUITO BARULHO POR NADA

Análise da Attac France

Havia perspectiva de esperar alguma coisa da reunião do G20? Sabendo-se que os governos dos países mais ricos e mais poderosos do mundo têm responsabilidade indiscutível no desvio do sistema econômico e financeiro internacional por terem desenvolvido políticas cujas palavras chaves eram "tudo pela rentabilidade financeira "e tudo pelo mercado", não dava para ter nenhuma ilusão.

Mas a realidade supera o que se poderia imaginar. O G20 não coloca nenhum obstáculo à circulação dos capitais. Ao contrário, estimula a liberdade dos mercados e continua a pregar um livre comércio das mercadorias cuja extensão excessiva fragilizou as economias de menor desempenho e destruiu setores inteiros de suas atividades. Num cenário tão liberalizado, não será possível implantar uma taxação das transações financeiras, o que seria necessário, de um lado para frear fortemente a especulação, e de outro para juntar recursos indispensáveis para a solução dos problemas mais urgentes.

Perfeitamente coerente consigo mesmo, porém totalmente indiferente às aspirações dos cidadãos, o G20 não pretende realmente proibir os paraísos fiscais e judiciários, pois os principais deles, a começar pela City de Londres, continuarão desenvolvendo suas práticas. Cercados por muitas regiões e países livres de qualquer regulamentação, que eles toleram, e até favorecem, os principais países do G20 fracassaram no teste que deviam enfrentar: estabelecer e publicar a lista exaustiva dos "países não cooperativos", não omitindo nenhum, sobretudo quando eles constituem o próprio núcleo das finanças mundiais. Confira a íntegra da análise clicando no

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G20: MUITO BARULHO POR NADA

G20: MUITO BARULHO POR NADA

Análise da Attac France

Havia perspectiva de esperar alguma coisa da reunião do G20? Sabendo-se que os governos dos países mais ricos e mais poderosos do mundo têm responsabilidade indiscutível no desvio do sistema econômico e financeiro internacional por terem desenvolvido políticas cujas palavras chaves eram "tudo pela rentabilidade financeira "e tudo pelo mercado", não dava para ter nenhuma ilusão.

Mas a realidade supera o que se poderia imaginar. O G20 não coloca nenhum obstáculo à circulação dos capitais. Ao contrário, estimula a liberdade dos mercados e continua a pregar um livre comércio das mercadorias cuja extensão excessiva fragilizou as economias de menor desempenho e destruiu setores inteiros de suas atividades. Num cenário tão liberalizado, não será possível implantar uma taxação das transações financeiras, o que seria necessário, de um lado para frear fortemente a especulação, e de outro para juntar recursos indispensáveis para a solução dos problemas mais urgentes.

Perfeitamente coerente consigo mesmo, porém totalmente indiferente às aspirações dos cidadãos, o G20 não pretende realmente proibir os paraísos fiscais e judiciários, pois os principais deles, a começar pela City de Londres, continuarão desenvolvendo suas práticas. Cercados por muitas regiões e países livres de qualquer regulamentação, que eles toleram, e até favorecem, os principais países do G20 fracassaram no teste que deviam enfrentar: estabelecer e publicar a lista exaustiva dos "países não cooperativos", não omitindo nenhum, sobretudo quando eles constituem o próprio núcleo das finanças mundiais.

Enquanto o sistema monetário internacional no qual o dólar impõe sua lei faliu, o G20 decidiu fortalecer o Fundo Monetário Internacional (FMI), responsável, com seu irmão gêmeo, o Banco Mundial, pela destruição da maioria dos países do Sul sob o peso da dívida e dos planos de ajuste estrutural.

As veleidades de regulamentação internacional se desvaneceram a partir do momento em que foi deixada de lado a explosão extraordinária das desigualdades no mundo, cuja causa fundamental reside numa distribuição indecente da riqueza produzida em benefício do capital. Não é a decisão de injetar 1,1 trilhão de dólares suplementares para a reativação econômica e para o FMI que será capaz de remediar a situação.

Ao contrário, o apoio irrestrito a um sistema baseado no lucro e no excesso só vai agravar as tensões sociais e os riscos ecológicos. As tensões sociais, porque nada está previsto para deter a diminuição dos salários e do emprego e a destruição dos sistemas de proteção social entregues às empresas privadas. Os riscos ecológicos, porque, quando a liberdade dos mercados financeiros é proclamada novamente, fundos especulativos de novo tipo estão surgindo para apostar na degradação do clima.

A Attac France avalia que os motivos que levaram grande número de cidadãos a se mobilizar contra as reuniões de preparação à cúpula do G20 se tornaram mais fortes tendo em vista os resultados. Na realidade, os países que se autoproclamaram dirigentes do mundo negam a gravidade da crise. Essa negação aumentará a determinação dos cidadãos de se engajar a favor da solidariedade contra a concorrência e a rentabilidade.

O coletivo francês "Não pagaremos as suas crises", que reúne mais de trinta organizações francesas e do qual a Attac é membro, também reagiu de modo muito crítico às conclusões do G20. Numa declaração preliminar, o coletivo afirma que, "de maneira flagrante, os chefes de Estado e de governo dos vinte países considerados mais poderosos preferiram, em sua declaração final, religitimar um sistema em crise estrutural e reforçar o papel de suas instituições mais contestadas".

* A Associação pela Tributação das Transações Financeiras para Ajuda aos Cidadãos, mais conhecida pela sigla ATTAC, é uma organização criada em 1998 com a finalidade de instituir um imposto sobre movimentações financeiras internacionais, para restringir a especulação e financiar projetos de desenvolvimento ecológico e social. Mais tarde ampliou seu campo de intervenção e interesse, incluindo todos os aspectos relacionados à globalização. Monitora as decisões da Organização Mundial do Comércio (OMC), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), do Fundo Monetário Internacional (FMI) e acompanha as reuniões do G8 e G20 com o objetivo de influir nas decisões dos formuladores de políticas públicas. É crítica com relação à ideologia do neoliberalismo que preside a globalização da economia. Apóia políticas de globalização sustentáveis e socialmente justas. Hoje, a associação está presente em muitos países, inclusive no Brasil.