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Eduardo Jorge: PT faz política do século passado

do Congresso em Foco

O candidato do PV à Presidência da República, Eduardo Jorge, era o líder da bancada do PT na Câmara, em 1992, quando o ex-presidente Fernando Collor sofreu o processo de impeachment e a legenda era oposição. Um dos fundadores do PT, ele também estava entre os parlamentares constituintes que, nos anos 1980, ajudaram a elaborar a atual Constituição de 1988. Anos depois, exerceu as funções de secretário municipal de Saúde de São Paulo, nas gestões petistas de Luiza Erundina (1989-1990) e Marta Suplicy (2001-2002). Após trocar o PT pelo PV, foi secretário municipal de Meio Ambiente do tucano José Serra (2005-2006) e de Gilberto Kassab (2006-2012), ex-DEM, hoje no PSD. E é assim, com a experiência da pluralidade partidária, que ele não hesita em classificar como arcaica a política do PT no poder.

Na primeira da série de entrevistas que o Congresso em Foco publicará nos próximos dias com os candidatos à Presidência da República, Eduardo Jorge falou por pouco mais de uma hora (assista abaixo a parte da entrevista e clique aqui para ler a íntegra). Reclamando do pouco espaço que tem no horário eleitoral, demonstrou contrariedade em relação a diversas questões da política no Brasil sob o comando de seu ex-partido – como as recentes medidas de desoneração fiscal para a indústria automobilística como forma de incentivar o consumo.

“Totalmente errado. Isso é um absurdo! Uma coisa inacreditável que um partido, em alguns aspectos tão moderno, não leia que o mundo está sendo ameaçado pelo aquecimento global, a maior ameaça que a humanidade já teve que enfrentar. Não é possível que a direção do PT não leia jornal, não assista às conferências da ONU. Você apostar todas as fichas no petróleo e na indústria automobilística como os dois carros-chefes da economia nacional… Parece que isso está na genética do PT, né?”, disse o médico sanitarista por formação. “O PT, nesse ponto, é um partido do século 20. Petróleo, automóvel… Com a liderança que o PT tem, seria importantíssimo que ele dissesse para o povo a gravidade que é o aquecimento global.”

Também avesso ao que se convencionou chamar de “velha política”, Eduardo pisa em ovos quando o tema é Marina Silva, sua ex-companheira de PT e, até as eleições de 2010, de PV. Questionado sobre as críticas públicas que fez ao fato de ela, do alto dos quase 20 milhões de votos obtidos no pleito presidencial de 2010, ter ficado neutra em relação ao segundo turno quatro anos atrás, o candidato pondera – não sem antes demonstrar aborrecimento em relação à imprensa:

“Toda vez que eu falo disso vocês [imprensa] falam ‘Eduardo criticou a Marina’. Aí lá vai Marina ficar mais chateada comigo, de novo. Eu disse, com clareza, que a campanha foi linda, ótima, que ela é uma pessoa maravilhosa, só que o noivado não deu certo. E, quando o noivado não dá certo, é problema do noivo e da noiva. Foi uma coisa errada dela, mas do PV também, porque não foi a Marina que disse que ficaríamos neutros. Foi a Marina e a direção do PV”, diz o candidato, que não economiza elogios à concorrente. “Marina não é uma personalidade nacional, ela é mundial, por sua história linda. A própria vida dela é uma legenda.”

Para Eduardo, é justamente por essa importância a ela atribuída, além da expressiva votação no primeiro turno em 2010, que Marina e o PV deveriam ter se posicionado em favor da petista Dilma Rousseff ou do tucano José Serra, os concorrentes do segundo turno. “Eu dizia o seguinte: um partido que teve 20 milhões de votos, numa eleição de segundo turno, cuja característica do segundo turno era você tentar se aproximar do candidato mais próximo a você, e você pegar a bola e dizer: ‘Não quero jogar mais, não. Vou-me embora para casa, e vocês que se virem’? É errado, isso realmente foi um erro”, explicou.

Tabus

Pai de seis filhos, 65 anos, soteropolitano, Eduardo Jorge enche o peito ao dizer que não evita três dos temas que mais têm causado danos aos três principais presidenciáveis: aborto, legalização de drogas e casamento gay. Especialista em planejamento familiar, ele se diz a favor de tudo isso, desde que com a devida regulamentação e um intenso trabalho de tutela por parte do Estado e das respectivas autoridades competentes. Mas reitera, demonstrando algum incômodo, que seu partido não escolhe um ou outro tema para ser focalizado em época de campanha.

“Eu só insisto nisso, que nós do PV falamos de todos os assuntos. Agora há outro estigma do PV, o de que o PV é o partido da floresta, do mar, do rio. Nós somos, sim. Somos os campeões da defesa dos biomas, está na origem, na nossa genética. Mas também somos o partido que se preocupa também com a cidade, com o lugar onde 85% do povo do Brasil vivem. Com a economia, com a reforma tributária, com a reforma previdenciária, com a política internacional”, enumerou.

Quando o assunto é o enfoque no petróleo como combustível estratégico, uma das apostas do governo petista, Eduardo Jorge arregaça as mangas ambientalistas para encher de críticas a escolha de Dilma. “O pré-sal, junto com o carvão da China, o carvão da Austrália e a areia betuminosa do Canadá, está entre os quatro maiores projetos energéticos sujos do mundo! O Brasil, agora, vai ser um dos quatro maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, portanto prejudicando a natureza e a vida da humanidade de forma brutal”, disse o candidato, apontando para alternativas como a energia solar.

Eduardo ataca também outra bandeira da campanha petista, o programa Mais Médicos. Segundo ele, o governo demonstra seu fracasso na área da saúde com a medida, quando deveria formar profissionais mais qualificados no setor, e não trazer médicos de Cuba. “É uma importação de última hora, uma coisa eleitoreira. É claro, se eu não tenho um médico lá em Brejo do Cruz, no sertão da Paraíba, e coloco um médico, claro que eu vou ter um retorno eleitoral – e aí eu tenho um benefício imediato para a população que estava sem médicos. Mas é uma coisa insustentável, não vai resolver o problema. Claramente, uma manobra eleitoreira para tapar um erro, um fracasso do próprio governo”, avalia.