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Foi do Brasil……

Melchiades Filho – Folha de São Paulo

No quesito “embromation”, Galvão Bueno ainda não tem concorrente. Está por surgir outro narrador de TV capaz de tornar compreensível e atraente qualquer evento de qualquer esporte.

É admirada até nas coxias da Globo sua desenvoltura em driblar os acidentes das transmissões ao vivo e falar tranquilamente ao microfone enquanto uma babel de vozes lhe chega aos ouvidos pelo ponto.

Mas foi por outro atributo que Galvão se assenhorou da posição. No passado, era comum o narrador aparecer em estádios e estúdios sem saber do que iria tratar. O próprio Galvão chegou a errar as seleções de um jogo da Copa de 1974.O vexame estimulou a leitura dos jornais e o estudo dos esportes. Mais preparado do que os colegas, Galvão passou a atropelá-los. A fama de pernóstico e egocêntrico nasceu daí. O telespectador, porém, adorou o macho alfa. À Globo restou pareá-lo com comentaristas tranquilões, de baixa combustão.

Na Olimpíada de Londres, da qual a Globo se viu excluída, não houve nada disso. Relegado ao papel de “amarrador do dia” no SporTV, excluído das mordomias e sem o controle do “vivo”, Galvão sentiu o baque. Virou um resmungão. Teve um surto antológico no ar.

Pior: os Jogos mostraram-no desatualizado, alheio ao noticiário, quase um profissional comum, não raro superado pelos mais jovens.

Muitos vibraram com a queda do pedestal. O esporte não. Sem o mestre de cerimônias, o ás em atenuar derrotas e exaltar vitórias, a realidade bate à porta.

A fragilidade do modelo esportivo do país, as falhas de treinamento, as tibiezas de atitude, a campanha aquém da esperada, tudo isso ficou mais visível.

Mais dia, menos dia, esse teste de estresse viria. É irônico que tenha ocorrido às vésperas do “ciclo patriótico”, a Copa-14 e a Olimpíada do Rio-16, eventos para os quais Galvão programou seu adeus.