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Aldo Rebelo: Só os ricos vão ao estádio

(*) Aldo Rebelo

Um problema a merecer atenção é o dos custos excessivos do esporte. Se foi um avanço extraordinário acabar com a exclusividade do amadorismo nos Jogos Olímpicos, pois somente os atletas ricos podiam custear as competições, hoje os custos de preparação são altíssimos e proibitivos à grande massa de postulantes. No Brasil, nem os clubes nem as federações conseguem bancar a formação de equipes. A maioria dos que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro aplica no futebol de 58% a 122% da receita, em boa parte gerada pela tevê, e não sobra centavo para outros esportes. Fica para o Estado um papel que deveria ser supletivo, mas termina sendo de protagonismo na habilitação de atletas de alto rendimento.

Gesta-se, assim, um neomalthusianismo de novo tipo, que seleciona pela renda; um darwinismo financeiro em que vence não o atleta mais apto, e sim o mais abastado. A ofensiva excludente estende-se, agora, aos estádios de futebol. A bilheteria das novas e belas arenas multiuso, reformadas ou construídas para as Copas das Confederações e do Mundo, elitiza o público. O torcedor menos favorecido perdeu, em exemplo eloquente, o espaço democrático da antiga geral, onde o ingresso era mais barato. Recentemente, um jogo tinha entradas a R$ 400 e a mais barata a R$ 160.

Só alguns milhares de privilegiados podem pagar os valores excessivos cobrados por um jogo de futebol. A indicar que nos estádios privados parece haver mais atenção com o problema, o Grêmio quer restabelecer, atrás dos gols de sua soberba arena de 60.540 lugares, uma área sem cadeiras onde o ingresso será mais barato. Os preços para jogos recentes da Libertadores foram reduzidos, embora os ingressos “populares” tenham custado R$ 80, ainda muito caros – mais que os R$ 50 cobrados para uma apresentação de Roberto Carlos na arena gaúcha.

A questão é se equipamentos construídos com apoio público, mas administrados pela gestão privada do futebol, devem cobrar preços da ópera de Londres. É de se estudar que ao menos 10% dos ingressos possam ir para o torcedor que não seja rico, equilibrando-se a receita com os mais caros. Num estádio de 60 mil lugares, 6 mil poderiam ser vendidos a “preços populares”. Já temos um belo precedente a comemorar. O Ministério do Esporte conseguiu da Fifa uma novidade para a Copa do Mundo, que tradicionalmente tem ingressos mais caros: no Brasil, pobres e índios terão direito a uma cota de entradas gratuitas.

 

(*) Aldo Rebelo é ministro do Esporte.

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