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Efeito pandemia: prefeito Chico Brasileiro quer que Foz diversifique sua economia

Por Roger Pereira
Gazeta do Povo

Foz do Iguaçu foi uma das cidades brasileiras mais afetadas pela pandemia causada pelo coronavírus. Se, na área da saúde pública, a cidade conseguiu evitar o colapso e, de certa forma, controlar os números de casos e mortes, na economia o estrago foi imenso. A cidade, que vive, essencialmente, do turismo, parou. Se, em 2019, mais de dois milhões de pessoas visitaram o Parque Nacional, em 2020, o número de visitantes não passou dos 658 mil.

Reeleito prefeito da cidade em uma das eleições mais disputadas no estado (com vantagem de menos de 3 mil votos para o segundo colocado), Chico Brasileiro (PSD) afirmou, em entrevista à Gazeta do Povo, que a pandemia ensinou à cidade que é preciso diversificar a economia. “Vamos seguir investindo fortemente no turismo, nosso carro chefe, mas temos que ter atenção para o comércio e a indústria. Nenhuma cidade pode ficar refém de apenas um setor econômico”, afirmou. Chico Brasileiro também comentou a estratégia de enfrentamento da Covid-19 no município, considerada radical no início da pandemia, e as medidas adotadas para a retomada, “no pós-vacina”. Confira trechos da entrevista

Nessa agenda positiva, prefeito, do que o senhor apresentou lá na eleição suplementar até 31 de dezembro, o que foi concluído e o que acabou ficando para esse mandato?
Houve mudanças, principalmente no último ano, de rumo, onde nós tínhamos programado algumas ações na área da saúde e nós tivemos que reorganizar após o início da pandemia todos os investimentos, inclusive que já iriam começar. Nós tínhamos obras que já estavam com ordem de serviço e tivemos que cancelar, e reorganizar todo sistema de saúde.

Assim também como na área educacional. Nós tínhamos um projeto de ampliação de centros de educação infantil. O nosso projeto era igualar o número de escolas do ensino infantil com o número de escolas do ensino fundamental, para proporcionar que a criança inicie estudando mais cedo e assim a gente possibilite a continuidade tanto no ensino infantil quanto no ensino fundamental. Para isso são necessárias mais salas de aulas, mais escolas infantis. A gente iniciou esse projeto, mas não conseguiu concluir essa equivalência.

Então, Foz foi uma cidade muito afetada pela pandemia e nós tivemos que reorientar toda política pública para não se perder aquela premissa básica que nós tínhamos que ter um equilíbrio nas contas públicas para também não arriscar o futuro da cidade.

A parceria do Governo do Estado com o Governo Federal trouxe muitos frutos para Foz do Iguaçu nos últimos dois anos, principalmente em investimentos de infraestrutura a partir da Itaipu Binacional. Qual a importância desses investimentos?
Além de melhorar a qualidade de vida, melhora a percepção da cidade para investimentos privados. Porque no investimento público, era um gargalo há 30 anos, que Foz do Iguaçu lutava por uma segunda ponte, lutava para que nós tivéssemos uma perimetral que tirasse os caminhões do centro de Foz do Iguaçu. Nós temos o maior porto seco do Brasil funcionando em Foz e esses caminhões passavam pelo centro da cidade. Ainda passam hoje. Então, com essas obras que a Itaipu está financiando, com essas parcerias com Governo do Estado e Governo Federal nós iremos resolver esse gargalo que é um gargalo de 30 anos. Além disso, a duplicação da rodovia das Cataratas.

No início de 2020, a gente estava batendo recordes de turistas e os engarrafamentos para ir às Cataratas era coisa de quatro a cinco quilômetros, então, não tem mais condições de a gente crescer se não desenvolver esses gargalos históricos. A Itaipu tem tido um trabalho de compreensão estratégica, não está fazendo investimentos pequenos, investimentos pulverizados, está concentrando investimentos, claro, com aporte do Governo Federal e do Governo do Estado. Eu diria que Foz do Iguaçu recebeu um presente com todos esses investimentos acontecendo aí em dois ou três anos.

E enquanto Foz batia recordes de visitantes e recebia esses grandes investimentos, veio a pandemia. A indústria sequer parou, o comércio parou, mas logo voltou, mas o turismo sofre até hoje. Qual o tamanho do estrago que a pandemia causou na cidade?
Nós tivemos um prejuízo imenso às empresas, prejuízo imenso aos trabalhadores e, consequentemente, a queda de arrecadação do setor público. O Imposto Sobre Serviço (ISS) é o segundo imposto mais importante só perdendo para o ICMS. É um imposto que realmente alavanca a economia local, que faz a economia girar. E nós tivemos uma queda de 35% na arrecadação. Além de outros impostos, porque como toda a cadeia do turismo ficou fechada durante sete meses, as fronteiras foram fechadas. Nós ficamos com o Parque Nacional alguns meses fechado, que é nosso principal atrativo, juntamente com Itaipu. Os nossos hotéis não podiam receber turistas. Ou seja, nós realmente fomos impactados de uma forma muito violenta, muito agressiva e sem ninguém estar preparado para isso. Foi um momento realmente muito difícil que exigiu das empresas, exigiu muita união também, e aí Itaipu foi importante nesse processo de montarmos uma agenda de recuperação da economia da cidade juntamente com o Governo do Estado. Houve uma atenção para Foz do Iguaçu que eu considero importante.

Pela Fomento Paraná, através da Prefeitura, foi investido em torno de R$ 13 milhões no juro zero para os pequenos negócios. Para o motorista de van de turismo, por exemplo, para que ele pudesse receber uma quantidade de recursos, pagar em 24 meses, tendo 12 de carência. Isso possibilitou os pequenos sobreviverem e as políticas do Governo Estadual e do Governo Federal de crédito para as empresas, para que elas pudessem atravessar esse momento mais delicado da crise.

Nós temos muitas empresas que pouco a pouco foram retomando. Terminamos o ano com a capacidade de 50% sendo utilizada nos hotéis e visitação no Parque Nacional. Mas, o Brasil e o mundo enxergam Foz do Iguaçu como a cidade que eles querem visitar, é um dos destinos mais procurados para visitação pós-pandemia. Então a gente está com a esperança muito grande, a gente está se preparando para o pós vacina, que é o nosso foco, para que essa vacinação permita que os estrangeiros possam retornar. O nosso foco agora de retomada é mostrar que nós temos atrativos que são os atrativos da família, que a cidade tem uma diversidade de atrativos que não apenas as Cataratas e Itaipu. Elas se complementam. Hoje o pacote para Foz é de sete dias tranquilamente, para que as famílias possam viver Foz do Iguaçu. Nós vamos trabalhar em uma grande divulgação no Brasil e no exterior a partir dessa retomada, no momento em que tivermos a segurança que nossa capacidade pode funcionar 100%.

O fim do auxílio emergencial, pago pelo governo federal a quem ficou economicamente comprometido com a pandemia, preocupa e faz a prefeitura pensar em uma alternativa?
O que estamos trabalhando é um plano de comprar serviços desses pequenos negócios, pequeno empreendedor. Estamos estimulando que as pessoas se regularizem através do MEI, que é uma forma com menos impostos, para que elas possam vender serviços para prefeitura, serviço de eletricista, encanador, pedreiro. Nós estamos trabalhando muito isso, que através dos pequenos negócios e não com um repasse direto, porque se a gente repassar um mês e repassar outro é uma forma impensável, porque o município está aportando recursos para algo que é importante, mas não sabemos até onde vai. Você tem que ter outras estratégias. Recuperar escolas, instituições públicas, através do MEI, para que as pessoas possam ter continuidade após a pandemia. Nós temos uma parceria com o SENAI de oferecer cursos profissionalizantes para essas pessoas e incentivar que elas sejam microempreendedoras individuais. A prefeitura está trabalhando nesse sentido.

Lançamos outro programa que é Foz conhecendo Foz. Então, o guia de turismo ele vai pegar o iguaçuense, ele vai levar aos atrativos, contar a histórias dos atrativos e assim ter trabalho. Vai receber por isso, uma renda da prefeitura, mas vai fazer como que o iguaçuense possa se envolver no processo de recuperação do turismo como um todo.

Para os próximos quatro anos, o que o senhor apresentou de diferente para a cidade? É um mandato de continuidade ou há alguma mudança?
Nós temos que diversificar a economia. Sempre trabalhamos muito focados no turismo e a pandemia foi uma demonstração clara de que nenhuma cidade do mundo pode ficar apenas focada em um setor. É preciso atrair empresas, transformar a cidade em um grande centro comercial. E, aí estamos apostando muito nas lojas francas, que é um modelo que o governo federal já aprovou para cidades gêmeas. Ou seja, o brasileiro que sai de Foz para comprar no exterior pode comprar esses produtos no Brasil. Então vai ter uma cota de US$ 300 por mês por pessoa, pelo número de turistas que passam por Foz do Iguaçu, isso pode gerar muitos dividendos para acidade e gerar empregos. O turismo de compras é um dos mais importantes do mundo e quando é casado com o turismo de natureza, então, é a combinação perfeita. Mas vamos, também, diversificar nosso distrito industrial, para que algumas empresas que tenha o perfil da cidade, que não pode instalar vários tipos de empresas por conta do Parque Nacional, compreendam que Foz não é uma cidade no fim da linha, é o centro do Mercosul. Temos uma localização geográfica estratégica que pode nos transformar num grande hub de distribuição de produtos para a América do Sul. Então, vamos trabalhar muito isso para diversificar a economia da cidade e não ficarmos tão dependente do turismo, apesar de querermos fortalece-lo ainda mais.

Acompanhe na íntegra essa entrevista: Gazeta do Povo