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Diretor-geral do Hospital Sírio-Libanês, o médico cirurgião Paulo Chapchap, 65 anos, foi chamado para uma grande missão nesta pandemia: alocar de forma eficiente o R$ 1 bilhão que o Itaú Unibanco doou para apoiar o Sistema Único de Saúde (SUS) no combate à Covid-19. As informações são de Mariana Barbosa n’O Globo.

Em duas semanas, a equipe comandada por Chapchap — que inclui, entre outros, os médicos Drauzio Varella e Sidney Klajner (do Hospital Albert Einstein) — já colhe alguns resultados: a instalação de gabinetes de crise em quase todos os estados, com painéis de controle para acompanhamento em tempo real da demanda por leitos e equipamentos, além da doação de milhares de equipamentos de proteção individual.

A iniciativa, batizada de Todos pela Saúde, também começou a atrair novos doadores e já levantou mais R$ 10 milhões. Em entrevista ao GLOBO, Chapchap defendeu o uso da infraestrutura privada para complementar a do SUS e disse que a melhor arma que temos hoje para enfrentar a pandemia é a prevenção, incluindo o uso obrigatório de máscaras pela população. Leia abaixo:

R$ 1 bilhão é muito dinheiro, mas uma gota diante do orçamento de R$ 240 bilhões do SUS. Qual a principal urgência do SUS hoje e como vocês podem contribuir?
Um dos nossos pilares de atuação, e talvez o mais importante, é o de informar. Se as pessoas não se conscientizarem da gravidade da pandemia e da responsabilidade que cada um tem de se proteger e aos outros, não há sistema de saúde do mundo que dê conta da sobrecarga. Estamos vendo a situação de calamidade onde não conseguimos fazer essa proteção. A prevenção é o melhor caminho.

E como conscientizar quando temos governantes que agem de forma contraditória?
Não tenho dúvida de que mensagens ambíguas, num projeto que por si só já é muito difícil, prejudicam bem. O uso de máscaras em ambiente coletivo é uma das coisas mais importantes para enfrentar a crise. Você não está só se protegendo. Está protegendo o outro. Aí entra a responsabilidade do Estado de proteger a todos.

A máscara deve ser obrigatória?
Algumas cidades instituíram, mas estou estranhando que não seja ainda uma política nacional. Tem que ser obrigatório. É para proteger nossa vida, como cinto de segurança. Não vai ser para sempre. Todas as pandemias acabaram.

Essa ainda vai demorar?
Tem duas possibilidades para a gente sair dessa: um remédio ou uma combinação de remédios que sejam realmente efetivos para destruir o vírus, e uma vacina. Elas se somam. Se você descobrir um remédio muito bom, você encurta o período de testagem da vacina.

Vocês estão recebendo muitos pedidos de estados e municípios?
Sim, e estamos doando em grande quantidade. Atuamos sempre em parceria com o ente público. Ninguém sozinho consegue suprir toda a necessidade. Já doamos 77 milhões de máscaras cirúrgicas, 2,3 milhões de máscaras N95, 190 ventiladores mecânicos, 50 mil óculos, além de luvas e aventais, tentando enviar o mais rápido possível.

Vocês estão ajudando em Manaus, que vive hoje uma situação dramática?
Estamos com uma equipe de TI do Itaú Unibanco montando painéis de controle para que a secretaria enxergue a evolução da demanda de leitos, ventiladores, EPIs e equipes, agilizando a tomada de decisão.

A situação de Manaus vai se repetir em outras localidades do país?
Infelizmente, vai. O que Manaus está vivendo, e outras capitais como Fortaleza e Recife estão muito perto, é reflexo do passado. Não tem como reverter. As pessoas não se dão conta de que o comportamento de hoje só vai se refletir em internações daqui a duas ou três semanas. E resultar em mortes daqui a três ou quatro.

O novo Ministro da Saúde, Nelson Teich, declarou que o Brasil “é um dos países que melhor performa em relação à Covid”. Estamos indo bem?
Depende do lugar. Até agora, não sei se há razão para ser otimista, mas São Paulo tem conseguido achatar a curva. Quando a gente compara a evolução desde a primeira perda e compara o estado com outras regiões onde ela foi mais crítica, como o Norte da Itália, Espanha ou Nova York, a inclinação da nossa curva é um pouco mais benigna. Mas tenho medo de afirmar isso e as pessoas relaxarem.

Não dá pra baixar a guarda?
Não dá. Essa coisa de ir para shopping desprotegido não pode. A proteção é a máscara, tem que levar álcool gel. Não pode dar abraço e beijo.

Mas pode sair, desde que protegido?
Eu não sairia agora. Mas, se sair, tem que ser de máscara. A última coisa que eu abriria são os bares e restaurantes, pois, para comer, tem que tirar a máscara. Ainda não vencemos a pandemia. A crise é longa e a gente tem que se conformar com isso. Acho que vai haver abertura progressiva, racional, baseada em dados. Mas tem que começar pelas populações menos vulneráveis. Aí, espera duas ou três semanas para ver se pode avançar mais uma etapa.

A testagem em massa pode ajudar a flexibilizar o isolamento?
Os testes são importantes para monitorar, isolar quem está infectado e, com isso, ajudar a controlar o avanço da doença. Mas seria impossível testar todo mundo a cada três dias. Ninguém fez isso. A Coreia do Sul testou só 9% da população. Com um programa de testagem rápida em larga escala, posso ficar testando a população e planejar uma retomada da força de trabalho. Mas a população positiva hoje ainda deve ser baixa. O ideal é esperar para começar essa testagem mais pra frente. E aí também teremos testes com mais sensibilidade, permitindo que a testagem seja mais eficiente. Mas tem um complicador. Será que quem tem anticorpos está imune? Provavelmente, mas ainda não temos certeza absoluta.

O Conselho Nacional de Saúde defende uma fila única para os leitos de UTI. Qual a posição do Todos pela Saúde?
Numa situação de calamidade, todos os leitos devem ser usados. Defendo que o governo faça um chamamento público para contratualizar e formar uma base muito maior, antecipando-se a essa necessidade. Tenho certeza de que os hospitais privados vão responder ao chamado, se o custos forem cobertos.

Como está a taxa de ocupação no Sírio-Libanês?
Antes da pandemia, a gente trabalhava com 85% de ocupação. Hoje é 50 e poucos por cento. Pode usar esses leitos? Claro que pode. A gente teve uma curva bem achatada em São Paulo. Já foi melhor. Teve um pico inicial, depois uma diminuição e agora está começando a subir lentamente de novo. Se a gente tiver um pico grande, vai ser uma contaminação geral. Nossas classe sociais não são tão apartadas assim. Por isso, insisto, se for afrouxar o isolamento, tem que ser de forma inteligente, mantendo algumas medidas fundamentais de proteção. Caso contrário, todos os sistemas, suplementar e público, vão se esgotar.