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Em Curitiba, “descomemoração” ao Golpe de 1964

50 anos do golpe militar de 1964 em Curitiba

Os 50 anos do Gole Militar de 1964 deverão contar com uma “descomemoração” em Curitiba. Com organização do Fórum Paranaense pela Verdade e Justiça, e participação de diversas entidades, uma extensa programação com mostras de cinema, exposição de artes e debates em diversos pontos da capital paranaense deve lembrar este período obscuro na história do país.

A supressão das liberdades individuais e coletivas, o fechamento do Congresso Nacional, o Ato Institucional n° 5, o controle e a censura da imprensa e de todas as formas de manifestação humana através das artes, a repressão e a violência do Estado sobre os sindicatos e movimentos estudantis eram apenas algumas das facetas mais visíveis do Regime de Exceção que se instalara à força no país.

Vieram os órgãos de informação e repressão do Regime Militar como os DOPS, DOI-CODI e SNI, os grupos de caça e extermínio aos que ofereciam resistência ao Golpe de Estado. Vieram as prisões arbitrárias, o uso da força militar sobre a população civil e indígenas, o uso generalizado das práticas de tortura para obtenção de informações e confissões, o desaparecimento forçado de pessoas e as execuções sumárias, estas aos milhares.

A nação brasileira estava dividida entre aqueles que nada enxergavam e nada sabiam e aqueles que o estado brasileiro perseguia, prendia, torturava e executava. A resistência ao Regime rapidamente se mostrou insuficiente e frágil diante da força bruta do Estado. O maniqueísmo das campanhas do tipo “ame ou deixe” e a instauração dos “grupo de caça aos comunistas” buscavam instigar a população ao ódio generalizado a todos que ousassem pensar diferente e criticar o Regime. A prisão sem provas, o julgamento sem direito à defesa e ao contraditório e a pena de morte se tornaram uma prática no Brasil.

O pais mergulhava numa profunda crise que lentamente atingia indistintamente a todos: a fome, a miséria, a falta de oportunidades e de esperança no futuro, a ausência do Estado como provedor e articulador no atendimento ás necessidades básicas da população evidenciavam a incapacidade do Regime de governar o país.

Ao poucos os familiares de mortos e desaparecidos, a campanha pela anistia, a adesão de setores progressistas da igreja e a pressão internacional foram criando as condições para o processo de reabertura democrática.

Veio a anistia, imposta pelo regime, sem de fato justiça de transição. A restauração da democracia brasileira se mostrou imperfeita e inconclusa. A herança de impunidade, corrupção, subdesenvolvimento e atraso tecnólogo deixadas pelo Regime condenaria a maioria absoluta dos brasileiros, nas décadas seguintes, à miséria absoluta e a uma crise econômica sem precedentes.

Hoje, passados 50 anos do Golpe de 1964, muito ainda há por fazer. Os milhares de mortos e desaparecidos precisam ser encontrados e sepultados. A nação brasileira precisa conhecer seu passado para se entender com o seu presente e construir um possível futuro de paz, liberto julgo das correntes que o aprisionam. É preciso aperfeiçoar e aprofundar a democracia brasileira sob a égide da verdade, da memória e da justiça, para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça.