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Ao criticar Dilma, PMDB não vai indicar ministros

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Insatisfeita com o espaço reservado por Dilma Rousseff (PT) na reforma ministerial, a bancada do PMDB na Câmara dos Deputados fez fortes críticas à presidente e divulgou nota afirmando que não pretende indicar os substitutos para os dois ministérios hoje sob sua influência –Turismo e Agricultura. As informações são da Folha de S. Paulo.

Embora nos microfones a decisão tenha sido anunciada sob o argumento de que o partido não quer mais ter sua imagem vinculada à disputa de cargos federais, nos bastidores o objetivo é tentar colocar o Planalto contra a parede e conseguir melhor resultado na queda de braço por mais espaço na Esplanada.

Um rompimento traria um problema para o Planalto, já que o PMDB na Câmara é o maior partido aliado ao PT na coalizão dilmista, além de possuir representação significativa na convenção que decidirá o apoio à reeleição da presidente.

A ameaça de rebelião foi encampada pelo próprio presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN): “O PMDB vai continuar com o governo, mas não indicará nomes, deixando a presidente livre para compor da melhor maneira. As negociações não estão sendo bem conduzidas. As conversas provocaram distorções. Essa exposição de cargos para cá, cargos para lá, não foi bem costurada e está expondo o partido”, disse.

A nota divulgada pela bancada após a reunião de cerca de três horas –realizada a portas fechadas em um dos plenários da Câmara– também diz que o apoio ao governo está mantido, mas deixa clara a insatisfação ao “deixar a presidente à vontade para contemplar outros partidos em função das suas conveniências políticas e/ou eleitorais”.

A relação entre o PMDB e o governo do PT sempre foi permeada por ameaças de rebeliões no Congresso –em alguns casos cumpridas– devido à pressão por mais espaço na Esplanada. Na atual reforma, o partido pretendia, além de indicar os novos nomes para o Turismo e a Agricultura (os atuais titulares irão deixar os cargos para disputar as eleições), ganhar outro ministério.

Mas Dilma ofereceu, na última rodada de negociações, indicar mais um ministério para o PMDB do Senado, com Eunício Oliveira na Integração Nacional, o que foi rejeitado pelo partido.

Na reunião desta quarta-feira, sobraram críticas também para o vice-presidente Michel Temer e para o presidente da sigla, o senador Valdir Raupp. “Querem transformar o presidente do PMDB na rainha da Inglaterra”, afirmou o deputado Leonardo Piccianni (PMDB-RJ) em uma das falas que puderam ser ouvidas do lado de fora da reunião.

Danilo Forte (PMDB-CE) foi outro que criticou o governo: “A aliança hoje do ponto de vista político traz muito mais prejuízo parra a imagem do PMDB”, afirmou. Na saída, disse que o PMDB não rompe com Dilma por causa de Temer. “O PMDB está no governo, ninguém pode enforcar o Michel Temer.”

O líder da bancada, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ironizou o clima da reunião, na saída, dizendo que teve que agir como “bombeiro” para evitar uma nota em tom mais acirrado. Cunha é visto pelo governo como um dos integrantes do PMDB mais críticos a Dilma.

A tensão da reunião pode ser vista do lado de fora (as portas do plenário em que ela ocorreu são de vidro) em vários momentos. Em um deles, os deputados encontraram um gravador escondido dentro da sala da reunião e, sem que o dono se apresentasse, o destruíram ao meio.