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De novo as ruas

De novo as ruas

Luiz Geraldo Mazza

O PT acha que deve voltar às ruas para neutralizar inclusive a concentração de 16 de agosto que pode até descambar na pregação do impeachment. E apela a uma forçada analogia com situações anteriores, inclusive a do suicídio de Vargas em 1954 querendo comparar a artificiosa República do Galeão, montada em fatores psicossociais pela morte do major Rubens Vaz que fazia a guarda de Carlos Lacerda, com a mais articulada investigação da história brasileira, a da Lava Jato, a propósito das maroteiras público-privadas.

Desprezados os exageros retóricos, essa convocação à rua também houve em 1964 quando do comício das reformas na Central do Brasil e que teve a resposta em forma de um tornado com as marchas com Deus e a família pela liberdade e que se constituíram no sinal para a intervenção militar apoiada pelos Esteites com sua frota nas costas de Pernambuco para qualquer eventualidade.

Foi tão fácil a queda de Jango Goulart que ela se enquadraria no cântico de Vandré, feito com intenções diametralmente opostas, no estribilho de quem ”sabe faz a hora não espera acontecer”. Três anos antes a reação de Brizola, facilitada pela mediação do general Machado Lopes, que procurava evitar uma guerra civil, apenas prorrogou o golpe que fazia parte dos intentos da elite militar que estivera nos campos da Itália e de lá voltou para, em primeiro lugar, derrubar Getúlio Vargas e abrir-se para a democracia liberal que viria com a Carta de 1946 e consolidar a aliança ao Ocidente na Guerra Fria, em nome da qual intervieram contra a ”república sindical”, uma piada perto da que hoje prevalece em todas as instâncias ministeriais, fundos de pensão e até nas chamadas agências reguladoras.

Visivelmente, as ruas não favorecem o governo petista como não ajudaram na defesa de Goulart, cujo ministério, a bem da verdade, foi um dos mais bem constituídos de nossa república (Evandro Lins, Hermes Lima, Santiago Dantas, Eliezer Batista e Celso Furtado). Hoje além da sombria recessão temos para complicar o quadro o protagonismo direto dos presidentes da Câmara e Senado criando dificuldades, na forma de chantagem, contra Dilma Rousseff.

É hora de perda de energia, como se viu na greve ontem dos petroleiros, por uma causa impossível, ao menos no atual momento, a da retomada de investimentos na Petrobras que não terá para fazê-lo sequer os R$ 20 bi levados pela gangue que a assaltou, isso sem falar nos bilhões dos superfaturamentos.