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Acordo com UE beneficiará campo e indústria no Paraná

Paranaguá- PR- Brasil- 27/01/2015- Com o crescimento nas previsões da safra de grãos e a manutenção do câmbio favorável para as exportações, o embarque de soja pelo Porto de Paranaguá deve ser 6% maior em 2015 em relação ao ano passado. Segundo a estimativa, os embarques com o grão podem ultrapassar as 7,9 milhões de toneladas ao longo de todo o ano. Foto: Fabio Scremin/APPA

 

O Paraná está entre os estados que tendem a se beneficiar mais pelo acordo de livre comércio entre Mercosul e UE (União Europeia), devido ao perfil do setor produtivo local. Na indústria, os segmentos de alimentos, móveis, madeira, têxteis e vestuário serão os principais candidatos a ganhar novos clientes do outro lado do Atlântico, enquanto, na agropecuária, as vantagens aparecerão em praticamente todas as atividades. Os riscos ficarão para as fábricas eletrometalmecânicas e para produtores de leite e derivados, principalmente. As informações são da Folha de Londrina.

O primeiro produto exportado com as novas regras deve entrar no cargueiro daqui a dois ou três anos. O governo federal tem tornado público, aos poucos, mais informações sobre o resumo do acordo anunciado no dia 28 de junho, em Bruxelas, Bélgica. De forma geral, os analistas de mercado e representantes de entidades ligadas à indústria e ao agronegócio ouvidos pela FOLHA consideram que a melhor decisão é sempre a de estabelecer livre comércio com o maior número de países e blocos. O porém fica para algumas cláusulas que permitem fechar a porta à entrada de produtos brasileiros por lá, por exemplo, em caso de desrespeito a outros acordos como os ambientais.

O economista da Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) Luiz Eliezer Ferreira afirma que a UE importava 51% dos produtos do agronegócio exportados pelo Brasil em 1997, índice que caiu para 15% em 2018. Em relação ao Paraná, a retração nesses 21 anos foi de 22% para 10%. “Não é que os europeus importam menos, mas que outros países ganharam representatividade. No Paraná, a análise é a mesma, ainda que o volume tenha diminuído e o valor tenha ficado o mesmo.”

Ele vê o acordo com otimismo, mas é reticente sobre o impacto em curto prazo. Isso porque a abertura não é generalizada, já que cotas para alguns produtos são até mesmo inferiores às importações europeias no ano passado. É o caso da carne bovina, que tem cota de 99 mil toneladas (t), mais 10 mil na cota Hilton (de alta qualidade). A soma de ambos fica aquém das 114,9 mil t embarcadas somente a partir do Brasil para lá em 2018, segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes). O mesmo ocorre com o frango, com cota de 180 mil t para o Mercosul e exportações brasileiras à Europa de 263 mil t em 2018. Os números foram divulgados pela Scott Consultoria.

“A UE vai zerar as tarifas e cotas mais rapidamente do que o Mercosul, então teremos um certo tempo para nos adaptarmos”, diz o economista da Faep. Entretanto, ele lembra que se trata de um desafio e que o próprio porta-voz da OMC (Organização Mundial do Comércio), Keith Rockwell, considerou “corajosa” a adesão dos países sul-americanos do bloco.

Ferreira cita que a cota para o açúcar agrada, porque serão 180 mil t com cota zero imediatamente após a assinatura do acordo. “O Brasil exportou apenas 59 mil t em 2018 porque existe uma taxa de 98 euros por tonelada de açúcar. Temos capacidade de aumentar”, diz. Frutas, café torrado, peixes e óleos vegetais são outros produtos nos quais o Paraná será competitivo.

DESAFIO
Para o presidente da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Edson Campagnolo, muitas indústrias de automóveis e do agronegócio paranaenses têm matrizes na Europa. “Essas serão as primeiras beneficiadas, porque os componentes que fazem parte dos veículos brasileiros são importados e os preços vão cair. Até o carro vendido aqui ficará mais competitivo para outros mercados.”

Campagnolo reconhece dificuldades como o custo de insumos energéticos e a necessidade de melhorar a infraestrutura de logística, mas enxerga mais oportunidades. “Fica mais fácil criar joint ventures [união de empresas para objetivo específico], transferir tecnologia e obter informações sobre mercados”, sugere.

A soma da capacidade de consumo impressiona. Segundo estudo da analista de mercado Letícia Vecchi, da Scott Consultoria, os dois blocos somam 25% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial, 800 milhões de consumidores e receita US$ 125 bilhões maior em 15 anos para a economia brasileira. Vecchi cita que 91% dos produtos exportados pela UE ao Mercosul e 92% dos que fazem a trajetória contrária serão isentos de tarifas em uma década após a assinatura.

AGRONEGÓCIO
O consultor econômico da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), Marcos Rambalducci, afirma que o Paraná tem hoje uma corrente de comércio internacional que representa 25,8% do PIB, mas que pode chegar facilmente a 38%. “O setor que terá grandes benefícios com o acordo é o agronegócio e nossa pauta de exportação está calcada em produtos agropecuários, como carne de frango, soja triturada e em grãos. Já as indústrias mais privilegiadas serão a têxtil e de vestuário e a madeireira.”

Rambalducci, que também é professor da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), afirma que os fabricantes de roupas e moda sofrem com a concorrência chinesa, mas são muito mais competitivos em preço do que os europeus. “A primeira coisa é entender a demanda europeia, que é muito mais exigente. É preciso que a indústria têxtil se adeque a esse padrão de consumo e adapte o parque fabril.”

Outra atividade com horizonte otimista para o consultor da Acil é a indústria moveleira, forte na Região Metropolitana de Londrina. “A indústria da região de Arapongas exporta fundamentalmente para o Mercosul e para alguns países da África, mas temos dificuldade de entrar na Europa. Agora esse mercado começa a fazer sentido para nós, ainda que o móvel que fazemos talvez não seja o mais adequado para o que eles consomem”, cita Rambalducci.

O problema é a concorrência nos segmentos de eletrometalmecânica. “São segmentos que vão precisar se adequar a uma nova realidade e que precisarão aproveitar a possibilidade de aquisição dos maquinários mais avançados que existem por lá”, diz Rambalducci. “Os manufaturados de maior tecnologias serão os mais impactados e existe risco também para químicos”, alerta Campagnolo.

Economista alerta sobre pressões de europeus ao agro
Ex-presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) no Estado e professor de economia na UFPR (Universidade Federal do Paraná), Eugenio Stefanelo alerta que a pressão europeia sobre o agronegócio ainda será grande, mesmo depois do acordo assinado com o Mercosul. “Devemos manter nossa autonomia, sem abrir mão da preservação ambiental como pilar do nosso crescimento sustentável, mas é preciso entender que, no agronegócio, a abertura deles para a gente é menor do que a nossa para eles.”

Ele critica o Princípio de Precaução, que permite que um país rejeite a importação de um produto ao citar riscos à saúde do consumidor, mas também ao desrespeito ao desenvolvimento sustentável e à segurança ou saúde do trabalhador. “Um estudo mostrou que a média nos 36 países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] é de 20% da receita do agronegócio em subsídio e, no Brasil, são 3%. E a nossa legislação ambiental é uma das mais protecionistas do mundo e não tem um país da Europa, ou os Estados Unidos e Japão, que se enquadrariam hoje”, sugere.

A cláusula de precaução é comum em negociações da União Europeia, mas o Mercosul conseguiu incluir um artigo que exige a comprovação científica de eventuais acusações. Mesmo assim, o presidente francês, Emmanuel Macron, questionou o texto no último dia 10 em três pontos e prometeu endurecer a discussão. A principal é justamente que se cumpra as condições ambientais do Acordo de Paris, do qual o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, já ameaçou abandonar. Ainda, o coro de ambientalistas no País sobre riscos de desmatamento no país engrossou desde janeiro.

Outros dois pontos são a defesa de normas sanitárias europeias aos exportadores e dúvidas sobre os riscos para agricultores da França em atividades como pecuária e açúcar. “O acordo é extremamente importante, deve ser feito, mas não podemos fechar os olhos para o fato de que eles tentam botar freios na nossa autonomia e no nosso desenvolvimento, que precisa ser sustentável”, diz Stefanelo. “Não é hora de soltar foguetes, mas de a diplomacia brasileira trabalhar muito para mostrar que algumas demandas deles não procedem”, completa. (F.G.)

O acordo entre Mercosul e UE (União Europeia) ameaça pequenos produtores brasileiros de leite, queijo e derivados, além de vinicultores. O motivo é que a produção é muito competitiva com produtos de quase todo o globo e que devem passar a entrar nos países do bloco sul-americano até 30% mais baratos.

Se representa uma vantagem para o consumidor, o mesmo não se pode dizer dos produtores. É justamente em vinhos, leite e derivados como o queijo, chocolate e produtos do cacau, além de alho, que o Mapa considera como “áreas sensíveis” ou “concessões” feitas pelo Mercosul à UE.

Para tentar criar formas de dar condição para os brasileiros sobreviverem nesses mercados, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) tem anunciado medidas de competitividade.  Aos vinicultores, sugeriu o uso de recursos do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para modernização da forma de produção. Não está claro se será o bastante. Da mesma forma, a ministra Tereza Cristina afirmou que há estudos para isentar a importação de maquinário para o segmento leiteiro.

Outro ponto é a proteção imposta pela UE para denominações e indicações geográficas. O Mercosul concedeu proteção a 356 itens do velho continente, com algumas negociações. As denominações conhaque e prosecco poderão ser usadas por aqui por sete e 12 anos, respectivamente, e então terão de mudar de nomes, em mecanismo chamado de phase out (ou descontinuação). Os queijos parmesão e gorgonzola de marcas registradas até 2017 permanecerão com os nomes, em princípio chamado grandfather (ou avô), que carrega o sentido de descendência de produtores antigos que usam o mesmo método de produção. Contudo, os criados após a data terão de adotar outras formas de batismo.

O acordo prevê também a proteção de produtos com indicação geográfica, que é dividida entre indicação de procedência e denominação de origem. São 36 itens agroalimentares brasileiros reconhecidos, como cachaças, cafés especiais, queijos e frutas. Entre os produtos paranaenses nessa condição estão o café do Norte Pioneiro, a erva-mate de São Matheus, a goiaba de Carlópolis, o mel de Ortigueira, o mel do Oeste do Paraná e as uvas finas de mesa de Marialva. (F.G./Com Agência Estado)