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Ex-assessora diz que deputado se apropriou do salário de servidores

Esquema gafanhoto
Ex-assessora diz que deputado se apropriou do salário de servidores

Em depoimento, antiga funcionário de Barbosa Neto na Assembléia conta que havia vários "fantasmas" no gabinete do parlamentar quando ele esteve na Casa

Karlos Kohlbach

O depoimento de uma ex-assessora do deputado federal Ho-mero Barbosa Neto (PDT-PR) complicou a situação do parlamentar na investigação do Ministério Público Estadual (MP) e da Polícia Federal (PF) sobre o esquema gafanhoto dentro da Assembléia Legislativa do Paraná – que apura a contratação de funcionários fantasmas e o suposto desvio de recursos públicos por meio do depósito dos salários de vários servidores da Casa na conta bancária de uma única pessoa. Barbosa Neto, candidato a prefeito de Londrina, está sendo investigado por participar do esquema no período em que exerceu o mandato de deputado estadual na Assembléia, entre os anos de 2003 a 2006. Assim como ele, outros 51 políticos paranaenses são investigados por participarem do esquema gafanhoto.

Tânia, como a ex-servidora do Legislativo será identificada pela reportagem, trabalhou como assessora parlamentar no gabinete de Barbosa Neto por três anos, de maio de 2003 a maio de 2006. Durante esse tempo, ela afirma que assistiu a algumas atitudes do deputado que não condizem com o cargo e que revelam mau uso do dinheiro público, ao contratar funcionários fantasmas e parentes.

Tânia prestou dois depoimentos sobre o caso: um na PF de Curitiba, em maio deste ano, e outro no Ministério Público do Paraná, em março. A íntegra dos depoimentos, obtidos com exclusividade pela Gazeta do Povo, mostram que a ex-assessora acusa a esposa de Barbosa Neto, Ana Laura Lino, de nunca ter trabalhado na Assembléia, embora fosse nomeada na Casa. Já em entrevista à reportagem, disse que Ana Laura recebeu, durante todo o ano de 2005, mais dinheiro da Assembléia do que o próprio parlamentar.

Segundo fontes da Polícia Federal, Ana Laura Lino teria recebido da Assembléia, em 2005, cerca de R$ 165 mil – média de R$ 13,5 mil mensais, vencimento superior até ao que ganha um deputado na Assembléia. Barbosa Neto, por sua vez, como deputado, recebia R$ 9,5 mil mensais naquela época.

Tânia explicou, nos depoimentos e à reportagem, o motivo da discrepância dos vencimentos do deputado e de sua esposa. “A Ana Laura recebia o salário de até quatro pessoas na conta bancária dela”, afirmou a ex-assessora, o que caracterizaria o esquema gafanhoto. A esposa de Barbosa Neto, declarou Tânia, foi nomeada para ocupar cargo no gabinete do marido e na liderança do PDT – no período em que o deputado foi líder da legenda na Assembléia.

Mas Ana Laura não era a única parente de Barbosa Neto empregada no gabinete. Num trecho do depoimento, Tânia fala que, além da mulher, a irmã, uma sobrinha e o cunhado também apareciam na lista de funcionários nomeados. “O problema é que nenhuma dessas pessoas aparecia para trabalhar na Assembléia. Mas, no final do mês, recebiam o salário normalmente”, disse. Num outro trecho do depoimento prestado à PF, Tânia conta que além dos parentes, Barbosa Neto empregava na Assembléia funcionários da rádio dele de Londrina e do programa de TV Barbosa Neto Show, que apresentava numa emissora de televisão na capital. “Essas pessoas ganhavam dinheiro público, da Assembléia, mas trabalhavam promovendo o deputado na rádio e na televisão”, afirmou a ex-assessora. Muitos desses funcionários, comentou Tânia, davam parte ou até todo o salário ganho na Assembléia para o deputado.

Tânia, que cuidava da parte administrativa do gabinete do deputado, entregou às autoridades uma lista contendo nomes e números de contas bancárias de alguns servidores que trabalharam no gabinete.

Como a investigação corre em segredo de Justiça, a PF oficialmente não comentou o depoimento prestado por Tânia. No entanto, um agente da Polícia Fe-deral, que pediu para não ter o nome divulgado, informou que foi solicitado à Justiça a quebra do sigilo bancário de alguns dos funcionários listados por Tânia. A intenção, segundo o agente, é rastrear a movimentação financeira para encontrar o destinatário da verba pública. Confirmado o desvio de dinheiro público, os envolvidos poderão ser denunciados por crime de peculato (apropriação de verba pública).