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Ex-deputado morto há 6 anos, Janene vira alvo de investigadores na Lava Jato

janene

Ele é constantemente delatado, motiva ações da Lava Jato e vem sendo usado até como bode expiatório pelos suspeitos investigados na operação. Morto há seis anos, o ex-deputado federal paranaense José Janene, do PP, é figura recorrente em audiências com o juiz Sergio Moro ou em documentos da operação. Sua presença é tão significativa que seu nome consta na primeira frase dadelação do doleiro Alberto Youssef, um dos pivôs do escândalo. O relato começa com Youssef recordando que virou amigo de Janene em 1997. As informações são de Felipe Bächtold na Folha de S. Paulo.

O peso de seu nome se explica pela influência que Janene exerceu na Petrobras nos mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva.

Foi o ex-deputado paranaense quem indicou Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento da estatal em 2004. A partir daí, segundo os delatores e os investigadores, instalou-se na empresa um grande esquema de desvios e de pagamento de propina de empreiteiras para políticos.

Costa também cita Janene logo no início do primeiro de seus cerca de 80 depoimentos de delação.

Mas, se delatores o apontam como mentor do esquema do qual também se beneficiaram, alguns réus usam o personagem em tentativas de minimizar crimes confessados ou mesmo se isentar de responsabilidade.

Augusto Mendonça, executivo da Toyo Setal e primeiro empresário a delatar, diz que pagava propina porque sofria ameaças de Janene em variadas ocasiões. “As conversas sobre isso eram impositivas”, disse, em depoimento em 2015.

O empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, também afirmou que pagou suborno porque, caso contrário, já fora avisado por Janene de que não continuaria trabalhando com a Petrobras.

A defesa de Gerson Almada, sócio da construtora Engevix, foi outra que pontuou em sua defesa formal a Moro que o acusado foi vítima de uma “tentativa de achaque” pelo ex-deputado.

O ex-executivo da Mendes Júnior Rogério Cunha de Oliveira disse à Justiça que os pagamentos eram “exigidos” e não “acordados”.

O caso mais recente de suspeito que “culpou” Janene foi o do deputado federal Nelson Meurer (PP-PR). A defesa dele, ao questionar denúncia da Procuradoria-Geral da República no Supremo Tribunal Federal, apontou Janene como o único responsável pelas irregularidades.

“A defesa não cria a tese de que o Janene era o líder, são os delatores. Não é uma tentativa de fugir da responsabilidade. É que essa responsabilidade não existia”, diz o advogado de Meurer, Michel Saliba.

‘O MENSAGEIRO’
No ano passado, o deputado Hugo Motta (PMDB-PB), presidente de uma das CPIs da Petrobras, afirmou que pediria a exumação do corpo de Janene porque havia recebido informações de que o congressista não estava morto.

A estratégia de “culpar” Janene não é novidade em grandes escândalos.

No mensalão, a defesa do réu João Claudio Genu, ex-assessor dele, afirmou no Supremo que seu cliente era mero “mensageiro” do congressista paranaense. Janene era réu no mensalão, mas morreu antes de ser julgado.

Genu foi condenado pelo Supremo e, na Lava Jato, foi o principal alvo da 29ª fase da operação, deflagrada em maio. Desta vez, porém, o ex-assessor, já preso, resolveu em depoimento detalhar o que testemunhou quando trabalhava para Janene.

Acusou seu ex-chefe de pagar políticos com dinheiro vivo, disse que chegou a receber até R$ 100 mil por mês, mas por trabalhos prestados ao ex-deputado.

A atuação de Janene é usada pelas defesas como argumento indireto: diferentes advogados sustentam que a investigação que se tornaria a Lava Jato é ilegal porque começou quando o paranaense ainda era deputado e tinha foro privilegiado.

Moro também cita várias vezes o personagem como argumento a seu favor. Já escreveu em decisões que os processos da Lava Jato são de sua responsabilidade porque o caso teve início com a atuação de Janene na cidade paranaense de Londrina.

Uma das filhas dele, Danielle, 36, diz que as menções ao pai são “estratégicas” das defesas porque “morto não fala, não delata”.

“Fica fácil direcionar a culpa para ele, dizer ‘fui vítima, quem comandava era ele e eu obedecia’. Pode ser, mas eles se beneficiaram, sem sombra de dúvida.”

Foto:Jorge Araújo/Folhapress