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EUA buscam acordos bilaterais para travar integração latina

EUA buscam acordos bilaterais para travar integração latina

O alerta é do professor e economista Nilson de Souza, que vai coordenar plenária geral no dia 6 de julho, na Chamada Geral pela Integração Latino-Americana – evento preparatório ao Fórum Social do Mercosul

O fracasso da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) obrigou os EUA a buscar nova estratégia para tentar impedir a união dos povos da América Latina. Por traz dos acordos bilaterais de comércio, com os países menores, os EUA escondem um plano de sedução, oferecendo benefícios imediatos às elites dirigentes que trarão prejuízos irreversíveis na integração dos países latino-americanos.

O alerta é do professor e economista, Nilson Araújo de Souza, que vai coordenar plenária geral: “A conjuntura econômica, dívida pública e criação do Banco Sul”, no dia 6 de julho, na Chamada Geral pela Integração Latino-Americana – evento preparatório ao Fórum Social do Mercosul. A chamada acontece entre os dias 5 e 7 de julho no Centro de Convenções de Curitiba.

Nilson Araújo de Souza é autor de 10 livros sobre economia, entre os quais, “Ascensão e Queda do Imperialismo Americano” e “A Longa Agonia da Independência”. Na chamada geral, o professor estará lançado o seu 11º livro: “A Economia Brasileira Contemporânea – de Getúlio a Lula”.

A estratégia norte-americana, segundo Nilson Souza, é mais uma forma de tentar dividir o continente e impedir que a sua integração. “É esta a luta. Vejo os EUA crescentemente tentando nos impor e seduzir os países menores da região para este tipo de acordo e nós temos que trabalhar no sentido de evitar que esta sedução, digamos que este olhar da serpente, consiga resultados”.

Leia a seguir a entrevista do professor:

O senhor sempre tem escrito sobre a economia do Brasil e a economia internacional. Quais as perspectivas para a economia latino-americana neste processo de integração?

Nilson Araújo de Souza – A idéia da integração da América Latina é antiga, vem dos libertadores, como Simón Bolívar, um dos principais articuladores desta idéia (em 1926 o ex-presidente venezuelano tentou promover a integração continental ao convocar o Congresso do Panamá, a idéia não deu resultado devido ao baixo interesse dos países). Ela tinha sido torpedeada pela grande potência do norte, os EUA, desde o século XIX em diante e ela foi retomada nos anos de 1950 pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina) – órgão da ONU que fez várias propostas para poder desenvolver a América Latina.

Eram três propostas básicas segundo a Cepal, teríamos primeiro que nos integrar, segundo industrializar e terceiro fazer a reforma agrária. Então a idéia da integração, segundo a Cepal, tinha como objetivo não só fortalecer a capacidade de cada país de se desenvolver, como fortalecer a capacidade de negociação da região no cenário internacional.

Depois daí se tentou, em alguns momentos, se criou a Alalc (Associação Latino-americana de Livre Comércio), a Aladi (Associação Latino-americana de Integração). No entanto não avançou muito o processo de integração, ele é retomado com profundidade agora no governo atual.

O Governo Sarney tinha retomado a iniciativa ao assinar com o governo da Argentina a criação do Mercosul, mas esta idéia vem com toda a força agora no governo Lula, a partir de uma posição antiga do Itamaraty, que é de integração do conjunto da América do Sul.

Já levando em consideração que é mais complicado integrar com o México que participa de outro bloco, então integrar o conjunto da América do Sul. Apesar de todas as contradições, as dificuldades deste processo, mas é um processo que avança.

Agora vemos recentemente a estada do Lula com o presidente da Bolívia (Evo Moralez), a estada do Lula com o presidente do Uruguai (Tabaré Vásquez) tentando sanar dificuldade do processo de integração, mostra que o processo avança.

Os EUA agora tentam acordos bilaterais para travar a integração, tentam com o Chile, tentam o Paraguai, tentam o Uruguai, eles podem ter algum sucesso de nos dividir?

Nilson Araújo de Souza – Como não deu certo o grande projeto dos EUA, que é a formação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que não deu certo por um lado pela intransigência deles, que queriam impor regras ao conjunto da América Latina que só beneficiavam os EUA e no momento que ganha as eleições no Brasil o Lula, ganha o Hugo Chavez na Venezuela, ganha o (Néstor) Kirchnner na Argentina, não aceitaram mais esta imposição. Então, como não deu certo este projeto da Alca, os EUA montaram outra estratégia, fazer acordos de livre comércio bilaterais com cada país.

É uma forma de tentar nos dividir e impedir que a gente se integre. É esta a luta. Vejo os EUA crescentemente tentando nos impor e seduzir os países menores da região para este tipo de acordo e nós temos que trabalhar no sentido de evitar que esta sedução, digamos que este olhar da serpente, consiga resultados.

E neste sentido tem sido importante não só o que o Lula tem feito, como acabei de falar, de estar com o presidente do Uruguai, que é a bola da vez. O Uruguai que os EUA estão querendo agora assinar acordo bilateral. O Brasil foi lá e fez um conjunto de acordos, ao mesmo tempo a postura do Hugo Chavez que tem petróleo e a partir do petróleo poder ajudar aqueles países menos desenvolvidos para compensar as ofertas que os EUA tem feito também ajuda.

E a postura do Kirchner na Argentina. Então esta é a luta e acho que nesta luta a tendência principal, o projeto de integração latino-americana sair vitorioso e vai sair vitorioso, mas sabendo que vai estar encontrando esta dificuldade pelas imposições dos EUA o tempo todo. Os EUA já torpedearam este processo de integração várias vezes no passado, mais uma vez estão tentando, mas acho que desta vez as condições estão mais maduras para dar certo o processo de integração.

Sempre se especula em intervenção militar dos EUA no continente como aconteceu na Nicarágua, El Salvador, é uma possibilidade remota, ainda é possível?

Nilson Araújo de Souza – Não vejo como perspectiva no momento atual. Primeiro não teria justificativa. Os EUA podem colocar em relação à Venezuela. Mas na Venezuela eles pensam duas vezes, porque estão vendo que lá o universo está unificado em torno do presidente e do projeto do presidente Hugo Chavez. Então fazer uma intervenção nesta situação seria difícil porque não teriam nem como justificar moralmente esta situação.

Por exemplo: no caso do Iraque, eles também não tinham como justificar moralmente, no entanto para eles era mais fácil naquele momento entrar no Iraque do que, por exemplo, entrar na Venezuela. Eles já vinham fazendo uma propaganda tentando isolar o Saddan Houssein, inventaram aquela questão das armas de destruição em massa, que se confirmou que não existiam, mas conseguiram envolver algumas pessoas com aquele discurso.

Agora é mais difícil, acho que o que eles vão tentar fazer é o jogo da sedução, ou seja, fazer ofertas que possam trazer algum tipo de benefício imediato para tal país, mesmo que a médio e longo prazo seja ruim para este país, mas fácil ter este argumento de benefício imediato para poder seduzir, digamos as elites dirigentes locais e tal. Então é isso que eles vão tentar, trabalhar com esta estratégia.

As visitas do presidente dos EUA, George Bush, ao continente, fazem parte desta estratégia?

Nilson Araújo de Souza – Sim, ele veio ao Brasil e também foi ao Uruguai. Mas antes o presidente Lula já havia anunciado o que discutiria com ele, a isenção da entrada do nosso etanol (álcool) nos EUA. Eles estão dizendo que estão querendo mudar a matriz energética deles, no entanto tributam pesadamente a importação do etanol brasileiro. Evidentemente que o Bush tentou colocar outras questões em jogo, principalmente para tentar debilitar o processo de integração da América do Sul. Acredito que vai terminar prevalecendo que o nosso projeto de integração continua.

Quanto aos encontros como a Chamada Geral pela Integração Latino-Americana e o Fórum Social do Mercosul, são caminhos para avançar no processo de integração?

Nilson Araújo de Souza – Os paranaenses conseguiram uma missão altamente oportuna, fazer essa chamada geral e o Fórum Social do Mercosul. No momento em que, primeiro lugar, o Fórum Social Mundial começa a experimentar algumas transformações, deixa de ser um mero fórum de debate, por mais que continua o debate e começa a assumir a estratégia de grandes mobilizações pelas mudanças, por um novo mundo, etc. E ao mesmo tempo do momento em que o Mercosul cada vez mais se consolida, pela integração da Venezuela, o pedido de integração da Bolívia e a possibilidade de fazer a integração do conjunto da América do Sul, fundindo o Mercosul com o Pacto Andino, mais os países que não estão nem no Mercosul, nem no Pacto Andino como o Chile, o Suriname e a Guiana. Então neste momento fazer o Fórum Social do Mercosul aqui é de fundamental importância. Os paranaenses e os curitibanos estão de parabéns.