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Educação no Brasil – mitos e verdades

 

“Num país como o Brasil, manter a esperança viva é em si um ato revolucionário”. Paulo Freire

Luiz Claudio Romanelli

A revista inglesa Times Higher Education (THE) publicou o ranking de melhores universidades da América Latina em 2019. O Brasil é o país mais representado na lista, com 52 instituições entre as 150 mais bem avaliadas da América Latina. São brasileiras seis das dez universidades com maiores notas gerais.

Dessas, cinco são universidades públicas: Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade do Estado de São Paulo (Unesp).

No Paraná, das sete listadas, seis são públicas – duas federais e quatro estaduais, sendo que todas elasmelhoraram em vários quesitos, desde a última avaliação.

A Universidade Federal do Paraná manteve a posição de melhor entre as instituições do Paraná que aparecem no ranking. Subiu da 36ª em 2018 para a 26ª posição na edição de 2019 do Latin America University.

A classificação utiliza 13 indicadores de desempenho que são aplicados no “THE World University Rankings”. São avaliados critérios de ensino, pesquisa, transferência de conhecimento e perspectivas internacionais.

Entre as universidades estaduais públicas, a Universidade Estadual de Londrina- UEL é a melhor classificada do Estado, saltando da posição 48ª em 2018 para 39ª neste ano. A universidade também se destacou nos critérios de pesquisa e ensino.

A PUC PR ficou classificada na 44ª posição no ranking das melhores da América Latina. Já a UEM ficou classificada entre a posição 71ª e 80ª na classificação geral, assim como a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

A UEPG aparece como 81-90ª e a Unioeste está entre as 101 universidades mais bem avaliadas, em comparação com o ranking de 2018, e a Unioeste avançou nos tópicos de relação com a indústria, ensino e pesquisa.

A divulgação do ranking é importante por vários motivos, mas especialmente para valorizar o trabalho desenvolvido por nossas universidades. As Universidades Públicas, que ofertam cursos das mais diversas áreas para formação de recursos humanos, produzem conhecimento, prestam serviços à sociedade e promovem a cidadania. Por isso é preciso defende-las e ao seu capital, arduamente construído nos últimos anos. Atacá-las sem conhecê-las é prejudicar o desenvolvimento nacional e a construção de uma sociedade mais justa e desenvolvida.

É motivo de orgulho para os paranaenses o desempenho das nossas universidades, que são responsáveis, dentre outras coisas, por atendimento de referência em saúde humana e animal. Tanto na UFPR quanto na UEL – as duas que mais cresceram no ranking – os atendimentos de doenças graves e/ou crônicas são feitos nos hospitais universitários, que contam com profissionais de altíssimo nível que atendem pelo sistema único de saúde.

A UFPR figura no ranking com a 15ª maior nota entre as universidades brasileiras. Também é a 13ª melhor entre as instituições públicas. A nota geral da UFPR subiu de 59.4 em 2018 para 66.8 em 2019.

Em relação ao ano passado, a UEL subiu da 48ª para a 39ª posição, permanecendo como a segunda Universidade do Paraná melhor classificada. A UEL melhorou as notas nas cinco áreas, com destaque nas citações das pesquisas realizadas, que subiu de 30,7 em 2018 para 40,2 este ano. Outro indicador que melhorou foi a integração com a sociedade, que evoluiu de 15,7 em 2018 para 36,5 em 2019.

Ao contrário do que apregoam os obscurantistas, nossas universidades não são espaços de libertinagem ou balbúrdia, mas centros de excelência no ensino e pesquisa, como mostra o ranking da revista Times HigherEducation (THE).

O que precisamos agora é tornar a efetiva a conexão entre ensino superior e educação básica em nosso país. As universidades precisam retomar o olhar para a formação inicial de professores e a transferência de conhecimento para as escolas de ensino fundamental e médio, visto que o bom desempenho de nossas universidades, não está sendo replicado na educação básica, que apresenta números muito preocupantes em nosso país.

Segundo os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) de 2018, divulgados pelo IBGE na semana passada, houve melhora em praticamente todos os indicadores educacionais do Brasil, entre 2016 e 2018, mas ainda estamos muito longe do ideal.

O ensino fundamental (6 a 14 anos) e o ensino médio (15 a 17 anos) avançaram, com taxas de 99,3% e 88,2%. Mas continuam os problemas da distorção idade x série e da evasão no ensino médio (15 a 17 anos), onde foi registrada, em 2018, taxa de frequência líquida de 69,3%, ou seja, 30,7% dos alunos estavam em descompasso com a série ou tinham deixado a escola.

Mais da metade dos brasileiros de 25 anos ou mais não têm ensino médio completo. A maior parte, 33,1%, não terminou nem o ensino fundamental. Outros 6,9% não têm instrução alguma, 8,1% têm o fundamental completo e 4,5% têm o ensino médio incompleto. Somente 16,5% da população acima de 25 anos concluiu o ensino superior.

Em relação aos jovens de 15 a 29 anos, em 2018, 17,6% dos homens e 28,4% das mulheres não trabalham, nem estudavam ou se qualificavam.

A falta de escolarização e de qualificação dos nossos jovens é uma verdadeira tragédia. Sem educação formal ou capacitação profissional, milhões de jovens estão condenados ao subemprego, à informalidade e à pobreza.

A sociedade precisa se engajar na tarefa de resgatar os jovens para a escola. É preciso parar de discutir temas inúteis como escola sem partido, é preciso conter movimentos que procuram qualificar as universidades como antros de balbúrdia. Tudo isso nos desvia do que é essencial: precisamos ter um sistema educacional que priorize o processo efetivo de ensino x aprendizagem, que estimule o jovem a permanecer na escola, que olhe para todos os perfis de estudantes e para suas especificidades, tornando a educação inclusiva de verdade, com acesso universal, para todos.

Como ensinou Paulo Freire, “Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.

Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual pelo PSB do Paraná