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Avança o processo de atualização tecnológica da Itaipu

Abertura da etapa de pré-qualificação das empresas e consórcios interessados em participar do trabalho marca nova etapa do processo

A Itaipu Binacional obteve, nessa quarta-feira (24), mais um importante avanço no processo de atualização tecnológica da hidrelétrica, com a abertura da etapa de pré-qualificação das empresas e consórcios interessados em participar do trabalho.

A pré-qualificação consiste de apresentação de documentações que comprovem a habilitação técnica, fiscal, jurídica e financeira das empresas. Somente as habilitadas em cada lote poderão seguir para a próxima fase.

No total, 140 empresas adquiriram o caderno de bases e condições – 100 brasileiras e 40 paraguaias. Destas, 21 efetivamente se apresentaram, de forma isolada ou em consórcio, e entregaram a documentação para a habilitação.

Agora, a documentação será submetida à análise de uma comissão binacional específica, que definirá as empresas habilitadas até o dia 14 de dezembro, data da última reunião do Conselho de Administração da Itaipu em 2018.

As empresas pré-qualificadas apresentarão as propostas comerciais sob as regras do edital da segunda fase, a de execução, que deve ser publicado entre fevereiro e março de 2019.

O processo de licitação foi dividido em três lotes: o de número um, voltado às empresas e consórcios estabelecidos no Brasil, e os de números dois e três, para os estabelecidos no Paraguai. As vencedoras de cada lote irão formar um consórcio sob liderança do vencedor do lote um. O contrato será assinado com o consórcio das empresas vencedoras.

O investimento estimado é de US$ 660 milhões para todo o processo, que deve ser concluído em aproximadamente 14 anos. “Entendemos que a concorrência da fase dois, a de execução, permitirá que as empresas apresentem propostas com valores inferiores ao limite estabelecido, o que é normal em uma competição desta natureza”, afirma o superintendente adjunto de Engenharia da Itaipu, Jorge Habib.

Quem participa

Para o lote um (exclusivamente para empresas sediadas no Brasil), responsável pelo fornecimento de sistemas, equipamentos, materiais e serviços, se apresentaram o Consórcio para Atualização Tecnológica de Itaipu (Cati), integrado pela Voith Hydro Ltda, Siemens Ltda e Tractebel Engenharia Ltda; Consórcio GE, formado pela GE Energias Renováveis Ltda e Grid Solutions Ltda; Consórcio Andritz-ABB, integrado pelas empresas Andritz Hidro Ltda e ABB Ltda; e Emerson Automation Solutions.

Para o lote dois (apenas para empresas localizadas no Paraguai), responsável pelo fornecimento de materiais e equipamentos para os serviços auxiliares gerais, se apresentaram o Consorcio Alto Paraná Ingenieros Consultores Industriales SA, associado à Constructec Ingeniería y Proyectos y Montajes SRL; Consorcio Proel Ingeniería-Ingelmec SRL; e as empresas Concret Mix SA e Carina Núñez Godoy; Ingelectro SRL; Intech SRL; e Tecnoedil SA.

Para o lote três (apenas para empresas paraguaias), responsável pelos serviços de desmontagem e montagem eletromecânica correspondente a todos os sistemas e equipamentos fornecidos para os lotes um e dois, apresentaram documentação as empresas Tecno Electric SA; Rieder & CIA; y Consorcio de Ingeniería CIE SA.

Gigante renovada

A Itaipu Binacional é a hidrelétrica que mais gera energia no planeta, com sucessivos recordes mundiais de produção anual. O atual é de 2016, com 103.098.366 Megawatts/hora (103,1 milhões de MWh). Desde 1984, quando começou a gerar energia, a usina brasileira e paraguaia já produziu 2,6 bilhões de MWh – o suficiente para abastecer o mundo todo por 41 dias.

Eleita uma das maravilhas da engenharia moderna, Itaipu foi construída com tecnologia de ponta. Trata-se, porém, de tecnologia eletromecânica da década de 1970. No início dos anos 2000, esses equipamentos ganharam uma “camada” mais moderna, com o Sistema Digital de Supervisão e Controle (SCADA) e o Sistema de gerenciamento de energia (EMS), dando início ao processo de digitalização da usina.

As unidades U9A e U18A, implantadas entre 2004 e 2006, também utilizam tecnologia digital de controle. Modernizações parciais de equipamentos e sistemas foram sendo feitas ao longo dos anos, mas sempre de forma pontual. Agora, a binacional quer dar um passo além, com a substituição completa de equipamentos e sistemas analógicos por equivalentes digitais, que agreguem novas informações e funcionalidades.

Para essa atualização, uma equipe multidisciplinar composta por engenheiros brasileiros e paraguaios da própria usina vem coordenando com as demais áreas da empresa diversos estudos ao longo dos últimos anos. Uma etapa inicial, realizada entre os anos de 2003 e 2008, promoveu a avaliação dos ativos da hidrelétrica, ou seja, em que estado da vida útil se encontram todos os equipamentos.

A excelência do programa de manutenção da Itaipu permitiu que a vida útil estimada dos equipamentos fosse estendida por um período maior que o preconizado pelas normas, mas muitos componentes não são mais fabricados e hoje são mantidos ou recuperados pelos laboratórios da binacional.

As unidades geradoras em si estão em excelentes condições e não fazem parte do escopo da atualização neste momento. O foco do projeto está nos sistemas de controle, proteção, supervisão, regulação, excitação e monitoramento das unidades geradoras e subestações, como placas de circuitos, sensores e medidores, entre outros, que estão espalhados por vários quilômetros ao longo da casa de força, barragem, subestações e vertedouro.

Mais do que simplesmente substituir, porém, o plano é repensar funcionalidades e processos, além de permitir uma leitura mais detalhada das unidades geradoras. De uma forma bem simplificada, é possível fazer uma analogia com um carro: antigamente, o painel do automóvel fornecia somente algumas informações, como a quantidade de combustível, temperatura do motor e óleo. Hoje, indica uma série de dados, como autonomia, consumo médio e diagnóstico de partes importantes do motor, entre outros.

Na prática

A primeira etapa tem duração prevista de quatro anos e abrange a elaboração dos projetos executivos, fabricação, testes em fábricas, modernização dos sistemas das salas de controle e ensaios locais, para só então avançar para a próxima fase: a parada das unidades geradoras. Cada unidade que passar pelo processo precisará ficar parada enquanto for atualizada.

A expectativa da Itaipu é atualizar os sistemas de duas unidades geradoras por ano. Como são 20 unidades, a estimativa é que esta fase seja executada em dez anos. Com a experiência acumulada com cada unidade atualizada, porém, é possível que o andamento do projeto acelere com o passar do tempo. Desta forma, o projeto de atualização tecnológica mobilizará esforços por aproximadamente 14 anos no total.

Futuro

Atualizar tecnologicamente uma usina do porte da Itaipu Binacional é uma atividade complexa e desafiadora, que tem exigido um acompanhamento estratégico de diretores e conselheiros da empresa.

Mas o esforço e investimento valem a pena: o objetivo final de todo o projeto é garantir que os equipamentos da usina mantenham sua confiabilidade e seja assegurada a continuidade do alto desempenho da hidrelétrica nas próximas décadas, com reflexos inclusive na economia dos dois países sócios do empreendimento. Quanto maior for a produção de hidrelétricas como a Itaipu, por exemplo, menor é o risco de Brasil e Paraguai precisarem recorrer ao uso de termoelétricas, cuja energia é mais cara e poluente.

Segundo o diretor-geral brasileiro, Marcos Stamm, trata-se de um esforço fundamental para a sustentabilidade da geração nas próximas décadas, em patamares parecidos ou até melhores que os de hoje. “Estudamos alternativas não só para melhorar as nossas instalações por meio da atualização tecnológica, mas também para alcançar melhores marcas de produção de energia”, diz.

Para o diretor técnico executivo, Mauro Corbellini, a modernização da Itaipu integra o rol de grandes desafios do setor elétrico atualmente. “Vejo com importância nossa participação [da Itaipu] na construção de um setor elétrico mais dinâmico e aberto, no qual possamos garantir o retorno de grandes investimentos”, afirma.

Foto: Alexandre Marchetti