Arquivos

Categorias

Despedida de um amigo – por Rogério Bonato

Olívio Antoniolli, o Zanin: quem é esse cara? Alguém perguntou ontem. Francamente o questionamento me causou certo desconforto e de imediato me levou a escrever este texto. Às vezes a memória e tratada de forma indelével nesta cidade. Posso resumir que ele foi um “grande cara”, alguém que se preocupou mais com os outros do que consigo próprio e dedicou boa parcela de sua trajetória aos menos favorecidos, sobretudo crianças e adolescentes.

Zanin pode ter apagado um pouco o brilho nos últimos anos, mas isso, apenas no aspecto de “aparecer”, fato que lamentavelmente molda a opinião pública; para alguém como eu, ele sempre irradiou. Só “aparecer”, pode significar absolutamente nada.

Conheci Zanin logo que cheguei em Foz. Ele sempre esteve envolvido com o esporte, com os clubes de serviço, assava churrascos, contava piadas, se metia em tudo ao que era chamado. Ele atendia aos chamados e é o que vale e conta pontos importantes na vida social; as pessoas que comparecem, assumem seu papel, amparam, de alguma forma contribuem; elas se destacam.

Houve uma época que Zanin abraçou uma causa nobre: assumiu o Conselho Comunitário do Menor. Aqueles tempos eram difíceis, as ruas estavam abarrotadas de crianças perdidas, pedindo esmolas, cheirando cola; era o vício de então. Estávamos no auge da construção de Itaipu, o que atraiu muito gente, e, muitos dos que não conseguir emprego lá acabaram ficando pelas ruas.

Zanin recorreu ao Estado e o que conseguiu foi um anexo na delegacia de polícia. Em verdade uma parte da cadeia, abandonada, no meio de um ferro velho, sem fiação, luz, água e estrutura para abrigar as crianças. Várias pessoas e clubes de serviços se somaram a ele (inclusive eu); o local foi reformado e as crianças, além de roupas, recebiam diariamente café da manhã, almoço, jantar, abrigo, assistência social profissional e todo o conforto e amparo que se podia dar. Era o mínimo, mas podiam contar com ele. Não seria surpresa caso a ação fosse duramente atacada por alguém e foi o que aconteceu. Zanin foi chamado de nazista, de mão de ferro, de “usurpador”, uma das maiores injustiças que já assisti na vida.

Ele comprou uma Kombi, reformou em sua oficina e saía pela cidade recolhendo os menores, alguns “chapados da cola, maconha e outras drogas”; levava-os para locais de atendimento, comprava remédios do próprio bolso e depois conseguia abrigo em casa de amigos, ou no anexo que havia no pátio da delegacia. Aos olhos de muitos, aquilo “era um crime bárbaro, uma atitude irracional, de onde se viu levar as crianças para perto dos presos?”. Criticavam o Zanin a tal modo, que certa vez ele quase esmoreceu. Lembro no dia em que estava de olhos inchados de tanto chorar devido aos ataques virulentos de quem não fazia absolutamente nada. Mas ele continuou até onde pode.

Meu temor é exatamente este, que alguém como Olívio Antoniolli, o Zanin, seja esquecido diante do prevalecimento da informação mentirosa, inverídica e que esforços como o dele sejam manchados em razão da omissão dos que deveriam revirar a história e dar valor aos que merecem. Eu, aqui, faço a minha parte.

Considero interessante isso, alguém ser criticado pelo fato de fazer, construir, se matar de trabalhar para ajudar até quem não conhece. É estranho saber que pessoas assim acabam apanhando de incompetentes e gente que vive da destruição da imagem, ou que é paga para isso. Infelizmente, em nossa sociedade, cujas fissuras são enormes, destruir é mais fácil do que construir. Mas a gente tem que se empenhar para mudar esse tipo de coisa. Não dá mais.

No aspecto empresarial, Zanin se machucou. Saltou de ramo em ramo na tentativa de encontrar um nicho para realizar o sonho de ser feliz, gerar empregos e poder desfrutar das coisas mais simples da vida. Nos momentos mais felizes de seus negócios, no lugar de investir, ele usava o dinheiro em iniciativas que não eram lucrativas, empresarialmente falando, usava em favor do próximo e nunca fez cara feia. Pelo contrário, era difícil encontrá-lo sem o característico sorriso. Era o riso da satisfação, o do papel cumprido.

Gente como Zanin não deve cair no esquecimento. Devemos memoriais a essas pessoas, não os de bronze, pedra em forma de estátua, mas no gesto do reconhecimento e, agradecimento. É esta imaterialidade que mantém viva a memória. Meus profundos e sinceros sentimentos de pesar à nossa cidade. Foi-se mais um grande iguaçuense.