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Como você vota, jovem?

Como você vota, jovem?

Ruan de Sousa Gabriel, Época

Anna, de 17 anos, defende que Lula (PT) possa se candidatar. O ex-presidente, preso em Curitiba, tem o voto dela. Cauê, de 16 anos, concorda quando Jair Bolsonaro (PSL) fala em armar o cidadão como política de segurança pública. Leticia Lima, de 17, defende que é a vez de Marina Silva (Rede) ser presidente. Wadson, de 17 anos, acredita que a possível candidatura de Joaquim Barbosa pelo PSB seja capaz de incorporar um projeto socialista brasileiro.

Lucas, de 16, prefere um Estado que intervenha diretamente na economia para gerar empregos. Ele quer que Ciro Gomes (PDT) seja presidente. “O Ciro tem pulso firme e não seria facilmente manipulado pela oposição, como a Dilma foi”, afirmou, numa lembrança do voluntarismo econômico da ex-presidente, que vivia às turras com o Congresso Nacional. Davi, de 16, julga Geraldo Alckmin (PSDB) um homem “equilibrado” que manterá distância dos extremismos se chegar ao Palácio do Planalto. Lara, de 16 anos, quer votar em Manuela D’Ávila (PCdoB) porque enxerga a deputada estadual gaúcha como a si mesma: uma mulher jovem, feminista e aliada da população LGBT. “Eu me identifiquei. Eu me vi na Manuela.” Felipe, de 17, declara voto em João Amoêdo (Partido Novo), em nome do livre mercado e do combate aos privilégios dos servidores públicos. João Robin, de 17 anos, confia que Alvaro Dias (Podemos) será capaz de refundar a República. Leticia Bispo, de 17 anos, vota em Guilherme Boulos (PSOL) como repúdio ao capitalismo. “Não quero nenhuma política de conciliação de classes, como propõem os outros candidatos”, disse.

Daniela, de 16 anos incompletos, impressionou-se com a destreza de Rodrigo Maia (DEM), “um político jovem dos mais atuantes”. Henrique, de 17 anos, quer um presidente versado em economia e que não tema tomar medidas impopulares. O candidato dele é o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que pode ser candidato pelo MDB. Maria Fernanda, de 17 anos, também quer um presidente liberal, mas prefere Flavio Rocha (PRB).

Nas últimas semanas, ÉPOCA conversou com jovens de 15 a 17 anos sobre o Brasil que eles querem — e sobre quem, na opinião deles, é mais competente para guiar o país rumo a um futuro que hoje parece distante e incerto. A reportagem visitou colégios em São Paulo e abordou militantes e dirigentes partidários e de movimentos sociais à procura de jovens ávidos por participar do jogo democrático. Conversou com mais de três dezenas de jovens eleitores — convictos e indecisos — sobre o próximo pleito presidencial. Questionou-os sobre sua formação política, sobre como se informam, se são influenciados por familiares e amigos, e ouviu suas preocupações e seus sonhos para o futuro — deles e do país. Desses jovens, 13 apoiadores dos principais pré-candidatos explicam, nas próximas páginas, como e por que votam.

Eleitores de Ciro Gomes, Manuela D’Ávila, Lula e Jair Bolsonaro foram os mais encontrados. Manuela é mais popular entre as meninas; Ciro e Bolsonaro levam os votos dos meninos. ÉPOCA entrevistou quatro jovens eleitores de Bolsonaro — todos meninos —, mas apenas um deles concordou em ser fotografado e justificar seu voto nas páginas da revista. Algumas mães, também de adolescentes que não foram entrevistados, disseram discordar da opção dos filhos por Bolsonaro. Um desses jovens disse que ele e seus amigos preferiam não dar apoio público a Bolsonaro devido ao controverso discurso do deputado carioca, que inclui a defesa de cidadãos armados e investidas contra os direitos da população LGBT. “A dificuldade de achar alguém para aparecer publicamente falando por que curte o Bolsonaro já diz muita coisa. Existe uma pressão sobre quem o apoia. É uma maioria silenciosa”, afirmou o jovem eleitor, recorrendo a uma expressão antes usada para descrever o eleitorado de Donald Trump. “A maioria de meus amigos e minhas amigas apoia o Bolsonaro, mesmo fazendo muito menos barulho do que a galera que discorda dele.” Bolsonaro mantém um sólido segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto — 15%, segundo o Datafolha. Nos cenários em que Lula é impedido de concorrer, Bolsonaro tem 17%, empatado tecnicamente com Marina Silva. “O voto no Bolsonaro é um voto envergonhado”, disse a ÉPOCA o psicanalista Jorge Forbes, que teve acesso aos depoimentos dos jovens eleitores. “As pessoas esperam votar no Bolsonaro e só revelar que votaram nele depois que der certo. O Bolsonaro agride todos os avanços do laço social da pós-modernidade.”

Em quarto lugar nas pesquisas está Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e recém-filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). Barbosa tem 8% das intenções de voto, mas não foi fácil encontrar um eleitor seu entre jovens de 16 e 17. O recorte etário e as disputas internas do PSB paulista esclarecem por que identificar um eleitor juvenil de Barbosa não é tarefa fácil. Barbosa ganhou notoriedade nacional em 2012, quando presidiu, no STF, o julgamento do mensalão, o maior escândalo de corrupção do governo petista, e mandou líderes históricos do PT para a cadeia. Barbosa alcançou um prestígio similar ao que hoje goza o juiz Sergio Moro, ganhou fama de paladino da ética, inimigo da corrupção e candidato competitivo ao Planalto. Barbosa, porém, jogou a toga em 2014 e se manteve longe dos olhos do público. Quem vai votar pela primeira vez nesta eleição tinha entre 10 e 12 anos quando Barbosa era um nome comentado em toda casa brasileira e aparecia, noite após noite, no Jornal Nacional. A ÉPOCA, alguns jovens eleitores disseram que seus pais veem com bons olhos a candidatura de Barbosa, mas que eles próprios mal sabem o que foi o julgamento do mensalão.

Barbosa também não é unanimidade dentro do PSB. Apesar de defendida pelo presidente do partido, o pernambucano Carlos Siqueira, a candidatura de Barbosa ainda não convenceu os socialistas paulistas, aliados de Geraldo Alckmin (PSDB). Mesmo a Juventude Socialista Brasileira (JSB) paulista ainda titubeia sobre apoiar Barbosa ou fechar com Alckmin, o pré-candidato tucano, opção defendida por Márcio França, governador de São Paulo e candidato à reeleição. Wadson Uchoa, paranaense e eleitor de Barbosa, quer votar no ex-ministro porque ele abraçou o programa de governo do PSB, não só por seus méritos individuais. “Ele encampou um projeto no qual acredito”, disse. “E sei que ele tem capacidade de executá-lo.” O MDB vive uma indefinição semelhante. O partido tem dois pré-candidatos: o presidente Michel Temer e o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. ÉPOCA encontrou dois eleitores de Meirelles e um de Temer. Ambos os pré-candidatos têm 1% das intenções de voto. “Sou realista, sei que é improvável que meu candidato ganhe, mas é importante que eu exerça minha cidadania”, afirmou Henrique Alberti, eleitor de Henrique Meirelles. A mãe do eleitor de Temer não autorizou que o filho tornasse público seu voto.

Nenhum dos jovens ouvidos por ÉPOCA é obrigado a votar. Todos tiraram o título de eleitor por convicção democrática. Apesar do desarranjo político nacional e da indefinição das candidaturas à Presidência (o prazo final para o registro das chapas é 15 de agosto), todos os ouvidos defendem seus candidatos com fervor e encaram as eleições como uma oportunidade de exercer uma cidadania ativa e responsável. “A participação dos jovens é fundamental para a consolidação da democracia brasileira, pois possibilita a renovação de ideias e, consequentemente, uma maior renovação na representação política, de modo a melhor atender às demandas sociais”, afirmou a ÉPOCA Admar Gonzaga Neto, ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “As ideias e energia da juventude são cruciais para fiscalizar a atuação dos partidos e dos políticos e são decisivas para a transformação democrática da realidade brasileira.” No Brasil, todo cidadão maior de 18 e menor de 70 anos é obrigado a votar. O voto é facultativo para idosos com mais de 70 anos e jovens que têm entre 16 e 18 anos. Quem ainda tem 15 mas completará 16 anos antes do primeiro turno das eleições (7 de outubro) já está apto a tirar o título de eleitor — o prazo termina na quarta-feira dia 9.;