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É preciso educar para o século 21

É preciso educar para o século 21

Claudia Costin

Nas discussões que precederam o processo eleitoral aqui nos Estados Unidos, onde vivo, uma das análises apresentadas diz respeito às características demográficas dos eleitores de cada lado.

Há uma clara constatação de que o eleitor de Trump é majoritariamente branco e com menos anos de escolaridade, diferentemente de sua principal adversária, Hillary Clinton, que tem um eleitorado mais diverso e com mais estudo. Isso desqualifica um lado ou outro? Não necessariamente, e nem quero aqui entrar nesta discussão.

O que ocorre nos Estados Unidos, segundo Paul Reville, pesquisador de Harvard, é que empregos com salários de classe média e algum prestígio estavam disponíveis há duas décadas para jovens brancos que abandonavam o ensino médio, e isso já não ocorre.

Os empregos com salários de classe média se abriram para outros grupos étnicos e minorias, associados, porém, ao acesso a maior qualificação, seja em cursos técnicos ou no ensino superior.

Ora, o ressentimento que daí advém não é pequeno e se torna mais aberto agora que as redes sociais permitem espaços de vocalização para todas as tribos. Construíram-se, assim, uma identidade tribal e o líder que pode representá-la, não por a ela pertencer, mas por se comunicar na sua língua. A mística de um passado dourado a ser reconstruído conclui a tarefa.

Duas perguntas se levantam nesse contexto: por que nos Estados Unidos, como, aliás, no Brasil, os jovens abandonam o ensino médio e como uma proposta educacional diferente poderia ajudar a construir cidadãos empregáveis e aptos a participar de forma construtiva na sociedade?

Os jovens abandonam o ensino médio, de acordo com publicação recente do Banco Mundial, por desinteresse ou despreparo. Não consideram que o que aprendem é importante ou relevante para sua vida e, embora alguns entrem precocemente no mercado de trabalho, muitas vezes informal, boa parte não estuda nem trabalha. Não fogem do rigor do estudo, e sim da percepção de que pouco aprendem.

Nesse contexto, vale a pena pensar se 13 disciplinas, distribuídas em 4 horas de aula, ajudam a tornar o ensino interessante. Sim, inventamos esta jaboticaba: nenhum dos 30 primeiros países do Pisa tem tantas disciplinas, mesmo que contem com carga horária maior.

Por outro lado, trabalhamos na escola apenas com competências cognitivas e com um estilo de aula em que o aluno ouve, copia do quadro e anota no caderno, com limitada participação. Onde estão as competências para a vida em sociedade ou para a empregabilidade nesse currículo enciclopédico e percebido como irrelevante?

Claudia Costin, é professora visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Banco Mundial, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração.